VASO DE FEIJÃO
Clerisvaldo B, Chagas, 23 de outubro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.403
Ao assistir sobre armazenamento de grãos nas grandes plantações do Centro-Oeste, vêm as lembranças do nosso Sertão de Alagoas. Nas tentativas de armazenagens do feijão, colhido nas inolvidáveis safras sertanejas, foi descoberto o vaso de zinco, recipiente arredondado e cilíndrico que iam desde um metro de altura a três metro e até mais. Os vasos de zinco eram confeccionados pelos exímios artesãos da época, num trabalho garantido para passar por várias gerações. Dificilmente uma casa de fazenda, uma residência de produtor rural, deixaram de exibir esses belos depósitos, com alguns chegando bem pertinho do telhado. Lembramos ainda de alguns vasos de guardar feijão, na sala residencial e oficina do saudoso artesão do zinco, Zé Gancho, na Rua Nilo Peçanha, bem perto da primeira travessa. Zé Gancho era vizinho do senhor José Lopes, que possuía alambique de cachaça, se não nos falha a memória.
Para
não dá o gorgulho e outras pragas nos grãos armazenados, o sertanejo vedava a
boca do vaso com cera de abelha e, a longevidade sadia dos grãos ganhava
garantia. Era a mesma técnica dos cangaceiros que armazenavam balas em garrafas
de vidro vedadas com o mesmo tipo de cera e as escondiam em ocos de árvores da
caatinga. Cenas das cheias de 1960, nunca deixaram à nossa cabeça, quando
sentávamos nos lajeiros marginais ao rio e víamos as coisas passando nos
carneiros das enchentes: animais mortos boiando, como cachorros, porcos, bois,
cavalos... Árvores completas de troncos robustos, cercas de arames, roupas e
inúmeros vasos de guardar feijão. O material que não se enganchava pelo caminho
das águas, espirravam no povoado Barra do Ipanema, no município de Belo Monte.
O
zinco era muito procurado nas casas de ferragens, tanto para ser utilizado em
vasos de feijão quanto em “bicas’ de residências. (bica, biqueira, calha). Não
eram poucos os artesãos que trabalhavam com esse material em solo sertanejo. Em
todas as cidades havia os seus mestres que respeitavam o trabalho que faziam. Infelizmente
não guardamos nenhum deles em museu. Muitos trabalhavam o zinco fazendo
candeeiro, mas não faziam o vaso de guardar feijão.
Mesmo
sendo raridade, ainda se encontra o objeto nas peregrinações pelas fazendas
sertanejas.
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