FURANDO O TEMPO
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de agosto de 2023
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.942
Difícil
era se deslocar do Sertão para Palmeira dos Índios e Maceió. Qualquer coisa que se precisasse em Palmeira
dos Índios, a viagem seria feita através de caminhão, ou na boleia ou na
carroceria igual a qualquer amontoado de algodão, de suínos ou de carvão.
Enfrentar uma estrada poeirenta e esburacada no verão e cheia de atoleiros no
inverno, era coisa humilhante e sem esperanças. Houve época que para se chegar
a Maceió, após o caminhão até Palmeira dos Índios, dormia-se ali em qualquer
hotel e, pela madrugada, ainda no escuro da cidade sem luz, procurava-se a
estação do trem para embarcar e partir via – cidade de Viçosa. E olhe que já
era um relativo conforto, pois antes do trem em Palmeira, fazia-se o trajeto
sertão até Viçosa a cavalo para dali embarcar no trem até a capital.
Quando
o asfalto chegou a Palmeira dos Índios (o primeiro do estado) no início dos
anos 50, Surgiu também em Santana do Ipanema, uma ônibus, chamado naquela época
de “sopa”, e cujas bagagens viajavam no teto da sopa, parte externa, cobertas
por uma lona. Em Maceió o ponto final acontecia no famosíssimo “Hotel Lopes”,
vizinho a antiga praça da Faculdade de Direito. Em Santana do Ipanema, pontos
de saídas e chegadas eram diante da Igrejinha de Nossa Senhora Assunção (Bairro
Monumento) e na Pracinha do Centenário (Centro) onde havia uma bomba de
gasolina, três bancos sem encostos e um obelisco.
Mas
em 1951, a estrada de rodagem do governo havia cruzado Santana do Ipanema, rumo
ao Alto Sertão. Aproveitando a primeira ponte sobre o rio Ipanema, foi
construída uma barragem tendo como paredão a parte de baixo da referida ponte.
A barragem serviria para abastecer Santana que ainda não dispunha de água
encanada. Quando os operários (cassacos) do DNOCS – Departamento Nacional de
Obras Contra a Seca, terminaram a obra, muitos deles, de fora, quiseram
permanecer na cidade, no acampamento. Surgiu assim do acampamento, o Bairro
Barragem que ainda hoje permanece com esse nome. Surgiu, muitos anos depois, um
filho da Barragem, por trás do casario ao longo da rodagem, a que o povo
denominou de Bairro Clima Bom. Do outro da rodagem que era desabitado, surgiu
um complemento moderno e bonito do Bairro Barragem que até poderia ter recebido
um nome novo de bairro.
Nenhum
escritor registrou essas histórias, infelizmente. A propósito, os cassacos do
DNOCS, ganhando pouco, diziam, soletrando e interpretando a siga da repartição:
“Deus não olha cassaco sofrer”.
PARTE
NOVA DO BAIRRO BARRAGEM MARGEANDO O RIO, VISTA DE LONGE (FOTO: B. CHAGAS).
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