sexta-feira, 26 de novembro de 2010

COPINHO

COPINHO
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de novembro de 2010
     No antigo Ginásio Santana, estabelecimento da rede Cenecista em Alagoas, havia um professor de Matemática chamado Genival. Para a minha idade de estudante da 5ª Série, nunca procurei saber a que família pertencia o professor. Genival era alcoólatra e quase sempre aparecia “queimado” para ministrar as suas aulas. Magro, calmo, caladão, Genival era muito querido tanto pelos ginasianos quanto pela sociedade, da qual recebera o apelido de Genival Copinho. Os responsáveis pela escola faziam vista grossa às condições etílicas do professor que, às vezes, chegava a estado lamentável. Também era difícil encontrar mestres da área de cálculos. Íamos convivendo com Genival Copinho que muito contribuiu com essa atividade em Santana do Ipanema. Os colegas ficavam pasmos diante de momentos em que o professor deixava cair o giz várias vezes durante as suas explanações. Mesmo assim, nunca houve falta de respeito mútuo. Os comentários pós aulas eram positivos: quanto mais “chumbado”, melhor eram as explicações de Genival. Na verdade, tratava-se de exagero na afirmação. E por falar em Genival, ele aparece em desfile do Ginásio, numa foto de importante livro há muito publicado sobre Santana.
     O que nos faz lembrar o professor Genival, é o compromisso que o homem deve ter com a profissão que abraça. Ou bom ou “queimado”, sempre estava ali o mestre para exercer a função de educador. É triste vermos ainda hoje, professores concursados e contratados sem compromisso algum diante dos seus alunos. Alimentam-se da verba pública do final de mês e desafia o sistema, não honrando o compromisso empenhado de quando assinou os papéis. Adultos e adolescentes já sem estímulos chegam às escolas e não encontram os mestres no prédio. Segunda, o professor avisa que não vai e, no resto da semana, nem sequer satisfação! Os pais de bons alunos chegam desesperados em procura da direção, reclamando do descaso, mas tudo continua no mesmo. É evidente que não estamos falando de justa causa da ausência. Estamos falando é da falta de vergonha mesmo. São pessoas que se recebessem um salário de rei continuariam burlando as autoridades. Esses tipos de passeadores deveriam ser denunciados pelas suas respectivas coordenarias e banidos do sistema educacional. A marginalidade inicia por aí. É por isso que a educação brasileira vai se arrastando a duras penas com os zombadores sem respeito a si próprios, sem dignidade nenhuma, que não orgulha nem aos seus familiares, nem a comunidade em que vivem. Demolidores dos sonhos da juventude e aparadores de salários. O pouco que se ganha jamais será motivo de desonrar o sacerdócio do Saber. Não compreendemos como aquele que não cumpre a sua parte consegue dormir à noite sem pesadelos. O mal profissional é uma praga que prolifera, graças à proteção de quem deveria denunciá-lo. Quanta falta faz a abnegação de muitos na figura singular do professor Genival COPINHO.




Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2010/11/copinho.html

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

TOLERÂNCIA ZERO

TOLERÂNCIA ZERO
(Clerisvaldo B. Chagas, 26 de novembro de 2010)
     O povo brasileiro abriu a boca, estarrecido com o estado de guerra no Rio de Janeiro. De primeira, quem ligava nas cenas de ataques e incêndios a ônibus, pensava que as ações estavam acontecendo no Iraque. Mas, que Iraque que nada! Era mesmo na velha “cidade maravilhosa” dos antigos combates de Estácio de Sá. A falta de atitudes de muitas décadas atrás, já cozinhava o caldeirão. Diversos estudiosos alertavam para um futuro incontrolável, caso as medidas contra o crime no Rio continuassem fracas, pífias, mornas como “gogó” de criança. Como falam que “antes tarde do que nunca”, mesmo diante das cenas vistas, chega um alívio a população que andava ultimamente na última barra do estresse. Há vinte anos, o povo carioca já estava saturado da violência do Rio, onde obrigatoriamente o cidadão saía de casa, amedrontado. Separava o dinheiro em duas partes, a do coletivo e a do assalto da esquina. Mais difícil ficava a situação quando o trabalhador, o estudante, as donas de casa enfrentavam a extorsão em série. Dizer que já havia sido assaltado há pouco, não convencia ao novo bandido que reagia quase sempre com violência. O sistema da marginalidade foi crescendo como bolo fermentado. Bicheiros, traficantes, drogados, faziam da antiga capital do Brasil um território de heroísmo negativo que somente interessava a eles mesmos. A dinheirama de tantas atividades ilegais molhava as mãos de muitos corruptos defensores da lei, como as chuvas mais finas de inverno. O carioca, alegre, extrovertido, vivedor, não merece esse praga infernal que vem castigando a cidade de São Sebastião.
     Demorou décadas para acontecer essa tão necessária mega investida que movimentou 35 policiais com nove blindados e quatro caveirões, além dos apoios de viaturas e de helicópteros. Não é brincadeira um saldo de dez ônibus incendiados em um só dia e mais de cem que procuram recolhimento. Nem sabemos por que as forças armadas não perderam a paciência antes com tantos achincalhes do mal. E essa história de direitos humanos para os marginais que praticam as barbáries, parece coisa de santidade sem resultados. Ao homem de bem, o desprezo, o susto, às humilhações. Ao bandido, própolis e assopro. O Brasil inteiro aguardava, até envergonhado, essa operação que parecia mofina, escondida nos quartéis. Após esses tão esperados feitos, vai haver muito orgulho e aplausos pelo Brasil afora. Se isso tivesse acontecido em todos os estados da Federação e constantemente, o jacaré não teria se criado. Esse episódio vai ganhar nome e, a Vila Cruzeiro vai sair do anonimato para a história do povo carioca. É de se perguntar como nos tempos do cangaceirismo. O que o governo quer fazer que não o faz? Ou mandamos os candidatos ao céu condecorar bandidos ou usamos a TOLERÂNCIA ZERO.



Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2010/11/tolerancia-zero.html