quarta-feira, 1 de outubro de 2014

AGRIPA, UM GRITO NO SERTÃO



AGRIPA, UM GRITO NO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de outubro de 2014
Crônica Nº 1.272

Rio Ipanema no local Cachoeiras (Santana). (Foto: Agripa/Arquivo).
Um dos mais graves problemas ecológicos das últimas décadas nos sertões do Nordeste foi sem dúvida o desmatamento. Foi ele quem assoreou centenas e centenas de riachinhos, riachos e rios intermitentes, inclusive os que levam ao rio São Francisco.
Além de se perder milhares e milhares de hectares de terras cultiváveis, pelo desmatamento e posterior lixiviação do solo, número incalculável de toneladas de areia, estão quase riscando do mapa o Velho Chico. Esse mesmo Velho Chico agonizante que abastece os seus algozes que tentam extingui-lo pela ignorância ambiental.
As correntes periódicas pequenas e grandes que durante séculos mataram a sede do povo sertanejo, através de suas cheias e cacimbas, recebem nova ameaças. É a corrida em escala industrial da extração de areia dos seus leitos. A mesma areia que esconde o precioso líquido no âmago dos lençóis freáticos. Além disso, esses rios sertanejos estão recebendo os dejetos de fossas livres de povoados e cidades por onde passam. São toneladas e toneladas diárias de fezes invisíveis a prefeitos, vereadores, governadores e ministérios públicos, cujas prioridades não estão ligadas ao meio ambiente.
Coração na pedra. Rio Ipanema no local Cachoeiras. (Foto: Agripa/Arquivo).
Quando se fala em matas ciliares, vê-se a ambição de proprietários de terras marginais, esticarem suas cercas até mesmo cruzando os rios patrimônios do povo.
No sertão alagoano alevantam-se dois grupos de pessoas que gritam nos ouvidos das autoridades moucas. Os “guardiões da mata” no povoado Capelinha, município de Major Isidoro e os “guardiões do rio Ipanema”, em Santana do Ipanema.
Enquanto os governos estaduais que bebem uísque amaldiçoado, não se interessarem pelo assunto, riachos como o Dois Riachos, Desumano, Camoxinga, Salobinho, João Gomes, Riacho Grande, Gravatá, Capiá, Traipu e muitos outros, vão morrendo e arrastando a morte ao Velho Chico.

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PROTESTO NO RIO IPANEMA



PROTESTO NO RIO IPANEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 1º de outubro de 2014
Crônica Nº 1.271


No rio Ipanema de tudo se joga
Sapato, tesoura, martelo, penico,
Camisa de pobre, cueca de rico,
Resto de farmácia, molambo de toga,
Contas de rosário de alguém que roga,
Lata enferrujada, corda de laçar,
Sutiã redondo que alguém quis jogar,
Pedaço de sebo, metal de cinzeiro,
Garrafas de tudo, chifre tabaqueiro,
Que as águas nem levam pra beira do mar.

No rio Ipanema se joga panela
Galinha doente, rato apodrecido,
Papel higiênico, chapelão roído,
Fezes de esgoto, madeira, tramela,
Calçola de velha, cadeira de tela,
Jogo absorvente de mulher usar,
Cachimbo de coco de negro pitar
Que alagam com tudo, que cobrem os terrenos,
Pedaços de tanga, camisa-de-vênus
Que o Panema carrega pra beira do mar.

No rio se lava fato de bovino
Carroça de burro, roupas de enfermos,
Só tem funga-funga nos lugares ermos
Lavam-se cueiros, bunda de menino,
Defecam nas margens, no capim mais fino,
Aparece o jumento para se espojar,
A jumenta relincha querendo brincar,
A Água aparece no terreno morno,
Com fato, com, pedra, com casco, com corno,
Transporta todinho pra beirado mar.

·         Extraído do livro do autor: “Ipanema um rio macho”.
Publicado em 2011. Pag. 37.



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