domingo, 18 de outubro de 2020

 

O TIÚ CARISMÁTICO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.401

(FOTO: DANIEL PASSOS)

O tiú, lagarto também conhecido como teiú e tejo, é tão apreciado no Sertão quanto o tatu. Ambos possuem carne saborosíssima e estão na linha de frente da caça sertaneja nordestina. Antes das leis rigorosas ambientais o teiú era caçado abertamente, vendida a pele e oferecida a carne para os farristas de sanfona, violão e cachaça sem restrição alguma. As mulheres tinham nojo do lagarto, porém muitas delas sabiam como ninguém fazer o preparo do prato cobiçado pelos “caneiros”. No preparo guisado, cheirava que era uma maravilha. Ao ser indagada às cozinheiras qual era o segredo da culinária, elas respondiam: “Você prepara do mesmo jeito de galinha, coloca todos os temperos, só isso”.  E assim o tiú fazia a alegria dos farristas nos bares da cidade.

Nos anos 60, 70, surgiu o personagem popular em Santana do Ipanema, de apelido Tiú. Ninguém sabia seu verdadeiro nome, talvez até ele mesmo já desacostumado com o original e ser insistentemente chamado pelo vulgo. Muito mal vestido, remendado, chapéu de couro velho, escuro e ensebado, longo bornal a tiracolo, Tíú era quase preto, tremendamente carismático e querido em Santana do Ipanema. Quase sempre era encontrado no Beco São Sebastião, onde fazia suas negociatas caçadoras. Por onde passava, todos tinham prazer em gritar seu apelido e lhes dirigir um aceno e ser notado pelo homem. “Tiú! Tiú! Era esta a saudação quando o caçador de lagartos surgia no Comércio da cidade. Tiú respondia acenando e rindo, igualmente a vereador em campanha.

O caçador Tiú virou coisa do passado, mas a perseguição aos animais selvagens, não. Não se mata mais onça porque já mataram todas; mata-se raposa porque ela ataca galinheiros; captura-se o tejo porque a fiscalização é fraca. Os passarinhos canoros não escapam da gaiola, da venda lucrativa, da sanha sem consciência dos destruidores da fauna. O tejo sempre aparece nos sítios, nas periferias... Toma sol nos lajeiros às manhãzinhas, caça, briga e derrota as cobras peçonhentas. Protege a sociedade, mas por ela é perseguido.

Deixemos o tejo em paz. Ele não faz falta à nossa mesa, mas a simpatia do homem Tiú, bem que faz a diferença para alegrar como ontem o Centro de Santana do Ipanema.

 

 


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