VARGAS E O CANGAÇO (Clerisvaldo B. Chagas, 27 de abril de 2011).           De vez em quando surgem focos de palestras sobre o cangaço, co...

VARGAS E O CANGAÇO

VARGAS E O CANGAÇO
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de abril de 2011).

          De vez em quando surgem focos de palestras sobre o cangaço, com as mesmas fotos e os mesmos fatos, num repisar cabuloso das mesmices cangaceiras: as pesquisas das pesquisas das pesquisas. Aqui não tem ângulo novo nenhum. Apenas fato pouco comentado que influenciaram na queda do bando naquela manhã fatídica de 1938.
          Getúlio toma conta do poder em 1930, levado por uma parte da oligarquia, classes médias urbanas e jovens oficiais. Os que o apoiaram queriam a socialização da administração pública, almejavam eleições limpas, economia moderna e industrialização. Evidentemente Vargas tentava equilibrar-se no poder com algumas promessas, concessões e fantasias. Muitos ficaram descontentes pelos mais variados motivos, entre eles, a demora em convocar a Constituinte. Três anos após promulgá-la, rasgou a Constituição e submeteu o país a sua constituição autoritária. Sempre para mostrar boa vontade partiu para combater os problemas sociais urbanos e tentar a industrialização. Assim o homem alimentava esperanças por melhores dias para seguir o seu plano de continuar de cima. Depois de enfrentar a conhecida “revolta paulista” ou “revolução de 32”, outros levantes foram surgindo e sendo dominados através da sua estratégia de perpetuação. Foi assim que Getúlio virou de vez ditador em 1937, decretando tal Estado Novo seguido de intensa propaganda. Era apontado, propositadamente como o “Pai dos Pobres e dos Trabalhadores”, liberando algumas conquistas ao proletariado. Os estados intensificaram a prática de interventores, bem como as intendências e depois prefeituras. Havia aí uma aliança da burocracia civil e militar e da burguesia industrial para promover a industrialização.
          Preocupado com tanto descontentamento, desde o início, 1930, Getúlio estava muito mais voltado para sua situação política de que para os problemas regionais do cangaceirismo. Certo promotor de Água Branca, Alagoas, envia uma carta enérgica para Vargas, explanando o marasmo das volantes e expondo fatos que fizeram com que o ditador se voltasse para os sertões nordestinos. Ao receber ordem severa da presidência, o governo estadual apertou o major Lucena de tal maneira que o comandante saiu da reunião tão acabrunhado que foi direto pedir proteção e ajuda dos santos, na Catedral de Maceió. O governo estadual lhe dava trinta dias para trazer a cabeça de Lampião. Major Lucena convocou o tenente João Bezerra (acusado de cumplicidade) dando-lhe quinze dias para entregar a cabeça do Virgulino Ferreira da Silva. O desenrolar dos fatos, a partir daí, são narrados cientificamente pelo grande pesquisador do cangaço, Frederico Pernambucano. Para poucas pessoas com bastante conhecimento sobre o aperto dos tenazes getulienses, foi esse o toque decisivo que faltava para o golpe final na hoste lampionesca. Uma simples carta dos montes da Matinha ─ terra de Corisco ─ pareceu irrelevante, mas foi ela quem colocou frente a frente Getúlio VARGAS E O CANGAÇO.


OS MAIS VELHOS (Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 2006 ).           No último dia 21, chegamos aos 219 anos da morte do Tiradentes. Pe...

OS MAIS VELHOS

OS MAIS VELHOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 2006).

          No último dia 21, chegamos aos 219 anos da morte do Tiradentes. Pela história narrada, lida em nosso tempo de escola, vemos a Inconfidência Mineira de um modo. Quando estudamos paradidáticos, surgem fatos polêmicos. Mas a história sempre foi e continua assim por que ela é vista sobre vários ângulos de quem as escreve. Restam ainda detalhes de pesquisas posteriores que complementam ou polemizam os fatos.
          Foi colocada para nós, a imagem de um herói brasileiro mostrado às escolas durante muitos anos. Estranha-me, entretanto, que a representação iconográfica fosse um herói dividido em quatro pedaços, inclusive a cabeça, perna espetada, mais crucifixo e corda. Era aquele quadro horripilante de Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843-1905) em 1893. Todo artista tem o direito de produzir suas criatividades. Acho, porém, que os mandatários não têm razão quando querem nos impingir um herói, muitos menos em condições terrificantes. Os quadros macabros verdadeiros eram apresentados aos Brasil como sinal de castigos para os que ousavam desafiar os de cima. A história está cheia de exemplos de cabeças espetadas em vias públicas. Contudo, as autoridades não deveriam ter mostrado os seus ícones naquela situação pincelada por Pedro Américo. Dizem que a imagem ficara esquecida por quase um século.
          Logo depois da coisa acima, a estampa escolhida para representar Joaquim Xavier da Silva, no panteão nacional, foi a de um homem de cabelos longos e barba espichada, produzido por Décio Villares, à semelhança de uma alegoria, com ramos de palmeira, pedaço de cruz e laço datado. Não resta dúvida de que a segunda imagem é bem melhor do que a primeira ─ considerada desrespeitosa. Mesmo assim, por que insistir no aspecto miserável do herói? Finalmente surgiu a imagem do Tiradentes, sem barba, limpo, bem vestido, altivo, parecido com os retratos oficiais de qualquer autoridade. Ah, bom! Agora sim. Os outros castigos após o enforcamento de Xavier pareciam escondidos. Não sei por que alguns livros didáticos ainda insistem em exibir os despojos do homem. Para assustar crianças? Eu mesmo não quero um herói esculhambado daquele.
          Penso que o Ministério da Educação e seus departamentos, bem que poderiam pensar nesses tipos de apresentações didáticas que nada trazem de importante. Outros querem afastar o tradicional Joaquim Xavier, por político de partido “A” ou “B”. Basta o Papai Noel que tomou o aniversário do Cristo. Ê mundo cão sem porteiras!... É morrendo e aprendendo como falavam os nossos avós, como diziam OS MAIS VELHOS.