O TIÚ CARISMÁTICO
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de outubro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.401
O
tiú, lagarto também conhecido como teiú e tejo, é tão apreciado no Sertão
quanto o tatu. Ambos possuem carne saborosíssima e estão na linha de frente da
caça sertaneja nordestina. Antes das leis rigorosas ambientais o teiú era
caçado abertamente, vendida a pele e oferecida a carne para os farristas de
sanfona, violão e cachaça sem restrição alguma. As mulheres tinham nojo do
lagarto, porém muitas delas sabiam como ninguém fazer o preparo do prato
cobiçado pelos “caneiros”. No preparo guisado, cheirava que era uma maravilha.
Ao ser indagada às cozinheiras qual era o segredo da culinária, elas
respondiam: “Você prepara do mesmo jeito de galinha, coloca todos os temperos,
só isso”. E assim o tiú fazia a alegria
dos farristas nos bares da cidade.
Nos
anos 60, 70, surgiu o personagem popular em Santana do Ipanema, de apelido Tiú.
Ninguém sabia seu verdadeiro nome, talvez até ele mesmo já desacostumado com o
original e ser insistentemente chamado pelo vulgo. Muito mal vestido,
remendado, chapéu de couro velho, escuro e ensebado, longo bornal a tiracolo,
Tíú era quase preto, tremendamente carismático e querido em Santana do Ipanema.
Quase sempre era encontrado no Beco São Sebastião, onde fazia suas negociatas
caçadoras. Por onde passava, todos tinham prazer em gritar seu apelido e lhes
dirigir um aceno e ser notado pelo homem. “Tiú! Tiú! Era esta a saudação quando
o caçador de lagartos surgia no Comércio da cidade. Tiú respondia acenando e
rindo, igualmente a vereador em campanha.
O
caçador Tiú virou coisa do passado, mas a perseguição aos animais selvagens,
não. Não se mata mais onça porque já mataram todas; mata-se raposa porque ela
ataca galinheiros; captura-se o tejo porque a fiscalização é fraca. Os
passarinhos canoros não escapam da gaiola, da venda lucrativa, da sanha sem
consciência dos destruidores da fauna. O tejo sempre aparece nos sítios, nas
periferias... Toma sol nos lajeiros às manhãzinhas, caça, briga e derrota as
cobras peçonhentas. Protege a sociedade, mas por ela é perseguido.
Deixemos
o tejo em paz. Ele não faz falta à nossa mesa, mas a simpatia do homem Tiú, bem
que faz a diferença para alegrar como ontem o Centro de Santana do Ipanema.
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