AINDA A TRADIÇÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de maio de 2020
Escritor Símbolo do Sertão
Alagoano
Agora que todos possuem
celular, virou moda no sertão, editar vídeos e enviá-los às redes sociais. São
as feiras livres, as de gado, de galinhas, de peixes, até açougues, enchentes e
até mesmo cenas cotidianas da roça. Esses vídeos também vão mostrando a
redescoberta de tradições como a do carro de boi. Cada cidade sertaneja,
atualmente está inventando festa de carreiro. É encontro, é festival, é
procissão... E assim o secular carro de madeira, volta ao cenário estadual,
brasileiro e mundial como um museu vivo do transporte, da arte e da História. O
momento também traz outras novidades embutidas nesses festejos que antes eram
raridades. Agora chove de carros de Carneiro, de bode, de jumento e pasmem, até
carros de cachorro. O Sertão de Alagoas está contaminado de festas de carros de
boi e similares.
O interessante é que o
artesão do carro de boi, faz o carro de carneiro com a mesma perfeição, amor e
capricho do primeiro. E se a grande alegria do carreiro é ouvir o seu carro
cantar durante o transporte de mercadorias, o carreiro do carrinho de carneiro
igualmente já pode se orgulhar em dizer que seu carro é cantador. Para isso é
preciso ser confeccionado por quem entende. Ao se colocar peças não recomendadas é fracasso garantido no
chiado monótono que dá vida ao veículo. Nessas festas locais, contemplamos
filas extensas de carros de carneiro com muito mais de um quilômetro de
extensão, tendo como condutores dos carros, adultos, adolescentes de ambos os
sexos e crianças. Todos conduzem vara de
ferrão porque o negativo também é repassado para a criançada.
Quer participar? Fique
antenado na época do evento em cada município: Olivença, Poço das Trincheiras,
Inhapi, São José da Tapera, Santana do Ipanema e talvez outros mais.
Entretanto, gostaríamos que fosse divulgado na íntegra, o fabrico caprichoso de
um mestre artesão, pela grande mídia. É um talento extraordinário que deve
compensar quando os condutores capricham no trato com os bichos e não omitem
sequer uma peça dos seus acessórios: correia de ponta, trela, sininho...
Ô sertão velho de
guerra!
Orgulho em ser
nordestino.
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