quarta-feira, 8 de outubro de 2014

CHICO



CHICO
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de outubro de 2014
Crônica Nº 1.276

“Assim que a notícia da morte se espalhou, amigos e admiradores de todas as raças e credos correram até ele. Quando a polícia chegou ao local para fazer o isolamento, 500 pessoas já aguardavam a liberação do corpo. Chico Xavier foi velado, conforme seu desejo, na pequena sala azul da Casa da Prece, onde atendeu durante 25 anos. Por lá, desde domingo às 22 horas até terça-feira na hora do enterro no cemitério João Batista, passaram 40 pessoas a cada minuto. Em certos momentos a fila chegou a quatro quilômetros e os que estavam nela não se importavam de esperar horas para se despedir.
A cidade de Uberaba ficou lotada e os hotéis rapidamente esgotaram suas reservas. Em várias capitais brasileiras as empresas de ônibus colocaram carros extras para dar vazão ao volume de pessoas que queriam embarcar para Uberaba.
Minas Gerais ficou de luto por três dias, Uberaba decretou feriado e o governador Itamar Franco falou do carinho da alma iluminada que se dedicava aos pobres.
Chico Xavier, 92 anos, um dos homens mais essenciais do nosso tempo, soube preparar a sua partida. Ele foi com honras militares, uma chuva de pétalas e as vozes de um coral. Muito justo para quem soube tocar de ouvido a música do coração”.

XXX

“Foi bastante difícil o último ano de vida de Chico Xavier. Com apenas 30% de audição, cego de um olho e enfraquecido, o maior médium de todos os tempos recebia cuidados de dois enfermeiros que se revezavam dia e noite. O médico particular, Eurípedes Tahan, o visitava três vezes por semana. A alimentação prescrita era leve e saudável. Pela manhã, chá com torradas. No jantar, apenas sopa. A de legumes com carne cozida era a preferida do mineiro Chico Xavier.
Aos 91 anos assustou os amigos com a pneumonia nos dois pulmões. Ele mal conseguia falar, apenas sussurrava algumas sílabas. Mas resistiu.  O espírito forte enfrentou angina, labirintite, problemas cardíacos e crises de pneumonia. Ele chegou a tomar 18 comprimidos por dia para todos os seus problemas de saúde e ainda um complexo vitamínico”.
·        Extraído da revista Planeta, edição extra, histórica. Paginas 9-11.


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terça-feira, 7 de outubro de 2014

NEGROS EM SANTA



NEGROS EM SANTANA
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de outubro de 2014
Crônica Nº 1.275

Livro editado em 2012.
Situado a 210 quilômetros de Maceió e a 300 da serra da Barriga, palco de luta do Quilombo dos Palmares, o município foi colonizado pelos arrendatários de terras e sesmeiros descendentes de portugueses. Pelo primeiro documento encontrado sobre Santana do Ipanema, datado de 1771, vê-se claramente que a região sertaneja já estava semeada de proprietários rurais instalados em léguas de terras selvagens que caracterizam o início do povoamento branco. A área era ocupada pelos índios Fulni-ô ou Carnijós que habitavam o território da vizinha Águas Belas, Pernambuco. Os Fulni-ô foram acessíveis àqueles diferentes, formando o mestiço curiboca, mameluco ou caboclo, sendo esta última, a expressão mais usada até hoje. O caldeamento branco mais índio formou assim um novo tipo humano resistente de pele branca, queimada: o caboclo nordestino.
O gado já havia invadido o Rio dos Currais e as pequenas ribeiras do semiárido alagoano, surgindo à figura destemida do vaqueiro, caboclo tratador do gado por excelência e que ao boi dedicou a sua vida. Foram assim formadas a origem e a descendência do povo santanense com a aristocracia rural branca de sangue português e a coragem bravia dos índios da caatinga.
(...) Os negros em Santana, todavia, possuem um elo que tentamos descobrir com os quilombolas da serra da Barriga. É bem possível que Martinho Rodrigues Gaia, fazendeiro vindo da Bahia, tenha trazido escravos que ajudaram no abrir de picadas até Santana, em 1787, data da fundação da cidade.
Habitante do Alto Tamanduá.
Entre 1640 e 1695 (morte de Zumbi) ocorreu o auge e as guerras dos negros refugiados na Barriga. Levando-se em conta a data de 1687e a chegada de Martinho, em Santana, 1787, apenas 100 anos separaria o espaço entre os acontecimentos. É de se supor, contudo, que, tanto pela extensão do quilombo de Zumbi que ia até a foz do rio São Francisco, quanto pelos desertores das várias batalhas com os brancos, tivessem chegado por aqui os primeiros e esporádicos elementos ou representantes da raça negra.
·        Extraido do livro “Negros em Santana”, editado em 2012, páginas 5 e 6.


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