AINDA
A MINHA RUA
Clerisvaldo
B. Chagas, 28 de maio de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.312
Rua Antônio Tavares, revolvendo a terra para calçamento, anos 70. (FOTO:DOMÍNIO PÚBLICO). |
Rua Antônio Tavares, mesmo sendo a primeira rua de
Santana, fora o quadro comercial, levou décadas e décadas para receber algum
tipo de benefício. Rua de passagens de boiadas, carros de boi e cavaleiros, rua
de ximbras, bolas, pinhões... Rua de
comerciantes e artífices, Corredor de fogo das fogueiras de São João, dos
desfiles de bandas de música e procissões da Padroeira. Ignorada pelo poder
público, somente dominou o solo de terra em torno dos anos 70. Não havia essa
coisa de “gestor” e, sua metade, salvo engano, foi calçada com paralelepípedos
pelo prefeito Henaldo Bulhões e a outra metade, pelo prefeito em exercício,
Jaime Chagas. As varandas de fundos do seu casario contemplam do alto o rio
Ipanema, os serrotes Gonçalinho e Cruzeiro e as habitações da área da Rua Santa
Quitéria e Conjunto Eduardo Rita, além do rio Ipanema.
Como toda a Santana, abandonada pela gestão de certo
prefeito, acumulou o lixo na via,
metralha e mais, num serviço estúpido de demérito para tudo que já havia sido.
Somente a poucas semanas foi louvada com cobertura asfáltica, vestindo-se a
rigor e recebendo uma crescente movimentação de veículos e sendo valorizada no
seu lado físico e na tradição. Antes,
parte da estrada do coronel Delmiro Gouveia, para Palmeira dos Índios,
Quebrangulo e Garanhuns, depois, roteiro para Maceió via Bebedouro/Maniçoba. Rua que mantinha o
equilíbrio social e alimentava o progresso crescente da urbe. Rua que registrava todo o movimento da AL-
130, visto das suas varandas privilegiadas.
Foi ali construída a Cadeia da vila, sinal na época de
bastante prestígio. Rua da primeira Salgadeira de carne-de-sol, da
primeira tipografia, do primeiro Sindicato Patronal, da primeira gráfica, da
primeira delegacia, do primeiro Quartel de combate a cangaceiros e talvez da
primeira fábrica de sabão e de vinagre. Era a rua que avistava primeiro a
chegada do transporte Neusa na AL-130; espécie de vã que abastecia as bodegas
com guloseimas marcas Neusa, loucura da criançada. Vamos aguardar a liberação
da quarentena para uma visita formal à rua que me criou e as irmãs que ainda
por ali moram.
Abençoadas raízes.
Orgulho Sertão.
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