ABENÇOADO CACHIMBO
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de julho de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.736
Vez
em quando aflora em nós, lembranças que não podemos e outras que podemos
contar. Foi o caso de lição de futuro e finalmente aprendida. Em Santana do Ipanema, havia dois garotos que
residiam no outro lado do rio (ainda não muito habitado). O local era de uma
pobreza extrema chamado Cachimbo Eterno e que inclusive já foi motivo do porquê
desse nome nesta página. Tempos de muita fome nas periferias da cidade. Muitos
pedintes nas ruas, atrás de comida e de tudo. As duas crianças irmãs, sempre
apareciam em nossa casa pedindo comida. Se havia almoço, eles almoçavam sobre a
laje de uma cisterna subterrânea que tínhamos. Se ainda não tinha almoço, eles
diziam na porta da rua: “Quarquer coisa serve...” Era comovente!
Os
anos se passaram e fomos deixando a infância para trás, entrando na
responsabilidade adulta da vida. Num piscar de olhos chegou essa tal de
terceira idade a quem agradecemos intensamente ao nosso Soberano. Uma daquelas crianças morreu, a outra foi se
desenvolvendo e caiu no gosto de inúmeras pessoas da sociedade que foram
ajeitando, lapidando aqui e ali o garoto. Alguns chegaram ao ponto de – mais como
gozação de que ajuda – lançá-lo candidato a vereador. Lógico que não deu em
nada. Aquela figura baixinha e simpática, mas não de cabeça completamente no
lugar, continuou na sociedade servindo a um e a outro. Aquela criança ainda
vive, anda bem vestida e parece esbanjar saúde.
Feliz
quem vai vivendo e aprendendo as lições do cotidiano que a vida oferece. É
assim que vamos ficando mais rico em espiritualidade e sabedoria.
Pois,
em momentos hesitosos com os supérfluos da vida, chegam rapidamente lições que
aprendemos ainda naquela infância. E Quando queremos algo que poderia encher a
nossa vaidade pessoal e fica difícil a meta desejada, lembramos da lição das
crianças do Cachimbo Eterno. Vamos nos conformando com o naco menor que Jesus
nos deu: “Quarqué coisa serve...”
Abençoado
Cachimbo.
SENHORA
DE 110 ANOS, FUMANTE DESDE OS 10. (CRÉDITO: CANAL DO SISAL).
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