domingo, 1 de maio de 2011

PATRIMÔNIO DO BRASIL

PATRIMÔNIO DO BRASIL
(Clerisvaldo B. Chagas, 2 de maio de 2011)

          Quase caí de costas com a surpresa, ao abrir a revista. Um sentimento emotivo de respeito, admiração vizinha ao divino, longos e ternos olhares para as fotografias do mestre Aziz Nacib Ab’ Saber. Estava ali o cientista geógrafo, o maior morfologista do Brasil no alto dos seus 85 anos. O homem do relevo, das montanhas, planícies, depressões, apaixonado como eu, por esse ramo belíssimo da Geografia Física.
          "De pai libanês e mãe brasileira, paupérrima, como ele mesmo diz, Aziz morava em Tatuapé e lecionava no Colégio Estadual Caetano Campos, para ajudar a mãe na pobreza em que viviam. Como aluno da faculdade, traduzia para seus colegas tudo o que o professor americano falava e ainda comentava muito mais sobre o assunto da sua paixão. Admirado, o professor Kenneth Kaster, convida-o para preencher uma vaga de jardineiro, na universidade, somente para ficar com ele como assistente. Após consultar a sua mãe, Joventina, Nacib aceitaria o cargo, mas a verba de jardineiro era pouca, teria que continuar lecionando. O professor aceitou suas condições. Aziz Nacib Ab’ Saber, era ótimo e sozinho em Geomorfologia, tanto que muitas vezes os colegas nem entendiam o que ele estava dizendo sobre o assunto. Tomou conta da biblioteca desprezada, pegando livros indicados para Kaster e pesquisando para si. Depois colocaram Aziz como prático de laboratório para não ficarem com vergonha do jardineiro que mais sabia. Como o dinheiro continuava curto, permaneceu lecionando. Famoso no Brasil inteiro, o mestre, com 85 anos de idade em 2010, continuava professor, honrando o compromisso do horário de aula no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). Possui mais de 350 trabalhos publicados. Quando se fala em Educação, diz que o desafio dos professores é uma ‘odisseia bizarra’. Aziz já esteve no Xingó quando os arqueólogos diziam lá que não acharam nada além de três ou sete mil anos. Percorrendo as ribanceiras do rio São Francisco, com seu olhar clínico, Aziz elevou os paredões rochosos para 60 milhões de anos, surpreendendo arqueólogos e historiadores”.
Adaptado: REHDER, Maria. Uma unanimidade na universidade e na Geografia. Conhecimento Prático Geografia, (29): 36-44, fev. 2010.
          Ninguém fala em relevo no Brasil sem consultar o mestre Aziz Nacib. E eu vou lembrando pessoas da nossa região: apaixonadas pela Geografia Geral, doidas pela Geografia Física, Malucas pelo Relevo, alucinadas pelas montanhas. Professores Ivan Barros, Tadeu Rocha, Alberto Nepomuceno Agra e Clerisvaldo Braga das Chagas que marcaram épocas inspirados em figuras proeminentes de monstros sagrados como o homem de Tatuapé. Quem não gostaria de ter um amigo assim, cientista orgulho dos geógrafos, PATRIMÔNIO DO BRASIL.


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quinta-feira, 28 de abril de 2011

LETRAS E FUZIS

LETRAS E FUZIS
(Clerisvaldo B. Chagas, 29 de abril de 2011).

          Já foi comentado o assunto de dificuldades nas pesquisas, relativas a duas causas importantes. Uma delas acontece nas fontes expostas, como os escritos das placas de metais ou não, colocadas nas obras durante as inaugurações. Estão nas pontes, edifícios, praças, geralmente com datas, autores e dados com-plementares. Com a proliferação das drogas, essas placas são arrancadas pelos viciados e vendidas a preço vil nos ferros velhos para a compra do craque, maconha ou cocaína. Pior do que esses vândalos são a ignorância, a má vontade, o ciúme político dos que deveriam zelar pelo patrimônio público, pela história da sua terra. Esses agem criminosamente destruindo todas as identificações de gestões passadas, nas fontes expostas; queimam, escondem, destroem documentos, dão fins aos arquivos e, no mínimo, dificultam as ações dos pesquisadores com as célebres frases: “Não sei; não vi; não conheço”.
          O coronel José Lucena Maranhão foi prefeito eleito em Santana do Ipanema, quando os próprios dirigentes civis eram interventores. Governou Santana como prefeito na gestão 1948-50, foi deputado e prefeito de Maceió. Como tenente, foi chamado a Mata Grande, onde Virgulino Ferreira e seus irmãos praticavam arruaças, como fizeram em Pernambuco e correram para Alagoas, residindo em Matinha de Água Branca. Lucena cercou a casa, houve resistência e tiroteio. Virgulino e os irmãos escaparam, mas no final da refrega Lucena entrou na casa, viu um morto e indagou: “Quem é esse velho?” Era o pai do futuro Lampião. Homem pacato, mas sem autonomia. Não houve intenção de matar pai de ninguém. E na função de major, Lucena também comanda as volantes que dão fim ao próprio Lampião, em 1938. Um predestinado e marcado pela espada. Chegado a Santana a frente do 2º Batalhão de Polícia em 1936, aliou-se ao padre Bulhões e passou, junto com o padre, a comandar os destinos do município.
          O escritor Oscar Silva, que viveu uma fase sob o seu comando, dizia que o major “gostava de soldado”, isto é, amava e prestigiava a farda; que “suas letras eram poucas, mas compensava com a inteligência e determinação”. Após a hecatombe dos Angicos, Lucena virou coronel e foi prefeito, construindo o mercado da carne e sendo um dos fundadores do Ginásio Santana.
          Ora! Pelo exposto no primeiro parágrafo, sempre pensamos que o fundador da biblioteca de Santana tivesse sido o “Prefeito Cultura”, Hélio Cabral, criador do museu do município. Já pelo parágrafo segundo, não víamos como Lucena iria preocupar-se com biblioteca, sendo um homem de armas. Jubiloso engano! Eis que uma equipe do Departamento de Cultura da atual gestão municipal descobriu dois documentos os quais estamos publicando de forma inédita, agora. Atenção, santanenses! A “Biblioteca Pública Municipal de Santana do Ipanema”, foi criada em 4 de outubro de 1948, Lei nº 16, gestão do prefeito José Lucena de Albuquerque Maranhão, 1948-50. A mesma biblioteca recebeu a denominação de “Breno Acióli”, na segunda gestão do prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, 1966-70, através da Lei nº 291/66 de 22 de abril de 1966. Parabéns a equipe da prefeita Renilde Bulhões em ter desvendado esse mistério tão importante da nossa história. Aqui também, a louvação póstuma ao coronel Lucena que bem soube construir uma ponte entre LETRAS E FUZIS.




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