sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O VAQUEIRO



O VAQUEIRO
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de novembro de 2012.
Crônica 899 (poesia)

Quando resolvi na vida ser vaqueiro
O meu terno quem fez foi mestre João
Mandei desenhar no meu gibão
Uma flor que tem no tabuleiro
Era marca de um olhar verde e ligeiro
Pra esconder de uma forma o nome dela
Já o mestre Alexandre fez a sela
Costurada bem feita a bom capricho
Rompedora de pau e carrapicho
Combinando nos couros da titela

No dia da estreia bebi pouco
Botei rapadura em um alforje
Rezei bem baixinho pra São Jorge
Açulei o cavalo como louco
Não ouvia os companheiros, me fiz mouco
Nas caatingas cinzentas da ribeira
Pau e pedra espinho e bagaceira
Só era o que via em minha frente
Difícil colocar freio nos dentes
Quando bate a coragem verdadeira

Criei fama correndo nos torneios
Muitos me chamavam campeão
Nas doidices que fiz nesse sertão
Fui sempre fiel aos meus arreios
Amores chegavam nesses meios
Confortando as carreiras que havia
As aves que trinavam todo dia
Saudavam o vaqueiro nordestino
Eu guardava tudinho como hino
De amor, de oração e de alegria

Certa feita ao correr em um grotão
Nas quebradas do sítio fiquei só
Bem diante de um pé de mororó
O cavalo quebrou a sua mão
Fiquei espetado e sem ação
Acabou-se o vaqueiro nesse estado
E se agora eu conto o resultado
É que o dia não era pra correr
Quebrei o preceito e o saber
Era o dia completo de finados




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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O PADRE TARADO DO SERTÃO



O PADRE TARADO DO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 1º de novembro de 2012.
Crônica nº 897
Nos anos 60 corria a fama de um padre que fumava e conquistava as mulheres casadas da sua paróquia e região. Muitas piadas foram feitas falando sobre o padre tarado. Lembro que estudando em Maceió ouvia os colegas de classe contando às anedotas que envolviam o vigário de um município sertanejo de Alagoas. Ainda quando rapazinho conheci a figura do galã no povoado Pedrão (pé) onde passava minhas férias. Pernas cruzadas, óculos escuros, fumando, ali estava a figura marginalizada da Igreja. O tempo passou, o padre morreu e há uns quinze anos, um senhor contou-me uma interessante passagem acontecida com o vigário no povoado Candunda, que faz parte do município de Piranhas. Por isso ou por aquilo, o padre foi atacado por alguns membros de uma família ignorante e valente que havia por ali. O mais velho que era o chefe, procurava catar o padre com uma faca enorme. O vigário pulava mais do que macaco, tentando livrar-se das facadas que cortavam o espaço perigosamente. A batina esvoaçava e o padre gritava por “misericórdia”, virando-se em ágil atleta para livrar-se dos golpes desferidos. Na hora, o bandido atacante ironizava: “Que Zé das Cordas que nada! Hoje você morre, seu fio da peste!”. Alguém ali intercedeu pelo padre que terminou escapando pelo pau do canto como se diz no sertão.
Atualmente vamos conhecendo pela mídia casos e mais casos de religiosos que se desviam das suas funções. São pedófilos, são conquistadores de mulheres, são os que buscam garotos de programas e assim por diante. Religiosos de inúmeras religiões, pois agora o que mais prolifera no Brasil, é vender o nome de Jesus. Quando os desvios não são feitos por uma via, são realizados por outra. Os escândalos dos roubos e a exploração dos fiéis estão sempre estourando em todos os lugares do mundo, mas o Brasil parece que comanda. E a Justiça, quando parte para esse negócio de religião, de fé, de crença, parece ser mais lenta do que já é. E vão se misturando no país, a violência que não para de crescer, a corrupção e escândalos religiosos, como se somente um milagre acontecesse para normalizar tudo. Um milagre vindo do céu ou a vez da força bruta como o caso do PADRE TARADO DO SERTÃO.



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