domingo, 3 de julho de 2011

DEVAGAR E FRANCO

DEVAGAR E FRANCO
Clerisvaldo B. Chagas, 04 de julho de 2011


Cada presidente tem uma característica física ou social sempre aproveitada pelos humoristas das diversas linhas do humor. Apenas como alguns poucos exemplos, temos Floriano que se destacou pela coragem; Getúlio, pela ambição e sagacidade; Juscelino, pela visão de desenvolvimento; Castelo Branco, pela moral e falta de pescoço; Costa e Silva, pela falta de tutano; Geisel, pela crueldade; Figueiredo pela cavalice; Color, pela empáfia e Itamar pela vagareza nas palavras, decisões e, fisicamente, pelo seu topete. Assim, o mar de coisas engraçadas vai banhando os que encontram a comédia nos mais sérios dos gabinetes. Itamar visto por esse ângulo, chegava a irritar os telespctadores com suas palavras demoradas ou por suas decisões no mesmo rítmo. Era por isso que os comediantes substituiram o seu nome “Itamar Franco” por “Itamar Devagar Franco”. Além disso, as voltas naturais dos seus cabelos ─ que ele fazia questão de conservar para não aparecer com a fronte calva ─ alimentavam aqueles tipos da profissão. Desse modo, o presidente aparecia mais para as brincadeiras do que para coisas sérias.
           Mas havia por trás desse aspecto irritante e cômico, um homem honesto, sério, direito, cujo período na presidência não foi envolvido com escândalos. Quando Collor foi afastado do governo, Itamar, como vice, assumiu a presidência interinamente no dia 02 de Outubro de 1992. O Brasil vivia uma fase de inflação altíssima. Itamar saiu trocando ministros da economia até chegar à vez de Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda. Em abril de 1993, o governo realizou uma forma de plebiscito para o sistema de governo no Brasil. Pelo povo, foi mantido o modelo republicano e presidencialista. Através de Edmar Bacha, o governo Itamar lançou o Plano Real, em 1994. O plano estabilizou a economia e acabou com a crise hiperinflacionária. O sociólogo Betinho ajudou Itamar no combate à miséria. Não se pode dizer outra coisa sobre Franco, um homem sério e correto em tomar decisões. Dizem que talvez tenha sido o único  governo republicano livre de escândalos de corrupção. Posteriormente apoiou Fernado Henrique à presidência, mas discordou de várias coisas de Henrique.
           Quem elogia sua postura de homem público tem razão. Governou mesmo o país em situação delicada e conseguiu vencer.  Sua carreira aberta foi brilhante, deixando esse exemplo para os políticos brasileiros que vale à pena entrar na história como homem de bem. Precisamos de governantes que honrem a dignidade e se mantenham longe da corrupção, arma poderosa destruidora de caráter. Entretanto, apesar de tudo, o presidente não deixou apagar a imagem característica do topete e das brincadeiras do DEVAGAR E FRANCO.

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

O DIA DA ENTREGA

O DIA DA ENTREGA
Clerisvaldo B. Chagas, 1º de julho de 2011.



Mesmo com o escuro os pardais iniciam a orquestra da madrugada sem ligação aparente com a falta de energia, às duas e meia, ainda da festa de São Pedro. Julho amanhece nublado com aquela frieza dos antigos invernos sertanejos. E assim ─ na linguagem singela da roça ─ o bastão do mês é passado em alto estilo invernoso de festas, diversões e fartura. Um período de chuvas regulares permitiu um ano rico em precipitação generosa, de sementes na hora certa, de boa circulação do real pelos prados, povoados e cidades. Os campos tornaram-se, cheirosos, atraentes. Encheram-se os barreiros, vigoraram-se os pastos, arredondaram-se os animais. Nos partidos de catingueiras as abelhas zumbem e enriquecem o mel. Os pássaros alegram-se na louvação ao Sol que rompe a neblina da aurora. Cantam as águas serenas dos tortuosos riachos no doce encanto do inverno nordestino.
        A raposa dormita na toca do pedregulho. Pula o preá “lampreiro” no lajeado farejando o mundo. Sacode as asas o gavião-carijó. Estica o canto mensageiro o galo velho da fazenda na cabeça da estaca. Bichos peçonhentos enroscam-se nos esconderijos sem gosto pela frieza. O sereno matutino derrete o barro da tapera do caboclo pobre. Pelos lajeiros esbranquiçados, fios d’água prateiam a face molhada, jardim suspenso da coroa-de-frade, urtiga peluda, macambira de flecha. No meio do roçado afia o bico o carcará nos galhos da aroeira morta. E o céu leitoso, infinito, gelado, sente frio e chama o mês de julho.
       Na cidade os pardais insistem nos anteparos dos sobrados; no campo aberto a fauna se retrai. Banham-se as folhas com o transparente orvalho, enquanto as pontas dos galhos enegrecidos balançam a friagem que se impõe. E no chão rendado, o doce ruído das gotas serenadas fazem minúsculas barrocas na areia fina. Lá na forquilha da baraúna, a casinha do joão-de-barro continua virada para o poente.
       É nessa sabedoria multiforme que Senhora Santa Ana recebe o mês de julho, o mês da magia sertaneja. Que os ventos julianos tragam bons fluidos quando junho traz o seu irmão para O DIA DA ENTREGA.

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