domingo, 27 de novembro de 2011

REZE POR ELES

REZE POR ELES
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de novembro de 2011

 Você gosta de areia? E praia? Conforme o momento e o lugar, a areia tanto serve como atrapalha. Quem ainda possui o hábito de ir a Juazeiro, caminhando, partindo de pontos longínquos do Nordeste, sempre vence léguas das grandes sobre areia que emperra a caminhada. O romeiro vai a pé, cortando caminho, na tentativa de romper a distância que faz parte da sua devoção. Já sabe dos riachos secos, dos areais, das longas e medonhas travessias que metem medo nos mais fracos. Bem dizem os cânticos que descrevem os sofrimentos dos que procuram espantar os males visitando a Meca brasileira. Antes ainda havia a fartura da caça, quando animais os mais variados cruzavam as estradas, os caminhos, as veredas. As alpercatas de rabicho, as sandálias de dedo e até os pés calejados, saíam copiando as vitórias a cada etapa vencida. Havia também o caminhão pau de arara aonde se compartilhava a solidariedade com maior rapidez.
          No caso dos romeiros a areia fazia parte do ritual do merecimento. O indivíduo creditava o sacrifício em seu favor na hora de fazer os seus pedidos ao padre Cícero Romão e, mesmo após a sua morte, em 1934, à igreja do Socorro, ao horto, a sua imagem descomunal ou às moitas dos caminhos, aonde paravam para as orações. E se o sertão, antes, era um deserto de gente, hoje é um deserto de bichos e de pé de pau. A farinha seca com rapadura, banana e queijo dos bornais, foi ficando apenas na lembrança dos mais velhos que gostavam de contar as suas aventuras. Foram surgindo explorações às margens das rodovias asfaltadas, desviando antigas rotas com os romeiros à moda renovada.
          A areia da praia também continua a mesma, porém, os mares carregados de lixo, óleo dos navios e esgotos urbanos, não permitem mais o orgulho do velho sonho da casa de praia. Ou você parte para lugares ermos ou fica somente esquentando a pele, com medo danado de pegar uma hepatite, se pular na água, um câncer de pele se permanecer na areia. Você não tem mais o Sertão pleno, nem as praias da felicidade. Tiraram tudo, tudo.
          Bendito os que colocam areia em sua vida. São os indicados para as provações que lhe deixarão no alto. REZE POR ELES.
















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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

MINHA TERRA

MINHA TERRA
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de novembro de 2011

 Essa conversa de divisão de estados parece com as emboscadas do cangaço. De vez em quando os bandidos davam uma incerta para pegar o inimigo no cochilo. Às vezes nada conseguia. Outras ocasiões davam certo, como aconteceu com uma família de Mata Grande, Alagoas. Ali, quando os bandoleiros passavam na região, não deixavam de visitar membros dessa família que ia sendo dizimada aos poucos, resultando em cerca de dez pessoas trucidadas pelo sistema das emboscadas periódicas e incertas.
          Depois de o Brasil ser todo dividido, vez por outra ressurgem as emboscadas das divisões ou das adesões. Assim houve a celeuma de se unir Sergipe e Alagoas, separados pelo rio São Francisco, em um só estado. Imagine o leitor as conversas e discussões que saíram sobre esse melindroso assunto. Depois de assanharem o formigueiro, calaram completamente sobre o tema. Veio à divisão do Mato Grosso em dois. Vigorou o corte que fez brotar o Tocantins e, há pouco tempo falaram em dividir os estados da Bahia e de Minas Gerais que são enormes. A vez agora é passar a faca cega no Pará, arrumando-o em três fatias, certo ou errado? Em havendo êxito, com certeza viriam outros argumentos para fazerem o mesmo com o estado do Amazonas. Talvez queiram chegar a uma divisão perfeita territorialmente, como se as unidades da federação fossem cubos de gelo de uma caçamba doméstica. O danado é que as cabeças pensantes pouco aparecem, dando a impressão aos brasileiros que tudo não passa de boatos. Você sabe a história do “João sem braço”, se colar colou.
          Geralmente a divisão ou união proposta, não levam em conta a naturalidade individual, tradição, usos, costumes, sentimentalismo pelo estado em que se mora e aversão ao estado vizinho. O fuxico, o boato, a fumaça, espalha-se de repente, mas trás a sabedoria popular de que “onde há fumaça há fogo”. Consolidado o fato, vem o trauma que até os cartórios agem como gente, cheios de sentimentos e opiniões. Ainda não temos conhecimento de que exista uma pesquisa falando da parte psicológica e social do cidadão comum, após o choque da separação. Uma espécie de laudo depois da cacetada na cabeça do paciente.
          Como vai ser no Pará? E o açaí? E a castanha? Com quem ficará a Virgem de Nazaré? Enquanto querem dividir o grande estado brasileiro, parece que nada muda na atenção do povo ao combate da corrupção em Brasília. Está difícil agora mudar o foco sobre fortunas fáceis. E quem vê a divisão do estado alheio, põe o seu de molho. Está certo que foi em Belém que Jesus nasceu, mas para a capital do Pará, os interessados estão mandando “Jisus”, um carregador de saco da MINHA TERRA.





















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