segunda-feira, 16 de maio de 2011

DOIS PARTIDOS

DOIS PARTIDOS
(Clerisvaldo B. Chaga, 16 de maio de 2011).
Memorial Vivo (19) Pags. 180-81 
“O Boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”

           Após a inauguração do elevado do Pinguim ─ palanque oficial de concreto construído pelo, então, prefeito Hélio Cabral sobre a sorveteria de igual nome, de Firmino Falcão Filho ─ muitos homens sérios e demagogos usaram-no para seus empolgados discursos eleitoreiros. Ali, defronte a igrejinha de Nossa Senhora da Assunção, o povo, através do tempo, iria escutar de perto as lorotas dos políticos.
          Mais ou menos com dezessete anos de idade, decorei duas coisas: uma delas foi o discurso do governador Luiz Cavalcante durante a inauguração da luz, ou seja, da chegada de energia elétrica de Paulo Afonso em nossa cidade. Era natural que após quatro anos de luta para sair das trevas, o santanense estivesse naquela noite no Pinguim. O governador, muito espirituoso, popular e populista. Gostava de andar só, chupar roletes de cana nas bancas dos ambulantes e entrar de supetão nas repartições públicas como andarilho. De cima do palanque, o chefe dizia uma frase, o santanense aplaudia; dizia outra, novos aplausos. Até que o homem encerrou dizendo: “Hoje só não bebe o ovo e o sino. O ovo porque já está cheio e o sino porque tem a boca para baixo”. O povo riu à toa. Uma nova era surgiu em Santana do Ipanema com a força da cachoeira e o ditado batido do governador.
          A outra coisa foi o discurso de um político da Zona da Mata. De cima do mesmo Pinguim ele falava sobre reforma agrária e prometia várias coisas. Nós, estudantes do Ginásio Santana, deixamos as aulas, suspensas naquela noite, para ouvirmos juntos com a multidão. Lá para as tantas, o político, criticando as diversas agremiações partidárias, disse: “Minha gente, neste País só existem dois partidos: os que comem e os que querem comer”.
          Como nós, estudantes, acabávamos de sair das salas de aula, aprendíamos agora a verdadeira lição na sala de aula da rua. Que “bela” esperança para os jovens estudantes brasileiros era apresentada por aquele candidato a deputado!
          Saí para casa, acabado o comício. A lição do Ginásio eu já havia esquecido. Ficara apenas a orientação da rua: “No país só existem dois partidos: os que comem e os que querem comer”.



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sexta-feira, 13 de maio de 2011

KADHAFI É SANTO

KADHAFI É SANTO
(Clerisvaldo B. Chagas, 13 de maio de 2011).

          Quando as Nações Unidas resolveram desalojar Kadhafi do trono perpétuo, a tarefa parecia um treino para as armas. Mas a falta de entrosamento no comando, a escapadela americana, a demora das decisões e a subestimação ao adversário, fizeram brilhar militarmente a estrela do ditador líbio. Esse princípio de conflito que nada resolvia, mostrava uma ONU desarticulada como fantoche trapalhão. E aqueles tigres de caras feias e dentes afiados, pareciam desenhos das nossas chamadas escolinhas. Isso apenas engordava o orgulho do homem do deserto nos derradeiros delírios de derrotar o mundo. E o ditador caprichava cada vez mais no visual estrambótico próprio, na sua postura de Homo erectus, nas fotos de televisão. O que se calculava em algumas horas, em alguns dias, em algumas semanas, parecia montado no cavalo Ventania das vaquejadas nordestinas. Foi provado mais uma vez que o criatório de cobras não é um bom negócio. Foram deixando o pequeno réptil crescer em cativeiro, deram-lhe alimentação adequada para a engorda e o resultado começa a ser colhido na safra 2011. Provado também que o tanger da cobra após a criação, é tão duro quanto à fase da engorda.
          Cansada, talvez, pela esperteza e determinação do chefe da Líbia, a ONU parece que reconheceu ter entrado no jogo como o Saci Pererê, apenas pulando em um pé só. Esse corpo mole permitiu que Muamar fosse trucidando seus compatriotas à vontade, sem nenhum remorso, baseado na estratégia única de vitória. No momento atual ─ quando a Europa começa a se encher de imigrantes forçados da área conflitante ─ a ONU parece endurecer o jogo, partindo para uma decisão definitiva que encerre esse episódio de perda em vidas humanas, dinheiro e péssima repercussão. Vai acionando mais ataques sem os cuidados inicias, tentando eliminar o homem de uma vez por todas ou capturá-lo para julgamento no tribunal do mundo. Pessoas como Kadhafi, mostram muito mais orgulho do que o antigo ditador do Iraque. No caso de iminente derrota, figuras assim, preferem o suicídio à vergonha de serem enjauladas e mostradas a público. É bem provável que faça como o cangaceiro Fortaleza ao ser capturado vivo, quando implorou por sua morte, “pois seria uma desmoralização em ter sido capturado, quando o chefe soubesse”.
          Ao mesmo tempo em que o mundo acompanha a guerra do norte africano, desvia aqui, acolá, o sentido para um terremoto, uma grande cheia, uma feroz partida de futebol. Dificilmente as atenções se voltam para um estado pequeno, massacrado, espoliado, saqueado constantemente pelos abusos cometidos há anos entre figuras que representam o território. Uma vergonha nacional o que se passa em Alagoas. A união dos grandes para levar o suor do trabalhador que não tem sequer o direito de repor por cima o que lhes puxam por baixo. No aperto a mídia estampa, mas faz a chamada meia-sola, expressão popular que indica o malfeito, o tudo pela metade.
          Depois de ser acusado de tantas coisas, vê-se que o ditador da Líbia ─ se conseguir fugir ─ virá para Alagoas, pois entre Executivo, Legislativo e Judiciário Muamar tem muito a aprender, KADHAFI É SANTO.




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