LAMPIÃO
ENJEITOU
Clerisvaldo
B, Chagas, 8 de setembro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:2.583
Quando em 1926 correu a notícia de que o bando de Lampião havia penetrado em Alagoas pelo Oeste do estado, foi um alvoroço. Mais notícias sucessivas alertavam que o bandido se dirigia bem montado para a área do Médio sertão, rumo a Olho d’Água da Flores e Santana do Ipanema. A cidade de Santana tratou de se articular. Não havia uma estrutura permanente de defesa. Com os berros de alerta famílias inteiras tentaram escapar da sanha do bandoleiro, fugindo para a zona rural. Outras com mais condições financeiras correram para municípios distantes do Sertão. A família do futuro escritor Breno Accioly mandou o menino para Palmeira do Índios no limiar do Agreste, para onde rodaram dois automóveis fugitivos.
O prefeito Benedito
Melo estava em crise asmática, mas homens resolutos se uniram para escavacar
rifles e voluntários pela cidade, entre eles o próprio padre Bulhões, Ormindo
Barros, Joel Marques e Firmino Rocha.
Nunca se pensou que tivesse tantas armas amofambadas em Santana do
Ipanema, diz o escritor Valdemar Lima. Reunindo soldados do quartel, recrutas
do Tiro de Guerra e alguns civis, a resistência fez barricada com fardos de
algodão na Rua da Poeira, hoje Rua Delmiro Gouveia e Manoel Medeiros. Mas havia
outros grupos em lugares também estratégicos na entrada oeste de Santana. Mês
de inverno, muito frio e, os homens heróis nas barricadas passaram a noite
inteira aguardando a invasão do bandido.
O novo dia de inverno
amanheceu primaveril e nada de Lampião. A fome apertava nas barricadas e foi
autorizada a saída de alguns voluntários para à compra de massas numa padaria
próxima. Lampião enjeitara a invasão a terra de Santa Ana. Preferiu agir ao
longe na zona rural, pegando pessoas indefesas na sanha demoníaca. Depois de
vários assaltos nos sítios da região, guiado pelo cangaceiro santanense Gato
Bravo, comandou sua caterva em direção à vila de Olho d’Água das Flores que foi
invadida por 24 horas. Vale salientar que em Santana do Ipanema ainda não tinha
o Batalhão de Polícia de combate ao banditismo que só chegou em 1936 e vingou
as atrocidades do chefe cangaceiro pondo fim na sua vida criminosa em 1938.
Baseado no livro
Lampião em Alagoas.
RUA DA POEIRA (MANOEL
MEDEIRO, ATUAL) (FOTO: B. CHAGAS).
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