terça-feira, 18 de novembro de 2014

MÁRIO NAMBU



MÁRIO NAMBU
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de novembro de 2014
Crônica Nº 1.306

Nambu ou perdiz. (Foto: divulgação).
Conheci muito bem Mário Nambu. Talvez à sua lembrança tenha vindo desse tempo diferente que se formou na minha terra, após a trovoada. Hoje amanheceu como se diz por aqui “bonito para chover”. E esse bonito para chover também representa um frescor, um tempo ameno, uma temperatura agradável com o céu ainda de cor cinza. Parece até primavera de verdade.
Era o momento escolhido para o caçador de nambu e codorniz, como sempre denominamos essas duas aves sertanejas. A codorniz, menor, a nambu do pé-roxo do tamanho de uma galinha. O nosso personagem popular, Mário, chegava para o meu pai e perguntava quantos nambus ou quantas codornizes queria. E as pessoas que estavam por perto, ironizavam como brincadeira perguntando se as caças estavam amarradas no mato aguardando o caçador. Todos conheciam, porém, a eficiência do homem, atirador no voo, daí o apelido. Quando o caçador retornava da caatinga trazia os troféus pendurados de cabeça para baixo, no cinto da calça.
Mário tinha uma voz rouca. Costumava ficar palestrando nas calçadas do comércio. Muitas vezes calado, sofrido e revoltado. Era o único cantor que imitava Augusto Calheiros e quando cantava possuía uma voz maravilhosa. Gostava de mentir sério como brincadeira. Certa feita contou que fora caçar e não estava tendo sorte. Para não voltar de mãos vazias, ao avistar um macaco, apontou a espingarda para o bicho. O macaco ameaçado disse: “O que é isso, seu Mário?! Está me desconhecendo?”.  O homem baixou a arma, atônito e, o macaco foi embora.
Ao ser questionado por um da plateia da roda: “O que é isso, seu Mário? Quem já viu macaco falar?”. Ele simplesmente respondeu: “Ô, meu filho, até aí não me impressionei com isso. Mas fiquei abobalhado porque o peste me conheceu e falou o meu nome”.
Sei não! Quando penso em Mário Nambu, meu conterrâneo velho de guerra, tenho a impressão de que, com o seu talento de macaco daria um ótimo político, que pena! Mais um homem mentiroso não aproveitado nos anais dos demagogos.


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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

TROVOADA



TROVOADA
Clerisvaldo B. Chagas
Crônica Nº 1.305

Menino, negócio danado! Anteontem e ontem, a temperatura no Sertão de Alagoas tava insuportável. Muito alta. Céu sem nuvens para quebrar um pouco a inclemência do Sol, imaginamos o  trabalho do homem da roça em campo aberto. Mas fazer o quê? O negócio era seguir o padrão defensor da Saúde, isto é, tomar muito líquido e fugir do Sol diretamente. E do jeito que estava, só mesmo virando boi, bebendo vinte litros d’água duma chupada. Muitos procuraram refúgio aproveitando a desculpa do momento para se arrancharem sem tempo limitado nas mesas de bares, para cerveja preferencial de marca “gelada”.
E como diz o ditado que as trovoadas de janeiro tardam mais não faltam, mesmo com o olho comprido para o firmamento não era possível adiantar o tempo. Mas bem que avisamos quando uma rãzinha, dessas chamadas rapa-rapa, do Sertão, começou a rapar escondida nas imediações. Sinal infalível de chuva, mesmo que o céu esteja completamente azulado. Essa tradição dos nossos avós não falha e dessa vez não foi diferente.
Na noite de ontem (16), quente que só a beleza, como dizia o nosso amigo rural, Eutrópio, o suor descia sem esforço, Procuram-se refúgios na varanda, na calçada, no ar condicionado, no ventilador. Eis que os céus quando querem querem mesmo e, em certas horas da noite, as nuvens escondidas se juntaram, o  trovão deu sinal de vida. Ói! Brinque com a rãzinha rapa-rapa! Os trovões aumentaram o ritmo, os relâmpagos também e, o Sertão velho de meu Deus que vive sonhando com chuvas, recebeu um bocado d’água, ocasião, em que a energia elétrica abandonou os fios e, a briga pelas velas foi enorme.
Em Santana do Ipanema mesmo, falando somente da cidade, foi uma noite daquelas. Muito calor, sem ventilação artificial e no escuro, vá calculando comadre, os transtornos noturnos.
Felizmente chegaram as luzes naturais da manhã afastando relâmpagos e trovões. E como Sertão sem trovoada não presta, novembro já é mês de aguardar o agito da natureza. Tanto é que mal amanheceu o dia, os pardais começaram a saudação. O pipilar estava sobre os telhados como quem diz: “Ô que tempo bom”.

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