sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DESENGANOS

DESENGANOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de agosto de 2001)

Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Fracassam o passado e o presente
Diniz, Zé Catota e Vitorino
Zé Limeira, Lourival, José Faustino
Zé Gaspar, Zé de Almeida, M. Clemente
Geraldo, Zé Viola, R. Vicente
Lourinaldo, Mocinha e Jó, além
De Daudeth Bandeira e mais uns cem
Ivanildo, versejos sobre-humanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Nem o Nelson Gonçalves, Altemar
Cauby, Lupicínio ou Alcione
Agnaldo Timóteo ao microfone
Netinho ou Sangalo à beira mar
 Moacir, Martinho ou Alcimar
Zé Ramalho, Belchior, Fafá Belém
Ciganas canções que vão e vem
Que apaixonam demais seres humanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Nem as flores suspensas do jardim
Nem a rosas dos prados coloridos
Nem as brisas dos vales mais perdidos
Nem o céu de safira ou de carmim
Nem gorjeios de aves no capim
Baladas sensíveis de um trem
O aceno do lenço de alguém
Não tocam na alma dos arcanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

O vento que sibila à cordilheira
O cravo que nasceu no pedregulho
O balanço das águas no marulho
O convite da sombra à quixabeira
O melaço da cana da caldeira
O aroma da carne no moquém
O pipilo insistente do vém-vém
Vão pingando poesia nos meus planos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

O escuro das noites mais escuras
O cenário de atos tenebrosos
As fossas abissais de assombrosos
Seres que habitam nas funduras
Fogo-fátuo de águas tão impuras
Cobre em moeda de vintém
Fuligem que ao vício faz refém
Vão rondando seus golpes mais tiranos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém.
 
                                                               FIM












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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ê MEU FIO

Ê MEU FIO
(Clerisvaldo B. Chagas, 26 de agosto de 2010)

          Ainda lembro o cidadão santanense, já em avançada idade, Benedito Serra Negra, em suas visitas esporádicas a nossa loja de tecidos. Referia-se ele a certo pássaro da caatinga que durante o sofrimento do povo nas estiagens prolongadas, cantava. E o seu canto parecia mangação quando o povo interpretava assim: “ê, meu fio!...”
         Durante a Alta Idade Média, o pensamento filosófico recebia grande influência do cristianismo. Houve momentos em que essas idéias confundiram-se com a teologia, porque se amparavam na fé e em dogmas religiosos. Destacou-se naquele momento histórico, um dos maiores doutores da Igreja que foi Santo Agostinho, responsável pela síntese entre a filosofia clássica (platônica) e a doutrina cristã. Segundo a teologia agostiniana, a natureza humana é, por essência, corrompida. A remissão, a salvação eterna, estaria na fé em Deus. Santo Agostinho tem como principais obras: “Confissões” e Cidade de Deus”. Para muitos estudiosos, essa era uma visão pessimista em relação à natureza humana. Entretanto, na Baixa Idade Média surgiu uma concepção mais otimista e empreendedora do homem. A filosofia escolástica procurou harmonizar razão e fé. Nesse caso, o progresso do ser humano não dependia apenas da vontade divina, mas também do esforço do próprio homem. Com isso os atributos racionais do homem passam a ser valorizados. E por outro lado, não deve mais existir conflitos entre a fé e a razão. Os escolásticos são considerados precursores do humanismo e tiveram o mérito de restituir ao homem medieval a confiança em si próprio. Se a escolástica valorizou a razão substituindo o termo predestinação por livre arbítrio, mas continuou deixando para o clero o papel de orientador moral e espiritual da sociedade. O mais influente filósofo escolástico foi São Tomás de Aquino, professor da Universidade de Paris. São Tomás muito influenciou o clero, inspirado na teologia cristã e no pensamento de Aristóteles. Obra de São Tomás de Aquino: Suma Teológica.
         Com tantos estudos históricos e filosóficos ficamos a imaginar o comportamento do homem nos dias atuais. Será que são suficientes essas pesquisas da Sociologia que agrupam o ser humano em camadas sociais, estamentos ou castas? O homem moderno, preocupado com o seu padrão de vida, nessa luta feroz da concorrência empregatícia ou com a violência desenfreada nas ruas, tem tempo de pensar? Já perguntaram a algum assaltante de bancos ou aos consumidores inveterados de drogas se eles estão lendo a Suma Teológica? Já indagaram aos compradores de consciências sobre o pensamento escolástico? Será que todo sistema educacional está falido? Nada afirmamos nem analisamos. Apenas, em um momento de parada refletimos. Nesse emaranhado do tal “correr atrás”, fica bastante difícil correr a frente. E com essas filosofias que se arrastam pelo mundo o saudoso cantor Nelson Gonçalves se sai com a dele:

(...) “pois a vitória
Não pertence ao infeliz...

         Volto à ternura de Benedito Serra Negra, “filósofo” bem menos complicado. Diante de tantas coisas esquisitas que estão acontecendo com a humanidade, com certeza ele apenas repetiria o pássaro das caatingas alagoanas: “Ê, MEU FIO!...”

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