quarta-feira, 27 de abril de 2011

MORENO DAS ALAGOAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2011).

          Nascido em 14 de setembro de 1875, no município de Pão de Açúcar, Francisco Henrique Moreno Brandão, foi uma das grandes inteligências que honrou Alagoas. Tendo uma vida estudantil agitada em busca do seu espaço, Moreno Brandão foi “prosador, poeta, romancista, orador, jornalista, filósofo, historiógrafo, polemista e humanista”, escreveu meu saudoso amigo, escritor e professor penedense Ernani Otacílio Méro. O insigne Ernani Méro, autor de “História do Penedo” e outras obras importantes, não poupa elogios ao filho de Pão de Açúcar, ao prefaciar a obra “História de Alagôas”, relançada em 1981, pela Sergasa. Não bastasse a sua trajetória através das letras, por si só o livro de Moreno, editado em 1909, marcaria o seu enorme talento ao fornecer uma espécie de identidade ao nosso estado, ainda pobre em fontes de alto crédito onde possa se orgulhar dos seus feitos, retalhos da história brasileira.
          Conta, Moreno Brandão, que na época da maioridade de D. Pedro II, a 23 de julho de 1840, Alagoas encontrava-se em estado lastimável de atraso e de descultura, em contraste com suas riquezas não aproveitadas. A instrução primária era nula e havia 1.500 alunos distribuídos em 38 escolas, sete das quais destinadas ao sexo feminino. No caso do ensino secundário, sem plano definido, esparso, com cadeiras em latim, francês, geometria e retórica na cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro) e em outros centros, com latim e francês, em Penedo. A renda mesmo não atingia os cem contos. Nessa época, Alagoas estava dividida em cinco comarcas, 15 termos e 15 municípios. Falando sobre a segurança, apenas 150 praças tomavam conta de tantas terras, havendo inseguridade e séries de crimes, inclusive ameaças a magistrados. Olhando pelo ângulo das freguesias, havia 20 delas com a proliferação constante de novos templos. Comandava os destinos das terras alagoanas, no momento, Manoel Felizardo de Souza e Mello, que assumira a administração em 18 de julho de 1840.
          Nessa época Santana do Ipanema era Freguesia e ainda contava com o comando do padre Francisco José Correia de Albuquerque que ficou até 1842.
          Está aí um pouco das Alagoas de 171 anos atrás. O exposto permite claramente se fazer um comparativo para análise histórica. É fundamental saber o passado da nossa terra, pois um povo sem história e como um livro sem letras. As nossas escolas, infelizmente não dispõem de matéria específica sobre o estado, nem em cursos básicos e muito menos em esferas superiores. Assim a memória vai sumindo como a de muitas culturas indígenas pressionadas pelos brancos. Por outro lado, o texto mostra a capacidade intelectual de filhos do interior ─ tão distante e permanentemente explorado ─ presenteando o todo com esse acervo magnífico. São necessárias condições e valorização para o surgimento assegurado de outros notáveis, à semelhança de Francisco MORENO DAS ALAGOAS.


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terça-feira, 26 de abril de 2011

VARGAS E O CANGAÇO

VARGAS E O CANGAÇO
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de abril de 2011).

          De vez em quando surgem focos de palestras sobre o cangaço, com as mesmas fotos e os mesmos fatos, num repisar cabuloso das mesmices cangaceiras: as pesquisas das pesquisas das pesquisas. Aqui não tem ângulo novo nenhum. Apenas fato pouco comentado que influenciaram na queda do bando naquela manhã fatídica de 1938.
          Getúlio toma conta do poder em 1930, levado por uma parte da oligarquia, classes médias urbanas e jovens oficiais. Os que o apoiaram queriam a socialização da administração pública, almejavam eleições limpas, economia moderna e industrialização. Evidentemente Vargas tentava equilibrar-se no poder com algumas promessas, concessões e fantasias. Muitos ficaram descontentes pelos mais variados motivos, entre eles, a demora em convocar a Constituinte. Três anos após promulgá-la, rasgou a Constituição e submeteu o país a sua constituição autoritária. Sempre para mostrar boa vontade partiu para combater os problemas sociais urbanos e tentar a industrialização. Assim o homem alimentava esperanças por melhores dias para seguir o seu plano de continuar de cima. Depois de enfrentar a conhecida “revolta paulista” ou “revolução de 32”, outros levantes foram surgindo e sendo dominados através da sua estratégia de perpetuação. Foi assim que Getúlio virou de vez ditador em 1937, decretando tal Estado Novo seguido de intensa propaganda. Era apontado, propositadamente como o “Pai dos Pobres e dos Trabalhadores”, liberando algumas conquistas ao proletariado. Os estados intensificaram a prática de interventores, bem como as intendências e depois prefeituras. Havia aí uma aliança da burocracia civil e militar e da burguesia industrial para promover a industrialização.
          Preocupado com tanto descontentamento, desde o início, 1930, Getúlio estava muito mais voltado para sua situação política de que para os problemas regionais do cangaceirismo. Certo promotor de Água Branca, Alagoas, envia uma carta enérgica para Vargas, explanando o marasmo das volantes e expondo fatos que fizeram com que o ditador se voltasse para os sertões nordestinos. Ao receber ordem severa da presidência, o governo estadual apertou o major Lucena de tal maneira que o comandante saiu da reunião tão acabrunhado que foi direto pedir proteção e ajuda dos santos, na Catedral de Maceió. O governo estadual lhe dava trinta dias para trazer a cabeça de Lampião. Major Lucena convocou o tenente João Bezerra (acusado de cumplicidade) dando-lhe quinze dias para entregar a cabeça do Virgulino Ferreira da Silva. O desenrolar dos fatos, a partir daí, são narrados cientificamente pelo grande pesquisador do cangaço, Frederico Pernambucano. Para poucas pessoas com bastante conhecimento sobre o aperto dos tenazes getulienses, foi esse o toque decisivo que faltava para o golpe final na hoste lampionesca. Uma simples carta dos montes da Matinha ─ terra de Corisco ─ pareceu irrelevante, mas foi ela quem colocou frente a frente Getúlio VARGAS E O CANGAÇO.



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