domingo, 26 de fevereiro de 2012

FOGO NO GELO

FOGO NO GELO
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de fevereiro de 2012

          Quem contava as maravilhas da Antártida, era o meu professor que depois se tornou famoso, Douglas Apratto Tenório, no Colégio Guido de Fontgalland, em Maceió.  Apontador na mão escorregando pelo mapa do “Continente Gelado”, Apratto, discorria em complemento ao meu velho “mestre-enciclopédia” Alberto Nepomuceno Agra, do casarão Ginásio Santana. Certo de que falava para uma turma pequena, mas interessada, Douglas mantinha uma linha séria e agradável para os amantes da natureza. Víamos o branco do gelo nas palavras do professor e sentíamos a ambição do mundo pelos recursos do subsolo daquele continente. O professor casava suas aulas de Histórias com as da Geografia; na verdade, exibia ambas as matérias apaixonantes, uma vez que o casal há muito já existia. Falava no acordo entre os países exploradores da Antártida, da dificuldade de funcionamento dos motores na baixa temperatura, da fauna marítima, da participação do Brasil nos estudos científicos na base que assegurava sua fatia de pesquisas.
          Agora vamos observando com tristeza, cerca de cinco anos de estudos em diversas áreas do conhecimento, sendo transformados em cinzas. Essa quentura sinistra no gelo do Sul da Terra parece tramar contra os avanços bem sucedidos do Brasil, parecendo coisa proposital. Vai lembrando a destruição da base de Alcântara que impôs sérias consequências às nossas pesquisas do espaço; o misterioso surgimento do “bicudo” no Nordeste destruindo seus algodoais concorrentes dos campos americanos. E o pior é que o incêndio que será investigado pela Marinha Brasileira, levou a vida de duas pessoas da Estação Comandante Ferraz. A retirada às pressas do pessoal da base para o país chileno, foi uma grande frustração e nos pareceu com uma humilhante derrota e vergonhoso carão de adulto para criança. Só quem vive montado na paciência da pesquisa, décadas seguidas, sabe o que é a dor de perder cinco anos de laboratório e anotações. Nesse caso, a única vitória foi o resgate das vidas dos que sofreram com o sinistro do deserto de gelo. Por outro lado, pode ser que a tragédia desperte a vontade de muitos mais cientistas brasileiros por atuações nos segredos do “Continente Branco”.
          Ficam registrados os nossos lamentos e a torcida pelo recomeço de nossas ações em torno do Polo Sul. Fazer o quê. Estão lembrados do Instituto Butantã? As chamas parecem inimigas do País em todos os setores de estudos. Será o Benedito?! Base de Alcântara, Instituto Butantã, estação da Antártida: fogo no ar, fogo na terra, FOGO NO GELO.

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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

SERTÃO VELHO DE GUERRA
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de fevereiro de 2012

          Tenho dentro dessa trincheira de letras, muito lutado pelo Sertão alagoano. Os escritores santanenses saíram cedo da terrinha. Logo que publiquei meu primeiro trabalho, romance “Ribeira do Panema”, não parei mais de berrar feito bode na caatinga em busca de socorro para o nosso semiárido. Sozinho e Deus nessa trincheira, durante várias décadas, lutando, notadamente, contra o ciúme doentio de quem muitas coisas podem barrar e podem elevar. Felizmente chegou a Internet, sistemas que abriu às portas para grandes oportunidades dos que antes tinham os seus trabalhos cerceados. Hoje ninguém mais pode colocar pedra no seu caminho, pois o desvio pela web é imediato. E aqueles que sempre nos queriam ver com mãos atadas, contemplam fungando no próprio “cangote” o vôo sereno do urubu ou a rapidez voraz do gavião. Agora novos talentos são revelados escrevendo aqui, acolá, jogando as peias da timidez no lixo da estrada. Uns têm fôlego curto, outros conseguem prosseguir com certa regularidade, procurando ir mais longe aos seus escritos. Para eles e para nós, a Internet veio como dádiva e os antigos senhores do cabresto não tiveram mais como encabrestar ninguém. Às vezes vem uma vontade medonha de mostrar a prova dos nove. Matar a cobra e mostrar o pau e a serpente. Citar nomes dos poderosos, seus feitos e suas covardias que ainda hoje fazem doer. Entretanto, “para frente é que se anda”, diz o nosso caboclo alagoano.
          Eu não queria entrar na vereda perdida que não leva a lugar nenhum.  Mas, como disse em trabalho pretérito, iniciamos um artigo com um rumo previamente traçado, quando alguma coisa que não sabemos explicar vai desviando as rédeas do nosso objetivo. Estava no quadro-negro, verde ou branco, a peça em cartaz sobre a palma forrageira, desenvolvida para resistir à cochonilha, uma vez que a nossa palma forrageira possui história internacional e sertaneja de alto e incalculável valor. Entretanto, muitas vezes o burro empanca na encruzilhada e não tem pancada na cabeça que sirva. O cavaleiro, aborrecido, parte em novo rumo sem querer. Ninguém, ninguém mesmo quer ser saco de pancadas nem depósito inútil de guardar mágoas. Porém, bem que diz o cantador repentista: Tudo passa na vida, tudo passa/ mas nem tudo que passa a gente esquece.
          Esse traçado de hoje nem precisava ter saído. Como dizia os poetas sobre inspiração, vamos aguardar a pacificidade de Minerva que a deusa nessa sexta-feira não se encontra nos aposentos do Olimpo. Pelo menos vamos deixar baixar a poeira nessa estrada desse SERTÃO VELHO DE GUERRA.


















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