segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

 

RAPOSA

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de fevereiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.660

 


A raposa é um dos poucos animais selvagens de porte ainda encontrados em nossos sertões nordestinos. É um bicho solitário que tem predileção pelas últimas horas do dia e as primeiras da noite, porém, pode ser visto a qualquer hora cortando a estrada. Alimenta-se principalmente de cupim, depois, frutos, cobras, lagartos e aves. Caminha choutando igual a jumento e está sempre atento ao que se passa nos arredores. Possui olfato, audição e visão excelentes. Comenta-se que a raposa gosta muito de vinho, tanto que alguns caçadores colocam essa bebida em cuias para atrai-la e flagrá-la bêbada. A raposa também é um símbolo de inteligência e serve de apelido para os mais experientes no jogo da política. Para o que anda a pé nos caminhos empoeirados do Sertão, avistar uma raposa à frente é se arrepiar da cabeça aos pés.

Um guará choco é um perigo iminente. No caso da raposa, pode estar doente com a raiva e transmitir para o ser humano. Várias vezes encontramos raposas solitárias cruzando a estrada Poço das Trincheiras – Maravilha, no sertão de Alagoas., bem pertinho da pujante serra da Caiçara. Existem diversos gêneros desse animal no mundo, de família Canindae. E em todos os lugares do mundo cada espécie de raposa representa beleza e sabedoria. O episódio abaixo registra o predador humano em todos os recantos da terra: Transitando pela BR-316 num automóvel, um amigo nosso foi incentivado pelo carona, ao avistar uma raposa: “Passe por cima, mate, ela gosta de galinha!”. Meu amigo motorista retrucou: “Se fosse para matar quem gosta de galinha, eu iria começar por você”. Era o dia da caça.

As raposas vão rareando principalmente por causa do homem exterminador. Outros fatores surgem como o desmatamento, a caça clandestina, doenças e fome mesmo. Recordamos nosso pai, Seu Manezinho Chagas, de vez em quando a mandar que fôssemos até o Bar do Maneca – vizinho à nossa loja de tecidos – pegar uma garrafa de vinho Raposa. No rótulo da garrafa de vidro incomum, uma bela estampa do citado animal. Vale salientar que em outras épocas havia no Sertão armazéns que compravam couros e peles. Assim os animais da caatinga iam desaparecendo na espingarda: onça, gato-do-mato ou maracajá, veados e raposas.

Gente é gente. Bicho é bicho...

Mas como é difícil viver!

RAPOSA SERTANEJA NO MUNICÍPIO DE PETROLINA, DURANTE SECA (CRÉDITO: FATOS E FOTOS DA CAATINGA).

 

 


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