sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL

FELIZ NATAL
(Clerisvaldo B. Chagas, 24 de dezembro de 2010)
       Ainda hoje se discute a data do nascimento de Jesus. Não quero esclarecer esse ponto e deixo os homens discutindo, porque isso é salutar. Tenho a dizer apenas que a Palestina estava sob o jugo romano, quando Herodes foi designado para governar a Judeia. Estive naquela região, justamente um ano após o censo de outros povos subjugados pelos romanos, quando houve o recenseamento do povo judeu. Inclusive ouvi o imperador romano dizer que o censo facilitaria a contagem do povo na cobrança dos impostos. José e Maria moravam em Nazaré, cidade da Galileia, uma das três províncias em que se dividia a Palestina e ficava no norte. Todos nós lemos o decreto do imperador Otávio Augusto. Uma parte do documento dizia que cada cidadão deveria ser recenseado na terra em que nascera. Como o meu protegido e amigo José era da cidade de Belém, província da Judeia, no sul, quis obedecer ao decreto de Roma. Entre a Galileia, onde estávamos, e a Judeia, onde haveria o censo, havia a terceira província que era a Samaria. Foi por aí que seguimos juntos para a terra natal de José. Foi uma viagem longa e dura. Maria estava grávida e viajava num jumento, ora conduzido por José, ora guiado por mim. Sempre ajudei como podia. Ao chegarmos ao destino, procuramos imediatamente uma estalagem. Batemos em várias portas, mas sempre diziam que elas estavam lotadas. Mesmo assim, se tivessem tido boa vontade, teriam dado um jeito para nos acolher, principalmente pela situação de Maria. Andei ainda dando uns sopapos em um dos hospedeiros, mas fui contido pela paciência de José que me disse não valer à pena. E como o que estava traçado ─ lembrei-me ─ não poderia deixar de acontecer, concordei ainda revoltado e procuramos outro lugar.
       Tudo que encontramos foi uma pequena gruta que servia de estábulo. Ali iria ser confirmado o que estava escrito. Havíamos visto a alegria e preocupação de alguns pastores que avistaram no céu a frase: “Paz na terra aos homens de boa vontade”. Naquele lugar, cercado por alguns animais, entre eles o jumento que conduzira Maria, nasceu o Salvador. Manjedoura improvisada por mim e José. Notei que os animais da gruta pareciam entender o nascimento daquele que mudaria o mundo. Enquanto José fazia o parto, eu cuidava de outros afazeres quando fui chamado com os primeiros choros de Jesus. Maria exultava. Mais tarde recepcionei aos três Reis Magos que trouxeram presentes para a criança: ouro, incenso e mirra. Baltazar contou-me como foram guiados por uma estrela diferente nos céus da Palestina. A minha missão foi suspensa quando o casal acomodou-se melhor na cidade de Belém e planejava o regresso a Nazaré. Eu já não estava em Belém quando Herodes, com inveja, mandou eliminar todas as crianças de dois anos abaixo, da Judeia, para vê se matava Jesus. Entretanto, como José foi avisado e se pôs em fuga, fui aguardar a família no caminho do Egito e com eles segui até ali. Ainda retornei com a Sagrada Família a Nazaré, na Galileia, quando Herodes morreu. Cumprida definitivamente a missão, deixei à Palestina e registrei para os anais do tempo. Nem sei por que estou contando isso agora, se eu já havia ajudado os registros dos evangelhos. Talvez tenha sido para lhe desejar um FELIZ NATAL.
* Um conto de Natal.




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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

OCEANO CARLEAL

OCEANO CARLEAL
(Clerisvaldo B. Chagas, 23 de dezembro de 2010)
       Vamos atravessando a Rua Nova de Santana do Ipanema, Alagoas. Construída no terceiro patamar em ordem de afastamento do rio, a rua faz ligação entre o comércio e o Bairro São Pedro. Essa via continua conhecida com esse apelido desde a sua formação, superando em muito o seu nome oficial. Para batizá-la, o prefeito interventor Firmino Falcão Filho (Seu Nozinho), gestão 1947-48, denominou-a Benedito Melo, através do Decreto Nº 37 de 18 de outubro de 1947. Benedito Aquino Melo havia sido comerciante local e intendente eleito do município, gestão 1925-28. Rua considerada muito calma, sempre foi esquerda a negócios e, mesmo estando ligada ao comércio, tem pouco movimento de veículos. Quase toda plana, tem um declive suave no seu último trecho, ligado ao bairro do santo acima. Bem no meio desse trecho, foi construída a primeira igreja fora dos moldes católicos em nossa cidade. A igreja batista resistiu décadas e até possuiu escola nos fundos com saída para a rua vizinha superior. Defronte a igreja batista, do outro lado da rua, havia um muro alto e comprido com cerca de 150 metros ao longo da via. Era um muro cru, avermelhado e áspero, que parece ter sido construído com areia, barro e cal, levando a expressão da época: feito de caliça. Na sua extensão havia vários portais livres, que mostravam os quintais das casas da rua de baixo, onde havia também um amplo terreno baldio que ligava a Rua Nova à Rua Antonio Tavares. Em tempo de eleição, os políticos usavam o muro para os desenhos das suas propagandas. Décadas a fio ficaram como testemunhas as propagandas de Arnon de Melo e outra que dizia: deputado federal Oceano Carleal. Não saíam das nossas cabeças de crianças e adolescentes aquelas pinturas com letras azuis que venciam os tempos, trinta, quarenta anos, a nós passantes de todos os dias: deputado federal, Oceano Carleal.
       No fim desse muro extenso, começavam os balaústres semelhantes ao que cercava o Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Aproximadamente, setenta metros separavam as ruas de cima e de baixo, cuja altura era cortada por uma escadaria ao meio. Ali também era ponto de encontro e malandragem da época. Na Rua Nova funcionou a primeira gráfica da cidade, vinda da Rua Nilo Peçanha, numa sequencia de três senhores proprietários: Raimundo, Luís Gonzaga Pereira e Cajueiro de Castro, bem próxima a igreja batista. No trecho inicial, perto da Pracinha Emílio de Maia, trabalhou o Jornal do Sertão, encarte do diário Jornal de Alagoas. Foram essas coisas mais importantes que funcionaram naquela rua formada quase cem por cento de residências. Nunca procuramos saber, dentro desses supostos quarenta anos em que as propagandas políticas permaneceram no muro arranhento, se o tal Dr. Oceano foi eleito ou não. Mas aquele nome diferente que representava uma grande porção de água salgada (Atlântico, Índico ou Pacífico) sempre foi motivo de atração e lembrança da juventude. Para deputado estadual: OCEANO CARLEAL.


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