segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CASACA-DE-COURO

CASACA-DE-COURO
(Clerisvaldo B. Chagas, 21 de fevereiro de 2011).

       Não tem como ficarmos indiferente ao fracassado futebol alagoano. Lembro sim dos tempos das exacerbadas paixões pelos dois clubes que faziam Maceió dividir-se. Levei para a capital a minha força e amor pelo Ipanema, forçado a esquecer do seu brilho do final dos anos cinquenta. Como Alagoas era marcado pela tradição do folclore do pastoril, dividia-se em azul e encarnado. Assim nasceram as cores dos dois times tradicionais da capital CSA e CRB. Estádio Rei Pelé inaugurado, construído com muito sacrifício, penalizando o funcionário público, lá íamos nós ao campo da Rua Siqueira Campos. Em república de estudante, as brincadeiras em dia de clássico mostravam-se bem movimentadas. Tempo do radinho portátil marca Sharp, potente, charmoso, protegido por uma bela capa de couro desenhado, sonho de consumo como o televisor de hoje. Quando o colega chegava do jogo, encontrava o placar zombador da derrota ao desvirar o prato do jantar. Longe de casa comecei a torcer pelo time azul, como do azul eram os meus pais. Cansado de tantos fracassos do futebol alagoano nas competições maiores, deixei de ir a jogos. Houve tempo em que Maceió possuía até quatro times profissionais, quando só podia sustentar um, como ainda hoje. Continuo CSA, mas a paixão acabou. Continuo Ipanema, mas a paixão acabou.
       O futebol alagoano ainda vive no passado e do passado. Há muito essa atividade virou empresa e precisa de todo oxigênio contemporâneo. Planejamento, organização, capital, investimento e mão de obra especializada, são ingredientes básicos para o sucesso. Nem a capital, nem o interior dispõem sempre dessas exigências. Quando tem uma coisa falta à outra e assim vai-se revezando nesses itens e colecionando fracassos em competições nacionais e mesmo do estado. Quando muito, algumas ações mais efetivas, depois a queda, a decepção costumeira. Esse futebol romântico, sem resultado, ajuda a frustrar marcando escanteio nos torcedores que vão trocando esse por outro esporte mais prazeroso.
       Com as sucessivas derrotas que nunca nos deixam ir além, vejo os times caminhando como nos tempos das repúblicas estudantis. Não resistem nem ao início de uma caminhada além-fronteiras. Para compensar aos abnegados, apelam para outros tipos de glórias do pretérito, citando feito e mais feitos num romantismo ingênuo e suposto consolador. Parecemos declamadores de Camões nas praças estaduais. Como a capital nunca chega a um milhão de habitantes, parece que temos o mesmo futebol/província que resiste a mudanças ou não encontra espaço diante de metrópoles que já entenderam o espírito do esporte/empresa. A sustentação exclusivamente política de um time fica dependente do humor coronelício. Sem querer fazer nenhuma propagando de instituto algum, Alagoas, sessenta anos depois, ainda precisa de um futebol moldado num SENAI, num SENAC, para dá frutos duradouros no seu terreiro e na casa alheia. Além dos ingredientes citados acima, é preciso ainda muito amor à camisa, pois o torcedor está querendo cada vez mais das suas cores, competência e bola redonda. Chega de apreciar fracassos e ninhos de CASACA-DE-COURO.


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