quinta-feira, 18 de março de 2010

PENA DO SENHOR

PENA DO SENHOR
(Clerisvaldo B. Chagas. 19.3.2010)
Na 5ª Série do antigo Ginásio Santana, tivemos ótimos professores. Como vários outros profissionais, alguns também tinham os seus cacoetes. Aprendemos com as durezas do Doutor Jório Wanderley e Alberto Agra (Ciências e Geografia); com a suavidade de Antonio Dias (Português e Matemática); com a alegria do padre Cirilo (Latim); com o charme de Maria Eunice (Francês); com as narrativas de Ernande Brandão (História, Geografia e Matemática); com os trancos de Genival Copinho (Matemática); com a calma de Gezo (Português) e outros mais. Entre os cacoetes havia o do prof. Ernande que não dava dez ao aluno. Achamos que vingava trauma de adolescente: “dez é do professor”, dizia ele. E a professora de Desenho, conhecida como Dona Dea ─ esposa de um dos maiores advogados do País, Aderval Tenório ─ respondia com frase feita. Ao dizer que não estava entendendo bem a explicação, o aluno recebia da voz arrastada, meiga e irônica da professora: “Tou com tanta pena do senhor...”
No Rio de Janeiro aconteceu um levante contra a vacina em 1904, época do presidente Rodrigues Alves. A investida do governo contra a febre amarela, peste bubônica e a varíola (não devidamente esclarecidas) provocou a reação popular. A insatisfação foi às ruas e deu muito trabalho ao governo, ficando conhecida na História como “A Revolta da Vacina”.
Dividir os royalties do pré-sal com todos os estados e municípios brasileiros, nos parece justo. O petróleo é da União, pouco importando em que mar territorial se encontre. Foi muito perigoso o que o governador Sérgio Cabral conseguiu fazer. Em uma cidade violenta de influência nacional, àquele movimento poderia ter sido um estopim para uma coisa muito séria e de grande proporção; assim com a Revolta da Vacina ou a revolução fratricida de 32. Então vamos deixar somente Rio de Janeiro e Espírito Santo usufruírem dos trilhões em petróleo do subsolo brasileiro? Que privilégio é esse? A fortuna de um pai é dividida por todos os seus filhos. Como ficariam, então, os outros vinte e quatro estados e o Distrito Federal? Como mendigos, pratos estendidos e baba caindo diante do banquete dos ricos? O sertanejo nordestino analfabeto diz: “Tenha injúria, seu Cabral!” São milhões e milhões de pessoas dos vinte e quatro estados contra as lágrimas de crocodilo e boca de tubarão do senhor Sérgio Cabral. Sempre existiram negociações e Justiça para se resolver problemas de relevância sem quebrar a unidade brasileira. Não consideramos coerente o gesto do governador com o emocional das pessoas. Isso até nos dá a impressão de que é uma forma de aparecer. Somos alagoanos e santanenses, queremos a nossa fatia do pré-sal. O político do Rio que vá às favas. Ora, ora, ora!... Lembramos assim os tempos de 5ª Série, ao vermos as lágrimas bestas do governador. Parodiando Dona Dea: Seu Cabral, “tou com tanta PENA DO SENHOR...”


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quarta-feira, 17 de março de 2010

GREVE DAS BURRAS

GREVE DAS BURRAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.3.2010)

Algumas vezes é preciso deixar o telescópio do mundo para enxergar o local. Quando o Jornal do Sertão denunciou os absurdos que ocorriam entre carroceiros e animais de carroça, um delegado tomou as providências. Em uma reunião com esses profissionais na delegacia, a força do aperto sanou o problema até a transferência do militar.
Atualmente o problema continua o mesmo. Deve haver muito mais de cinquenta carroceiros em Santana do Ipanema. Esses profissionais adquirem as burras, geralmente, na região de Palmeira dos Índios, por ser uma cidade ladeirosa, assim como Santana. As burras estão acostumadas com o relevo e por isso não são procurados animais de cidades planas como Cacimbinhas, São José da Tapera, Pão de Açúcar ou Arapiraca. Nesse tráfego imenso de carroças, parece não existir o menor controle de quem quer que seja. Durante a noite não usam candeeiro nem qualquer outro sinal luminoso; não existem identificação nem critério de nada. Enquanto Maceió usa cavalos esqueléticos e feridentos (nem sabemos como muitos conseguem andar) Santana usa somente a burra. (O burro não aguenta o trabalho). O condutor da carroça cobra cinco reais por uma carroçada dentro da cidade.
O problema que continua como no passado próximo são os constantes maltratos a esses animais. O carroceiro bate constantemente na burra se a carroça estiver rodando: devagar, apressada ou em alta velocidade; carroça vazia, carroça cheia, não importa. A mão do carroceiro é robô ligado à tomada que não para nunca. É de doer na alma tanta barbaridade em quem não pode se defender. E o pior. Não raros são os carroceiros que trabalham com menores. Presenciamos garotos em torno de dez a onze anos, fazendo tarefas nas carroças e muitas vezes já com um relho nos ombros, batendo desesperadamente no animal sem necessidade nenhuma. Pode ser que diante do número citado acima, existam um ou dois que não maltratem seus animais. Nós duvidamos de dois. Na cidade de Ouro Branco, há alguns anos, um delegado revoltado como nós, fez um safado descer da carroça, ficar no lugar da burra e apanhar igual a ela. Não queremos aprovar o excesso, porém, parece que tem animais de duas pernas que só aprendem assim. Não se ouve em Santana do Ipanema, uma só voz a favor das burras que não gritam, não protestam, não reivindicam a porta de delegacias, juizados, Ima, Prefeitura, Conselho Tutelar e mais. Será possível que esses atos covardes e insanos tenham que ser denunciados por um cidadão documentado com protocolo e tudo? Onde estão os direitos dos animais? Por que as autoridades não conseguem enxergar o problema? Por que tem coisas mais importantes para se preocuparem? Sem autorização prévia, ninguém pode abater uma árvore da rua que racha uma residência. Passamos três meses para conseguir tal feito diante da desorganização de setores do assunto. Mas bater loucamente nos animais, pode. Para os que fecham os olhos, é mais fácil elogiar. Sobre esse tema, quanta falta você faz Ricardão! As autoridades responsáveis pelo assunto estão aguardando a GREVE DAS BURRAS.


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