quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

GUARDIÕES VÃO AO PARAÍSO



GUARDIÕES VÃO AO PARAÍSO
Por Clerisvaldo B. Chagas, 3 de janeiro de 2013
Crônica Nº 1115

Após exaustivo trabalho no inferno de lixo, entulho, cercas de arame, águas negras de fossas, avanço de construções e pocilgas no leito do rio Ipanema, riachos Salgadinho, Camoxinga e Salobinho (onde estão a Vigilância Sanitária e a Defesa Civil?), os guardiões tomaram novo rumo. O destino agora era o paraíso do rio Ipanema, trecho urbano, entre dois a três quilômetros do centro. Menos de um por cento do povo santanense conhece o lugar, ali após o Bebedouro, um pouco abaixo da foz do riacho Bode.
O lugar é chamado Cachoeiras e poderia ser usado para passeios instrutivos e de lazer para todas as escolas de Santana e aberto ao turismo controlado. As Cachoeiras representam um quilômetro ao longo do rio tomando toda a sua largura. É um sem fim de pedras torneadas, malocas, recantos, craibeiras, flores selvagens, poços escondidos e inúmeras espécies vegetais que vão desde a erva mais simples às árvores de porte, passando por cactáceas diversas como facheiro, mandacaru, macambira de flecha e catingueira, pau-ferro, urtigas, numa formação natural que nada deve aos jardins botânicos mais famosos que conhecemos.
 Na divisão do rio Ipanema, trecho urbano subdivido em seis, os guardiões marcam as Cachoeiras como o sexto. Devido à filtração das águas fétidas nas areias, desde a Barragem até o Poço do Escondidinho, por trás das residências do Bebedouro, o lugar permanece preservado.
Um grupo de guardiões chegou até a tomar banho entre as enormes pedras, pois o calor reinante apontava para os diversos córregos internos cercados de muito verde. “É de tirar o fôlego, tanta beleza”, diziam os guardiões embevecidos. O desprezo popular foi tanto ao rio Ipanema ─ após a chegada da água do São Francisco ─ que o grande paraíso ficou esquecido por todos.
O visitante às Cachoeiras só pode deixar rastros e trazer belíssimas fotos. Das mais de 200 fotografias sobre as Cachoeiras, selecionamos apenas três como amostra grátis aos nossos queridos leitores.



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domingo, 29 de dezembro de 2013

LAMPIÃO, LAPIAL E O GAGO



LAMPIÃO, LAPIAL E O GAGO
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de dezembro de 2013
Crônica Nº 1114 (Inédito)

O assassino, bandido, gênio militar, Lampião, gostava de cortar caminho por Alagoas. O costume era entrar pela região serrana do estado ─ Mata Grande e Água Branca ─ e depois seguir por um dos dois roteiros: descia em direção ao rio São Francisco e dali subia para Pernambuco, entre Cacimbinhas e Palmeira dos Índios ou descia dos dois municípios primeiros e tirava direto. Quer dizer, marchava pelo raso de caatinga que correspondia a Inhapi, Carié, Olho d’Água do Chicão (atual Ouro Branco), até Águas Belas e região do Pau Ferro (hoje Itaíba). Naqueles lugares tinha protetores de peso como os coronéis Audálio e Gerson Maranhão.
A três léguas do Pau Ferro, no sítio Saco, morava o senhor João Leite de Carvalho e sua esposa Maria Leite de Carvalho. Quando precisava, o senhor João ajudava no trabalho da fazenda Angico Torto, de Gerson Maranhão.
Quando Virgolino se separava da companheira, Maria Bonita acoitava-se na casa do senhor João Leite, onde nunca lhe faltou nada. Mas Lampião não conhecia João Leite que por ser gago e tato, também era conhecido como João Gago.
Certa feita João foi ao mato extrair varas para fazer uma casinha de taipa. Durante o seu trabalho foi cercado por um grupo de Virgolino Ferreira, comandado por ele mesmo. O chefe prendeu imediatamente o agricultor e começou a interrogá-lo. Gago e tato e ainda mais, nervoso, o senhor João com sua fala emperrada, distorcida e incompreensível, irritava Lampião que pensava que o homem estava espionando a área para levar informações às volantes. Então, o bandoleiro começou a bater no agricultor, aplicando-lhe tremenda surra com a folha do punhal. O gago durante o aperreio gritava que “parasse com aquilo, Lapial!”. Quanto mais implorava, mas Lampião batia.
Maria Bonita que estava na casa do agricultor, ouviu os gritos, justamente com as outras pessoas, quando dona Maria Leite disse correndo em direção à mata: “Aquilo é João e eu vou lá”. Quando Maria Bonita riscou em cima da bagaceira, berrou para o amante que não batesse no homem que a vítima era o dono da casa onde ela costumava se hospedar. Lampião ficou atônito, guardou o punhal e ele mesmo disse: “Pois ele escapou por um triz, já ia sangrá-lo”.
João Gago viveu muito tempo ainda e, dentro do seu conformismo, continuou agora servindo aos dois, Maria Bonita e Lampião.
O neto do senhor João Leite, Lourival Carvalho, contou o episódio, mas não soube dizer se depois das lapadas de punhal o gago conseguiu o milagre de ficar bom da língua. 
* IMPRESSÃO EM LIVRO SÓ COM AUTORIZAÇÃO DO AUTOR. DIREITOS AUTORAIS.

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