NA LAGOA Clerisvaldo B. Chagas, 15 de novembro de 2012 Crônica Nº 908 Hoje a cidade de Marechal Deodoro se engalana para celebr...

NA LAGOA



NA LAGOA
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de novembro de 2012
Crônica Nº 908

Hoje a cidade de Marechal Deodoro se engalana para celebrar a proclamação da república. Berço de Marechal Deodoro, o primeiro presidente do Brasil, a antiga capital de Alagoas não perde a oportunidade de mostrar-se a todos. Situada às margens da lagoa Mundaú, o município em festa fica bem pertinho de Maceió e foi um dos primeiros povoamentos do estado, quando Alagoas ainda pertencia a Pernambuco. Apesar de ser uma cidade antiga, Marechal possui o seu polo industrial dividindo com Maceió as fábricas que são implantadas na zona litorânea. Ali está situado o complexo químico do plástico que atrai cada vez mais empreendimentos para a região. O visitante pode chegar ao município através das deslumbrantes paisagens lagunares navegando tranquilamente pela majestosa lagoa Mundaú. Outra opção é seguir por terra cortando o asfalto de rodovia, recentemente duplicada, passando pelo manguezal entre a lagoa e as praias.
Além dos cenários encantadores da lagoa, das praias e do mangue, o turista poderá fazer caminhadas ecológicas pelos sítios próximos, conhecendo vegetação, árvores frutíferas, pesca artesanal, culinária do povo simples e modo de vida de seus habitantes. Para quem gosta de cultura, estão à mostra seus antigos casarões formados por igrejas e conventos. Páginas da história poderão ser pesquisadas sobre como Marechal Deodoro foi importante para Alagoas e como perdeu o nobre título de capital para Maceió. Para intensificar suas pesquisas, pessoas interessadas devem procurar os acervos dos diversos museus de Maceió, entre eles, o Instituto Histórico e Geográfico. Dizem que em Marechal quem não é pescador é músico. De fato as duas tradições se complementam e ambas alegram sobejamente que as procuram.
Uma vasta programação está prevista para hoje naquele lugar. Um ótimo passeio aguarda aquele que procura furar a rotina do trabalho. Marechal Deodoro, um grito republicano NA LAGOA.

CANTADOR DE VIOLA Clerisvaldo B. Chagas, 14 de novembro de 2012. Crônica Nº 907 A Literatura de Cordel sempre apresentou criat...

CANTADOR DE VIOLA



CANTADOR DE VIOLA
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de novembro de 2012.
Crônica Nº 907

A Literatura de Cordel sempre apresentou criatividades para a “peleja”. Uma cantoria de viola entre repentistas nordestinos era chamada pelos cordelistas de “peleja”. Assim surgiram muitas cantorias famosas em folhetos vendidos nas feiras com as capas em xilogravura. Peleja de Severino Pinto X Severino Milanês; peleja de Carneiro X Serrador... E assim por diante. Em uma delas, não lembro mais o autor e nem os protagonistas, a dupla sai da básica e tradicional sextilha para o martelo agalopado. O martelo agalopado é entre os mais de quarenta gêneros de uma cantoria, o mais nobre e belo de todos. Nessa versão se canta de tudo, porém, é praxe usá-lo para um desafio. Um desafio, uma discussão sobre conhecimentos os mais diversos, pode pender até para o baixo calão, conforme o estado de espírito dos cantadores.  A cantoria a que estamos nos referindo, um dos repentistas saiu-se com esta estrofe:

“Certa vez agarrei um violeiro
Dei-lhe murro com meu possante braço
Que a cabeça voou pelo espaço
Foi cair lá no Rio de Janeiro;
Uma perna caiu em Limoeiro
E a outra caiu na Indochina;
A viola caiu na Cochinchina
A barriga e a espinha dorsal
Desabaram na França e Portugal
Foi o fato cair na Palestina”.

Certa feita, em palestra com um político e pesquisador do folclore, na cidade de Senador Rui Palmeira, contávamos histórias um para outro. A sua preferência era justamente pela cantoria de viola, glosas e versos ocasionais que formam historietas imorredouras. Entre uma geladinha e outra, às vibrações constantes pelas estrofes bem acabadas dos crânios do Sertão. Pessoas amantes da arte do repente iam encostando, puxando uns banquinhos e engrossando a turma dos apologistas. Depois de muitas gargalhadas e rodízio das “louras”, recitei a estrofe acima e fiquei aguardando o resultado. O pesquisador, mas também político e adversário do prefeito da época levantou-se sério, apoiou-se num galho de árvore com o braço, tirou o chapéu e suspirou. Depois olhou para a turma de amigos e disse por aqui assim: “Que pena! Parece que isso só acontece com CANTADOR DE VIOLA”.