domingo, 29 de novembro de 2009

ARARIBÓIA

ARARIBÓIA
(Clerisvaldo B. Chagas. 30.11.2009)

Sobre nossos livros de História do Brasil, muitos deles omitem episódios importantes que falariam sobre heróis e heroínas. São desconhecidos para quase cem por cento dos estudantes, nomes como Felipe Camarão, Araribóia, Maria Quitéria, Plácido de Castro, Rui Barbosa, Piragibe, Frei Caneca, Anita Garibaldi e muitos outros. Com essa omissão, ficam apenas os heróis Tiradentes e agora Zumbi dos Palmares. O próprio Tiradentes começa a ser esquecido em troca de um político mineiro. Vão desaparecendo datas e nomes como a da proclamação da república, Marechal Deodoro e Floriano Peixoto. Até a data da padroeira do Brasil vai deixando espaço para o dia da criança.
Desde o antigo Admissão ao Ginásio, que os livros traziam o nome e os feitos do herói Araribóia, cacique dos temiminós do grupo tupi. Araribóia significa “cobra feroz” ou “cobra da tempestade”. O domínio desse índio brasileiro era o território que hoje é conhecido como Ilha do Governador, baía de Guanabara. Araribóia era amigo dos portugueses. Quando os franceses invadiram o Brasil, alinharam-se aos tamoios, indígenas inimigos dos temiminós. Para expulsá-los, os portugueses convidaram os índios de Araribóia e foi iniciada uma guerra feroz na região (1555). Arariboia expulsou os holandeses no Espírito Santos e juntou-se a Mem de Sá (Governador-Geral do Brasil) nas lutas contra os franceses. Depois de incríveis e sucessivos atos de bravura (que deveriam ser transformados em filme) Araribóia e os outros conseguiram expulsar os franceses. Tempos depois chegou ao Brasil mais um dos governadores-gerais, Antonio Salema e, no dia da sua posse (1575), o cacique Araribóia veio de longe para a cerimônia. Sentou-se a moda índia, cruzando as pernas. O governador não gostou e chamou a atenção do cacique. Araribóia respondeu: “Minhas pernas estão cansadas de tanto lutar pelo seu Rei, por isto eu as cruzo ao sentar-me, se assim o incomodo, não mais virei aqui”. E nunca mais pôs seus pés no palácio. Araribóia já em idade avançada teria morrido afogado dentro dos seus domínios. Esse grande e esquecido herói brasileiro é considerado fundador de Niterói e ali tem uma estátua em sua homenagem. Foi inspirador para o livro “O Guarani” de José de Alencar.
A gratidão é um sentimento que anda esquecido em minha terra. Os heróis do Magistério e da Literatura que elevaram o nome de Santana do Ipanema para todo o território nacional, vão ficando à margem e quase nunca são reconhecidos e homenageados pelo poder público. Esse prefere homenagear os ausentes, os compadres, os desconhecidos a valorizar os filhos da terra; a não ser do círculo restrito da turma. Um livro inteiro nós teríamos a falar sobre o tema ingratidão em Santana, lembrando as palavras do político Divaldo Suruagy: “O pior defeito do homem é ser ingrato”. E o pior defeito dos que fazem o poder público, os clubes de serviço, a sociedade organizada, continua o mesmo. A ingratidão do Governador-Geral Antonio Salema tem continuidade sobre outros ARARIBÓIAS de Santana do Ipanema, Alagoas.

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

DÁ O QUE TEM

DÁ O QUE TEM
(Clerisvaldo B. Chagas. 27.11.2009)

Diante de certos fatos relembramos lições ensinadas no decorrer dessa vida muitas vezes atribulada. Algumas pessoas são autoridades verdadeiras e fazem o seu papel. Indivíduos outros com o pouco de asa que lhes dão transformam-se em cão da meia-noite a perseguir, a caluniar, a erguer muralhas. Falam mal por falar. Escudam-se numa imaginária linha defensiva de onde alimenta a artilharia de maldades inconsequentes. Por um lado até que não tem culpa, pois foram criados assim, moldados pelos pais no raciocínio retrógado que encaliça e não tem concerto. Existem os que roubam, que assaltam, que tomam a pulso. Mas não são piores dos que procuram aniquilar a alma de outra pessoa com insinuações que ferem, penetram e mata. Ainda tem o arrogante que não atende bem, que se faz de desentendido, que põe obstáculos e que sabe unicamente o verbo espancar.
Contava meu velho que certo proprietário rural muito poderoso provocava com frequência um humilde e sábio vizinho de terras. O segundo defendia-se como podia diante dos ares da ignorância. O tempo passava sob tensão até que o poderoso chamou um vaqueiro e mandou que ele juntasse todos os chifres de reses abatidas. O homem catou as pontas que avistava, encheu um balaio e o entregou ao patrão. O fazendeiro mandou a esposa cobrir tudo com um pano limpo e bordado. Novamente ordenou ao vaqueiro que fosse levar o objeto como presente ao seu suposto desafeto, mas não voltasse sem ver a reação do presenteado. O vaqueiro montou no corcel mais rápido da fazenda e partiu para cumprir as ordens. Quando o homem simples recebeu o presente, tirou o pano do balaio, viu o seu conteúdo e não esboçou nenhuma reação visível. Apenas pediu para que o vaqueiro tomasse um café ou uma bicada, enquanto ele iria preparar os agradecimentos. O homem apeou desconfiado, bebeu um ou dois goles de cachaça e recebeu um balaio novo, coberto, como retribuição. Ao retornar, o vaqueiro percebeu o amo babando para saber como havia reagido o outro fazendeiro. Até já havia reunido a cabroeira pela análise antecipada da resposta. Ora, o seu patrão recebeu com surpresa o objeto novo. Imaginou mil coisas e até pensou em outro balaio de chifres como resposta. Ao matar a curiosidade, encontrou o cesto de cipós, completamente cheio de flores colhidas há pouco.
O resultado da história, a reação do fazendeiro, fica sob a imaginação do leitor que se propõe a refletir. A sabedoria está na cidade e no campo e não é tão difícil obtê-la. Basta querer. A mesma fonte do caso acima ainda dizia que se alguém deseja alguma coisa limpa e difícil “se pegue com Deus. Com ele tudo, sem ele nada”. Mas o coração é uma coisa e o da boca para fora é outra. Ninguém muda com o Deus da boca para fora. É por isso que se comenta sobre exemplos como a questão dos dois fazendeiros: Cada um DÁ O QUE TEM.


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