USANDO
O APRENDIDO
Clerisvaldo
B. Chagas, 20 de julho de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.737
Quando
estudávamos no Ginásio Santana, as provas eram ditadas pelo professor ou
escritas por ele no quadro. Nós escrevíamos numa folha dupla pautada. Conforme
o professor e a prova, podíamos usar totalmente a folha dupla ou não. O
professor de Geografia, Alberto Nepomuceno Agra – ex-pracinha, fazendeiro, e
dono de farmácia – costumava escrever no quadro apenas uma prova curta de cinco
questões. Ao entregarmos os testes,
raramente usávamos a folha dupla. O professor cortava a folha ao meio e nos
devolvia a outra banda não usada, dizendo mais ou menos assim: “Vamos aprender
a economizar. Leve para casa essa parte em branco, você poderá precisar mais
tarde”. Da mesma maneira procedia quando avistava um grampo de papel no chão.
Extrapolava a Geografia, ensinando para a vida.
Comprávamos
o papel de prova no centro comercial ou na bodega do senhor Oseas, bem pertinho
do Ginásio e que também vendia “puxa” (doce pegajoso enrolado em forma de
trança e macarrão). Era gostoso e ruim de mastigar. Enrolávamos a folha dupla
em forma de canudo, passávamos um papel comum e mentalizávamos uma boa prova.
Alguns espertos colocavam “filas” no meio das folhas e, vez em quando era
surpreendido pelo professor. O papel em
forma de estêncil que facilitava a vida do aluno e do mestre só foi aparecer,
se não estamos enganados, no Colégio Sagrada Família, atualmente extinto. Mas
vamos voltar aos ensinamentos práticos de Alberto, meu Grande na Geografia e na
vida.
Assim
vamos ainda hoje, longe da sovinice, economizando grampo, papel, palavras
ofensivas, orgulho, egoísmo, iras e invejas, esbanjando, porém, amor, caridade,
fé, generosidade e setas indicativas do seguimento da existência. Vamos
lembrando outros mestres que nos ajudaram a subir a montanha e falar do cimo
para o resto do mundo. Vamos levar para o nosso futuro os tesouros acumulados
na mente, no coração, no currículo terreno.
Ginásio
Santana, escola de vida.
Professor,
guia nas trevas com archote perene.
Gratidão:
Sentimento impagável na condição humana.
GINÁSIO
SANTANA EM 1963 (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230)
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