terça-feira, 16 de março de 2010

O DONO DO ARMAZÉM

O DONO DO ARMAZÉM

DO CD “SERTÃO BRABO I” – DEZ POEMAS ENGRAÇADOS
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.3.2010)

Conheço senhor Morais
Véio sovina e mandril
Que já roubou mais de mil
Inda hoje rouba mais
Quer ser valente demais
Não dá esmola a ninguém
Fiado diz que não tem
Rouba no metro e no peso
Véve de pescoço teso
No seu bonito armazém

Ali se vende café
Arroz milho e bacalhau
Massa de fazer mingau
Feijão chupeta e rapé
Penico vela quicé
Cadeado solta-prende
Farinha grossa que rende
Assim me disse a vizinha
Que vende até camisinha
Paletó não sei se vende

Um dia logo bem cedo
Tava com fome no parque
Comprei um taco de charque
Pois fome não é brinquedo
Para misturar com bredo
Comprei cocos da Ribeira
Pedi minha conta inteira
Das carças puxei os cobre
Porque no bolso do pobre
Só tem fumo e peniqueira

Nem galinha nem perua
Nem a catuaba morna
Nem ovo nem a codorna
Podia comprar na rua
Sem dinheiro a vida é crua
Lá no barraco um degredo
Que eu só chegava com bredo
E a nega me ameaçava
Se amigar com Piaçava
Negão que fazia medo

E assim lá no barraco
A pantera arreclamava
Que eu não prestava pra nada
Queria um homem macaco
Mas eu danado de fraco
Ia perdendo o conceito
Eu disse é negócio feito
Dos terreiros de alguém
Vou nestante ao armazém
Hoje mesmo dou um jeito

era no fim do mês
Lavei o charque e os coco
Cismei de contar o troco
Na minha conta era três
Mas veio quarenta e seis
Daquele véio avarento
Vortei no mesmo momento
Porque sou um home honesto
Fui adervorver o resto
Ao dono do movimento

No armazém com coidado
Fazendo pose demais
Eu lhe disse seu Morais
Nosso troco está errado
O homem brabo danado
Me falou gritando rouco
Aqui não se erra troco
Nem com reza nem com bico
Inda caiu dois penico
No quengo do veio broco

Pra não brigar com o valente
Que vende vassoura e rodo
Guardei o dinheiro todo
Fiquei longe da serpente
Será que sou inocente
Será que pequei demais
Pra nega não xingar mais
Na farmácia de seu Agra
Comprei tudim de Viagra
Banana pra seu Morais

FIM
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segunda-feira, 15 de março de 2010

PROVA DE FOGO

PROVA DE FOGO

(Clerisvaldo B. Chagas. 16.3.2010)
Com os Estados Unidos desgastados no processo de paz israelense, o Oriente Médio parte para outra fase de tantas e tantas que já enfrentou. Israel sempre foi aliado dos Estados Unidos na região, até porque precisou do Tio Sam para a sua defesa territorial. Isso não quer dizer, porém, que o estado judeu não seja preparado. Ao longo da sua existência tem desenvolvido técnicas civis e militares para vencer no social e na defesa intransigente da sua existência. Israel é país rico. Há quem diga que faz parte do clube atômico, possuindo sua bomba nuclear. Mas conseguir a paz entre adversários bíblicos tradicionais não é e nunca foi tarefa das mais fáceis. Tanto isso é verdade que o próprio amigo Estados Unidos, sentiram-se humilhados com uma atitude de Israel. Enquanto fala sobre paz, o governo judeu ameaça construir casas em local ferozmente disputado. Na linguagem da juventude de hoje, “isso não existe”. Como falar de paz se minhas decisões são de guerra? Os Estados Unidos parecem irritados com mais essa incoerência do antigo aliado. O governo americano demonstra cansaço, frustração e impaciência.
O Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entra no cenário outrora longínquo e inacessível. Quer ser o novo intermediário, o negociador entre israelenses e palestinos. Com pretensões de aumentar a influência brasileira no mundo e procurando apoio para reestruturar a ONU ─ Organização das Nações Unidas ─ o Brasil salta decidido no meio da fogueira. Como Lula é um negociador natural e o Brasil possui tradições pacifistas, ambos os lados da questão estão esperançosos num entendimento. Está certo que o presidente brasileiro foi bem recebido, mas isso não deixou de surgir algumas reações sensíveis às tradições. É um momento novo a que israelenses e palestinos não estão acostumados a ele, pois, antes, só conheciam de fato a voz americana. Décadas a fio com o modo de ser de um mediador, absorver a diferença agora não é fácil. Chegar a uma batalha onde só se fala em bomba, fuzil, ódio e morte, levar amor e compaixão, como disse o brasileiro, é como receber uma bomba diferente. “É chegada à hora de abrir um círculo virtuoso de negociações”, falou o visitante citando exemplos do Brasil. Nesse país milhões de judeus vivem pacificamente com milhões de árabes. A continuação da novidade acontecerá ainda em outros lugares com outros personagens fora do parlamento israelense.
Se Lula fracassar, o Brasil fracassará junto. Se conseguir os acordos desejados, Lula será forte candidato ao prêmio Nobel da paz, sem dúvida nenhuma. Então, o Brasil colocará uma coroa de ouro na cabeça. Vamos aguardar para ver como agem os envolvidos. Se com disposição de tolerância adulta ou com desencanto de criança após brinquedo novo. A cultura do Oriente não é a cultura de Brasília. E Cuba não foi nada em relação a essa desafiadora PROVA DE FOGO.



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