segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CLAUDIO CANELÃO

CLAUDIO CANELÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 3.11.2009)

Quando brincávamos na Rua Antonio Tavares, ainda sem calçamento, conhecemos o Claudio que exercia a profissão de sapateiro, bem perto da Travessa maior Benedito Melo. Sendo alto e seco, o sapateiro logo ganhou o apelido de Claudio Canelão. Claudio era uma daquelas pessoas que ninguém adivinha a idade. Poderia ter entre 18 e 25 anos. Caladão, bigodinho e voz horrível. Na época, a grande sensação de todas as ruas sem benefícios, para a meninada era o jogo de ximbra. O jogo com essas bolas-de-gude era chamado de “Papão”. Quem jogava muito bem era chamado de “rato”. Ou se jogava “brincando” ou se jogava valendo uma ximbra por partida. Normalmente ganhávamos ou perdíamos no plano e nos três buracos no solo, entre eles o “Papão”. As vias ficavam repletas de meninos jogando, principalmente nas ruas Antonio Tavares, Senador Enéas e São Pedro. Acontece que o sapateiro também tinha uma atração muito grande por essas pequenas esferas. Era um desastre quando Claudio Canelão chegava perto de um grupo que estava jogando. Quem se arriscasse a jogar com ele, não teria chance alguma. O ponto de partida de cada jogada era sempre feita de cócoras e medindo um palmo para arremessar a bola com o polegar. Todavia, o palmo de Canelão já era meio caminho andado. Nos acertos às bolas era o maior de todos os “ratos” das ruas. E assim o Claudio Canelão, naquela sede medonha, ia embolsando todas as nossas ximbras: velhas, desgastadas, novas, lisas ou coloridas. É certo que ninguém era obrigado a brincar com o sapateiro, mas jogo é jogo e o desejo de ganhar do forte também mexe no mais fraco.
Como as brincadeiras eram muitas ao longo das ruas, surgiram alguns prefeitos intolerantes e começaram a perseguir os jogadores, ou seja, às crianças. Essas perseguições estendiam-se também aos jogos de futebol e pinhão. Como nas ximbras, havia também os “ratos” no pinhão. Esse objeto tinha mais vigor quando era jogado pelos mais crescidinhos. O pinhão bonito industrializado ou aquele feito de goiabeira, tanto dançavam na mão, quanto lascavam ao meio a “mita” colocada. Entretanto, a tara do Claudio Canelão era somente com as bolas-de-gude que brilhavam pelas ruas. Levava todas as nossas ximbras com seu palmo danado e sua pontaria de demônio.
As crianças continuavam naquele estágio de brinquedos, pensando que no futuro tudo seria diferente. E vem a fase da escola, o crescimento, até que um dia também surge o período de análise da vida. Chegam os livros, o rádio, a televisão, o jornal, os comentários... E depois descobrimos que nas diversas administrações públicas que vamos conhecendo, raros, raríssimos mesmo, são diferentes de CLAUDIO CANELÃO.

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domingo, 1 de novembro de 2009

OLHAI PELOS PEQUENOS
(Clerisvaldo B. Chagas. 2.11.2009)

em uma casa no sítio Luz do Dia, Município de Jacaré dos Homens, Alagoas, era um forte dia de verão. Várias pessoas estavam dentro da residência, quando uma rolinha penetrou de repente pela porta de trás e foi ficar na cumeeira. Mostrava-se cansada e nervosa como quem havia fugido de uma grande investida predatória. Houve certo alvoroço das pessoas que se alegraram e também quiseram capturar e abater a ave columbídea. O famoso poeta-repentista, Rafael Paraibano, tomou a frente e disse: “Essa ave é um ser vivo que invadiu a minha casa pedindo proteção. Como posso matar um ser que me pede socorro? Vamos protegê-la e soltá-la quando o gavião não estiver por perto”.
Quando algumas vezes falamos sobre a infâmia da classe política, de gestores de empresas estatais e outros, não falamos por falar e nem colocamos todos em um só processo. Falamos dos que não tem consciência, dos que não tem piedade, dos que não tem coração. Como pode um responsável pelo assunto deixar faltar merenda nas escolas de tantos alunos carentes? Isso é cortar todas as suas possibilidades de bom crescimento, é um crime horrendo que deixa marcas terríveis a médio e longo prazo. O que dizer dos que levam das escolas, a carne, o queijo, o leite e realizam suas feiras com a subtração das prateleiras escolares? E as filas que se formam todos os dias nos hospitais, nas casas de saúde, nos postos espalhados pelos municípios brasileiros? Onde estão os médicos? Cadê os medicamentos? Onde fica o humanismo em um país que estar entrando no primeiro mundo? Por que ao invés de protegerem os necessitados ainda lhes roubam o dinheiro, o direito, à vida? É certo que vivemos em um mundo de expiação, mas muitas vezes ele nos parece muito mais selvagem de que a própria selva. A corrida para tirar tudo que pertence ao pobre, está bastante parecida com as antigas corridas do ouro no velho oeste americano. Fica difícil consertar a corrupção por que ela se generalizou em todos os recantos. Se você tem quase nada, os goelas querem o seu quase nada. Nunca tantos acreditaram em tão poucos. Como dizia Lampião: “Comeram a consciência com farinha”.
E depois que o presidente disse que Jesus teria que fazer conchavo com Judas para ganhar as eleições, o que esperar mais dos homens desta nação de Santa Cruz? Não vemos outra saída a não ser uma grande mobilização nacional ─ de cunho permanente ─ por toda a sociedade organizada. Pois, até a última instância dos apelos populares está sem crédito de um real furado. Em outros aspectos continuamos como nas Idades Média e Moderna com o agravante cigano de outrora. Estamos cada vez mais carentes de exemplos dignificantes. Caímos no salvem-se quem puder ou no quem for besta beba gás. E, mesmo que o nosso grito seja rouco, estar sendo dado: Auxiliai os que sofrem, OLHAI PELOS PEQUENOS.






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