UM GRITO NA HISTÓRIA (Clerisvaldo B. Chagas. 24.3.2010) Com tantas mulheres dinâmicas e destaques nacionais no que exercem, parece que pas...

UM GRITO NA HISTÓRIA

UM GRITO NA HISTÓRIA

(Clerisvaldo B. Chagas. 24.3.2010)

Com tantas mulheres dinâmicas e destaques nacionais no que exercem, parece que passou despercebida a heroína brasileira no dia da mulher, Maria Quitéria de Jesus.
Diante das constantes insistências e pressões portuguesas para a volta de D. Pedro I àquele país, aumentou consideravelmente as tensões entre brasileiros e lusos. Durante o ato da Independência, não houve participação popular às margens do riacho Ipiranga, é bem verdade; lutas imensas, entremeadas de heroísmos, entretanto, aconteceram pelo país afora em apoio ao filho de D. João VI. Portugal, sugador tri secular do sangue brasileiro, não quis entregar o Brasil independente. Houve lutas de resistência portuguesa à nova situação na Bahia, Piauí, Maranhão, Pará e na província Cisplatina. Após essas lutas nas províncias citadas, consolidou-se finalmente, em 1823, em todo território nacional, a vitória definitiva do imperador. Muitos brasileiros ainda acham que o Brasil ficou independente apenas com o célebre grito do Ipiranga. Desconhecem as lutas travadas após o grito no riacho. Nessas lutas que se seguiram após o Ipiranga, houve destaques em episódios de bravuras de pessoas que depois ficaram esquecidas na História.
Para quebrar a resistência inimiga, emissários do governo procuravam ajuda nas fazendas, principalmente voluntários. E como o pai de Quitéria nada tinha a oferecer, um desses emissários deixou à fazenda, desanimado. Maria Quitéria, após ouvir a conversa, cortou os cabelos, pulou à janela e foi pedir roupa de homem à irmã, na casa do cunhado. Assim, Maria Quitéria de Jesus cavalgou 80 km até chegar ao local chamado Cachoeira, onde se organizava o exército de libertação. Disfarçada de homem, Maria deu o nome fictício de Medeiros. Conseguiu alistar-se e já no dia seguinte estava no seu posto. Quitéria logo mudou para o Regimento dos Periquitos, tropa que usava no fardamento gola e punhos verdes. A mudança teve como causa o serviço pesado anterior. Foi no Regimento dos Periquitos que Maria Quitéria de Jesus lutou durante um ano. Mulher sertaneja de 30 anos, analfabeta, era cheia de Brasil na luta contra o colonialismo. Quitéria ainda foi promovida a cadete e teve a identidade descoberta, mesmo assim continuou engajada, lutando com um saiote por cima da calça. A sertaneja teve a honra de entrar com as tropas vencedoras em Salvador. D. Pedro convidou-a para receber medalha de ouro no Rio de Janeiro. Maria aceitou e, como era analfabeta, saiu treinando o nome na viagem para não passar vergonha diante de tanta gente importante. Ainda na Bahia, após o imperador perguntar se precisava de algo, Quitéria teria respondido que escrevesse a seu pai (de Quitéria) pedindo perdão por ter fugido de casa na noite da cavalgada.
Maria Quitéria de Jesus não foi à única mulher a se destacar na luta Brasil-Portugal, da independência. Quem procurar acha mais UM GRITO NA HISTÓRIA.





DE ONDE VEM A FOME (Clerisvaldo B. Chagas. 23.3.2010) Podemos dizer que a fome no Brasil teve início com o sistema colonial português. Hav...

DE ONDE VEM A FOME

DE ONDE VEM A FOME
(Clerisvaldo B. Chagas. 23.3.2010)

Podemos dizer que a fome no Brasil teve início com o sistema colonial português. Havia antes disso, a prática de uma agricultura chamada de subsistência praticada pelos nativos. Esse tipo de agricultura é voltado exclusivamente para as necessidades básicas alimentares da população. Mesmo vivendo da caça e da pesca, os indígenas brasileiros praticavam uma agricultura como ainda hoje acontece, à base do milho e da mandioca. A colonização portuguesa ─ com agricultura praticamente obrigatória ─ levou mão-de-obra disponível para as grandes plantações que interessavam apenas a Lisboa. Assim, o tipo de agricultura de roça deu lugar às imensas plantações de cana-de-açúcar, café, cacau, amendoim, fumo e algodão. Com essas atividades diferentes, as práticas mais antigas na colônia ficaram esquecidas pouco a pouco em relação à subsistência. Como se pode observar, o alimento básico ia sumindo, principalmente da mesa de núcleos urbanos como vilas, cidades e maiores povoados. A alimentação básica não faltava, porém, para a elite colonial dominante de alto poder aquisitivo. No campo, fora dos domínios das grandes plantações, ainda se praticava a agricultura familiar. Mesmo perto da plantation da cana-de-açúcar, em Alagoas, o domínio de Zumbi na serra da Barriga, era uma república negra de barriga cheia; graças à agricultura de origem africana do sistema roça. Nos lugares mais povoados, entretanto, a fome apertava a população pela escassez dos produtos substituídos.
No quadro da época colonial, quando se falava em luxo e riqueza no Brasil, era somente na ala exportadora das classes dominantes, como a dos senhores de engenho no Nordeste ou a dos barões do café do Sudeste. Na outra ala, miséria e fome castigando grande parcela da população. Em nosso estado, herdamos a triste realidade de Alagoas açucareira rica, mesmo assim com frase falsificada. Não Alagoas açucareira rica, mas sim, a classe dos Senhores ricos, SÓ. O Sertão continua esquecido. A renovação econômica industrial, como alternativa proposta pelo governo estadual, não consegue sair da praia. São os mesmos vícios coloniais que persistem nas Alagoas com a discriminação do chapéu de couro.
Se não fossem os programas federais para distribuição de renda, o Sertão estaria fadado aos destinos das secas anteriores. Se a origem da fome foi o sistema mercantilista colonial, a falta de desenvolvimento sertanejo forma raízes nas sucessivas e cegas administrações estaduais, principalmente. Santana do Ipanema, como a mais importante cidade do médio e alto Sertão, precisa urgentemente de um centro tecnológico semelhante à Campina Grande para fomentar o desenvolvimento sertanejo como um todo. Fora o canal do Sertão que vem aí, o resto são migalhas que esporadicamente caem das mesas dos poderosos. Estamos vivendo um novo colonialismo em que a tônica é a ignorância, má vontade, desprezo e falta de compromisso com o povo; é daí agora DE ONDE VEM A FOME.