OUTONO ESCASSO
Clerisvaldo
B. Chagas, 20 de março de 2018
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
De acordo com as
várias afirmações dos entendidos, a coisa tá preta no velho sertão de guerra. No
dia de São José não choveu no semiárido alagoano. Céu limpo sem as nuvens
benfazejas e uma temperatura de lascar o cano. Foi três dias seguidos com 37
graus, em Santana do Ipanema, médio sertão, que quase se iguala à famosa cidade
de Pão de Açúcar, às margens do Velho Chico. As nuvens fizeram um tampão tipo
“efeito estufa”, e, segundo um trabalhador rural, “fez o matuto moer troncho”.
Ouvimos um profeta da chuva descrever a posição de tal estrela dizendo que não
tem jeito e que esse ano será escasso de chuva por aqui. Muita gente não quer
sair de casa depois das dez horas e, pelo menos até às quinze.
Alguns dias o céu vem
tão azulado quanto à pedrinha quadrada do anil, outros dias o firmamento traz
as enganosas nuvens de carregação. E o sertanejo, que vive da chuva e pela
chuva, espia para cima várias vezes por dia, aguardando mágica mudança, milagre,
num misto de fé e desafio. Não senhor, não foi por aqui o desfile do Canal do
Sertão. E quem olha para as montanhas circuncidantes, vê o cinza querendo
afastar o verde e tomar conta do cenário. Um roceiro das bandas do serrote dos
Brás, sítio distante de Santana, fala que o lugar tem muitas cisternas e tal poço
Camarão que nunca seca. E que quando vai chegando a esse ponto, Deus sempre
providencia o abastecimento de cima.
Repetem-se os ciclos
de prosperidades limitadas e voltam-se aos ditados marcados, sulcados e
sofridos: “o sertanejo está sempre começando”. Eleva o rebanho nos tempos de
fartura, tudo perde na inclemência e renasce junto com o novo inverno, cada vez
mais raro. E no período mais difícil, até que a água chega montada em caminhão,
mas os animais não vivem somente de água.
E se tudo falta na
zona rural, sofre o comércio da região, quase sempre de modo geral, pois o
geral é a própria natureza nos caminhos: Sol ou chuva. Estamos iniciando o
outono. Da sua metade em diante, esperamos as água do céu e a emenda com o
inverno, mas não está nada fácil. Quando havia acauã, inventava-se culpado. E
agora? São José passou por longe.
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