segunda-feira, 7 de agosto de 2023

 

FURANDO O TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.942

 



Difícil era se deslocar do Sertão para Palmeira dos Índios e Maceió.  Qualquer coisa que se precisasse em Palmeira dos Índios, a viagem seria feita através de caminhão, ou na boleia ou na carroceria igual a qualquer amontoado de algodão, de suínos ou de carvão. Enfrentar uma estrada poeirenta e esburacada no verão e cheia de atoleiros no inverno, era coisa humilhante e sem esperanças. Houve época que para se chegar a Maceió, após o caminhão até Palmeira dos Índios, dormia-se ali em qualquer hotel e, pela madrugada, ainda no escuro da cidade sem luz, procurava-se a estação do trem para embarcar e partir via – cidade de Viçosa. E olhe que já era um relativo conforto, pois antes do trem em Palmeira, fazia-se o trajeto sertão até Viçosa a cavalo para dali embarcar no trem até a capital.

Quando o asfalto chegou a Palmeira dos Índios (o primeiro do estado) no início dos anos 50, Surgiu também em Santana do Ipanema, uma ônibus, chamado naquela época de “sopa”, e cujas bagagens viajavam no teto da sopa, parte externa, cobertas por uma lona. Em Maceió o ponto final acontecia no famosíssimo “Hotel Lopes”, vizinho a antiga praça da Faculdade de Direito. Em Santana do Ipanema, pontos de saídas e chegadas eram diante da Igrejinha de Nossa Senhora Assunção (Bairro Monumento) e na Pracinha do Centenário (Centro) onde havia uma bomba de gasolina, três bancos sem encostos e um obelisco.

Mas em 1951, a estrada de rodagem do governo havia cruzado Santana do Ipanema, rumo ao Alto Sertão. Aproveitando a primeira ponte sobre o rio Ipanema, foi construída uma barragem tendo como paredão a parte de baixo da referida ponte. A barragem serviria para abastecer Santana que ainda não dispunha de água encanada. Quando os operários (cassacos) do DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, terminaram a obra, muitos deles, de fora, quiseram permanecer na cidade, no acampamento. Surgiu assim do acampamento, o Bairro Barragem que ainda hoje permanece com esse nome. Surgiu, muitos anos depois, um filho da Barragem, por trás do casario ao longo da rodagem, a que o povo denominou de Bairro Clima Bom. Do outro da rodagem que era desabitado, surgiu um complemento moderno e bonito do Bairro Barragem que até poderia ter recebido um nome novo de bairro.

Nenhum escritor registrou essas histórias, infelizmente. A propósito, os cassacos do DNOCS, ganhando pouco, diziam, soletrando e interpretando a siga da repartição: “Deus não olha cassaco sofrer”.

PARTE NOVA DO BAIRRO BARRAGEM MARGEANDO O RIO, VISTA DE LONGE (FOTO: B. CHAGAS).


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