terça-feira, 10 de novembro de 2009

CURIOSIDADES RELIGIOSAS

CURIOSIDADES RELIGIOSAS
(Clerisvaldo b. Chagas. 11.11.2009)

O Sertão nordestino é uma riquíssima fonte de pesquisa dos mais diversos assuntos. No aspecto religioso, temos vasta literatura sobre, Padre Cícero Romão Batista, Frei Damião de Bozzano, beatos, frades, penitentes, rezadores e tantos ainda. Quando se fala em promessas, encontramos sinais em cidades, povoados, sítios, estradas e veredas. Nas minhas caminhadas de pesquisas no Município de Santana do Ipanema, tive a minha atenção voltada para imagens colocadas em lugares extraordinários. Entre o povoado Areias Brancas (BR-316, a 12 km da sede) e o sítio Serra da Lagoa, há um lajeiro de boa extensão, coberto de lodo amarelado. Quem passa por aquela estrada com olhares inquiridores, logo avista no topo do lajeado uma reduzida capela. É uma coisa diferente, surpresa à distância que não pode ser ignorada. Em andanças entre os sítios Marcela e Água Fria, resolvi cortar caminho e entrei por uma vereda. Só havia a trilha e o mato. À margem da trilha, levei até um susto ao levantar a cabeça e me deparar com uma santa sobre pedra de bom tamanho. A imagem tinha cerca de vinte centímetros de altura. Quem teria ali colocado aquela santa? Qual a motivação do devoto? Em outra jornada a pé, eu passava por uma área de matacões a margem do rio Ipanema, em busca do Poço Grande. Deixei a estrada carroçável e penetrei por uma trilha que na largura somente cabia uma pessoa. Areia fina e preta. Os arredores estavam cercados com arame farpado. O mato e as árvores sugeriam um jardim. Protegida pelo aramado havia uma casinha em cima de uma daquelas pedras cinzentas, com uma imagem do Padre Cícero. A altura da imagem estava em torno de cinquenta centímetros. Bem, como existia uma casa bonita por perto, deu a entender que o pequeno santuário havia sido construído pelo dono daquela chácara. Tudo fora feito com capricho: tinta, grade e alvenaria.
Ainda no mesmo município, procurei visitar a igrejinha das Tocaias, no lugar do mesmo nome. A igrejinha ficava longe da cidade, mas com a expansão de Santana, uma das ruas do Bairro Floresta chegou a uns cem metros da ermida. A igrejinha que faz parte da história da terra estava limpa; sinal que alguém zelava por ela. Mas fiquei triste ao notar duas ou três dezenas de ex-votos, jogados no mato do terreiro. Os que cuidavam da cultura e da religiosidade santanense, não construíram um compartimento para guardar as peças de madeira dos pagadores de promessas. Mesmo para apresentá-las aos visitantes como arte popular do Sertão, os senhores nem ligaram. Mas no museu da cidade havia uma argola de colocar em pata de cavalo.
De qualquer maneira, sempre que realizamos uma caminhada em lugares do Município, vamos descobrindo novidades que surpreendem. Algumas oferecem tudo para realizações de monografias aos pesquisadores. Por mais que já se tenha dito sobre o assunto, ângulos diferentes permanecem virgens aos interessados. Além de atraente, o tema parece impregnar de paz aos que buscam as CURIOSIDADES RELIGIOSAS.

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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ô HOMEM SABIDO!

Ô HOMEM SABIDO!
(Clerisvaldo B. Chagas. 10.11.2009)

Quem não gosta de música, a Arte e Ciências de harmonizar os sons? Pode ser forró, frevo, tango, bolero, qualquer uma serve, dependendo da ocasião. Está alegre? Músicas alegres. Bateu à saudade? Vai um Nelson Gonçalves, um Cauby Peixoto, um Altemar Dutra. Conheci certo dentista que acalmava a clientela com a chamada música clássica das grandes orquestras. Em alguns lugares, até as vacas produzem mais leite ouvindo música nas cocheiras. Quem não canta, ouve. Até mesmo a arte brega, antes estigmatizada, caiu no gosto de quem tem amor bandido ou uma esperança apaixonada do coração. Na euforia, até música de péssima qualidade é aceita na força da cachaça.
Falando, porém, sobre indivíduos, tem aqueles que gostam de abusar. São os que ligam o som da casa em toda altura por muito tempo; os que aonde chegam fazem exibições dos potentes aparelhos em malas de automóveis; os dos carros de propaganda que não respeitam os decibeis da Lei; ou mesmo os ambulantes que vendem CDs e DVDs em seus carrinhos infernais. O certo é que até para funeral existe música condizente.
Os gêneros musicais de vaquejadas são bons também, desde que o sujeito esteja no ambiente adequado. Os forrós de vaquejadas, tão em moda, o aboio, alegram a alma de muita gente. Mas estávamos nos referindo ao abuso. Esse é que é danado.
Trabalhando em determinada escola perto de um bar, eu ouvia todas as manhãs músicas e mais músicas de vaquejadas que duravam horas. E o pior, não era daquelas animadas, e sim, toadas longas, tristonhas e arrastadas. Eu era de uns que já não estava suportando. Quando resolvi falar com o dono do negócio, precisamos de uns reparos no sistema hidráulico. Fomos à repartição adequada, trouxemos um moreno de fala mansa, chapéu preto de massa e óculos de grau. O homem iniciou o seu trabalho e eu fiquei perto, pois sempre gostei de conversar com pessoas maduras. Conversa vai, conversa vem, mas ele sempre trabalhando. Terminei dizendo sobre o som que tanto nos incomodava. Falei que não sabia como os da repartição dele, que ficava ainda mais perto do bar, aguentavam. E o homem, bastante experimentado na vida, sequer parou o serviço. Respondeu com sua voz mansa, examinando uma peça à luz solar: “A gente nem fala com o dono do boteco. Não vale à pena. Professor existe quatro tipos de pessoas que mexem com essas coisas: o boiadeiro, o vaqueiro, o vaquejador e o vacorno. O boiadeiro é o que vende e compra o gado; o vaqueiro é o dono da vacaria; e o vaquejador é o que tange a rês. Quanto ao vacorno, é aquele que não possui sequer um bode, vive bebendo e passando toada”. Aprendendo mais uma, pedi licença, saí e logo retornei. Disse a ele que havia consultado o dicionário e não havia encontrado vacorno no Aurélio. E o homem, ainda sem se alterar, rebateu a lição: “No Aurélio pode não ter professor, mas nessa cidade é o que mais tem nas ruas”. Meditei nas suas palavras e não pude desacreditar: Ô HOMEM SABIDO!




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