segunda-feira, 22 de novembro de 2010

DECISÕES INHAS

DECISÕES INHAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 23 de novembro de 2010)
     Conta uma anedota que em determinada farmácia havia um funcionário gago e fanho. Como balconista até que o gago estava se saindo bem. Atendia e despachava com presteza até o dia em que apareceu um rapaz semelhante. Sob a observação do dono do estabelecimento, o cliente indagou ao balconista: “Hem inha?” O funcionário ─ irmão das mesmas deficiências ─ respondeu de imediato: “hem não”. O freguês saiu, deixando o dono da farmácia bastante curioso. Tanto é que o homem dirigiu-se ao seu empregado perguntando o que o rapaz de fora queria. O balconista disse, então, que ele procurava “inha”. Como o patrão não entendeu, o fanho tentou explicar o tempo todo o que era “inha”, mas não conseguiu. O dono do estabelecimento pensou que nesse caso somente um fanho poderia traduzir a fala do primeiro. Mandou que viesse um galego também gago e fanho que trabalhava na feira vendendo laranjas. O galego, um meninão, foi encarregado de perguntar ao balconista o que o cliente procurava. Após a conversa, o dono da farmácia indagou ao galego o que o cliente queria. Ele respondeu: “hiria inha. O inhor hão sabe o ê é inha hão?” Deu às costas irritado e foi vender as suas laranjas.
     Infelizmente vamos tacando na tecla roxa de levar pancada. O trânsito de Santana sempre foi levado em banho-maria. Muitos que deveriam estar à frente da luta pela melhora, preferem calar por conveniência. Não querem se indispor com “A”, “B” ou “C”. E assim vão engolindo com farinha suas responsabilidades, esperando que terceiros tomem sozinhos às dores que a eles pertencem. A urbe vai formando uma sociedade que só se preocupa com seus próprios segmentos trabalhistas. Deixe o caos tomar conta de tudo. “Isso é com o juiz, com o comandante do batalhão, com o delegado, com o promotor, com o prefeito ou com a Câmara de Vereadores”. E assim aguardam por vozes esporádicas e solitárias que não encontram eco. Não existe uma resistência compacta contra as mazelas simples e graves que pululam numa cidade polo, quase sempre entregue ao oscilante humor do Executivo.
     Se uma sociedade não luta pelo seu desenvolvimento geral, ela própria afunda no marasmo, na conivência, na tremura do desinteresse. Como o indiferente pode reivindicar emolumentos? Quando uma voz isolada se alevanta, logo o som é abafado pelos garranchos tampões dos abnegados gansos do poder. Nessa babel tresloucada em que se transformou o trânsito de Santana e muitíssimas outras coisas, também alguns renomados escritores, jornalistas e radialistas da terra preferem passar manteiga no pão. Quanto mais escolado é o homem, maior responsabilidade e berros pelos malfeitos da sua terra. Será que alguém vai colocar ordem na casa? Por enquanto, ninguém se entende com ninguém. Estamos atravessando um período fraquíssimo e de DECISÕES INHAS.


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domingo, 21 de novembro de 2010

INÍCIO DE SEMANA

INÍCIO DE SEMANA
(Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de 2010)
     
 Entre as várias resoluções dos homens, encontramos alguns tipos em relação à serventia. Existe o que não gosta de servir; o que serve somente quando solicitado e o que serve em todos os lugares e ocasiões sem pedidos de ajuda. Levando esse geral para o campo mais próximo, conhecemos em nossa sociedade tipos que davam esporros em quem pedia; outros que ajudavam com sermões à frente; outros ainda que serviam sempre que solicitados e ainda os que tomavam a iniciativa do socorro sem nenhum pedido. Escapa desse enquadramento, um tipo de hábitos estranhos. Rico, prestador de serviço, fazendeiro e político, ficava com o produto da mendicância de quem fosse lhe solicitar auxílio. Fatos tristemente presenciados por vaqueiros e familiares da fazenda.
     Existem os ricos que adquiriram seus bens através de certas facilidades como loterias, prêmios, sorteios, heranças, divisões em família ou diversas outras formas. São riquezas que fazem parte do patrimônio de maneiras honestas sem nenhuma contestação. Mas o amor exacerbado ao que possuem, faz esquecer que tudo que veio às mãos, foi obra de Deus. Os frutos dessa dádiva são para beneficiar também os necessitados. Geralmente nada, absolutamente nada sai daquelas mãos fechadas, do cofre inexpugnável. Afora aos seus mais próximos, nem mesmo o que chamamos café pequeno.
     Por outro lado, temos os que adquiriram patrimônios até semelhantes, não com aquelas facilidades, mas à custa do trabalho, do suor e de muitos sacrifícios. Assim deixaram a situação de penúria até a coroação da batalha do ter. Entretanto, esses também ─ assim como os primeiros ─ não gostam de servir. Alegam que tudo custou caro, noites de sono, dias de fadiga e privações. Encaramujados nas íntimas amarguras, cada pedido de socorro é um mergulho no antigo sacrifício para expulsarem um não. Preferem mandar que a vítima das atuais circunstâncias, faça o mesmo que eles fizeram e encerram aí a rapidíssima entrevista. Para eles, nada do que possuem tem excessos que possam ser retirados.
     Para Deus, o segundo tipo de cidadão ainda é pior do que o primeiro. É que esse viveu a miséria de perto e a conhece muito bem. Portanto, sua responsabilidade é muito maior do que os que nem fazem cálculo do infortúnio. O orgulho, a ambição, o medo de perda, fazem ambas as classes esquecerem que todo bem adquirido foi obra do Alto. Pensam eles que os filhos irão amá-los mais porque estão ofertando o conforto. Suas ações estão no tripé acima, porque é mais fácil amar os bens de que amar a quem os abasteceu. E o Soberano passa a ser um inimigo que pode arrebatar tudo a qualquer momento. É essa maneira egoística de encarar o Pai que lembra cenas de livros sagrados. Sem almejar ser padre e nem pastor, qualquer pessoa pode refletir bem, nem que seja em INÍCIO DE SEMANA.

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