sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A REVOLUÇÃO DO OVO


A REVOLUÇÃO DO OVO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de novembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2008


No lugar onde moramos mal o Sol bota a cara de fora, passa o carro do mungunzá com aquele som horrível de circo do interior. Logo vem o churros. O pãozeiro faz alarido com sua corneta de mão e, em seguida, o leiteiro motorizado buzina que nem caminhão Mercedes. Rolinha branca pousa na rua, o jumento orneja na margem do Ipanema, gatos voltam das caçadas e o bem-te-vi canta feliz na cabeça do poste de luz. Mais tarde são os irritantes carros de som do Comércio que não deixam o cristão em paz. O respeito dos decibéis é engolido com farinha e nem a periferia escapa da falta de respeito às leis. Haja verba para atender os ávidos apelos comerciais.
Entre eles o carro do ovo é a grande e insistente novidade em todas as cidades de Alagoas, inclusive, na capital. Por coincidência, depois que foi anunciada a implantação de uma das maiores granjas na cidade lagunar de Santa Luzia do Norte, estar acontecendo à revolução do ovo. Passa o carro anunciando, 50 ovos por 10,00. No outro dia, 40 ovos, 30... E assim por diante. Estamos falando dos ovos brancos de granja. Em Santana do Ipanema, depois do projeto do governo para criação de galinha caipira, criou-se a Cooperativa e o agricultor tem produzido muito e aumentado a sua renda. Parece haver uma concorrência grande agora, entre ovos brancos e avermelhados.
E o nosso velho Brasil, alimentador do mundo, vai em Alagoas, matando a fome da baixa renda através da fartura abençoada das galinhas. E como houve a época do frango que alimentou a pobreza brasileira, agora é o ovo que o vendedor chama de ovo gigante. E alguns são mesmo grandes, mas não vale dizer que estão negociando ovo de ema, ave pernalta, das caatingas.
E fora o tal ovo de granja e o da galinha caipira, ainda tem o ovo de galinha de capoeira, aquele produzido nos terreiro das fazendas e no matagal dos arredores.
Viva! Viva a bendita REVOLUÇÃO DO OVO!

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quinta-feira, 15 de novembro de 2018


O PUNHAL DO ZUZA
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de novembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2007

PARCIAL DA RUA ANTÔNIO TAVARES. (FOTO: LIVRO 230).
Voltando do geral para a terrinha, lembramo-nos da fábrica de colchões do senhor Júlio Pizunha. O nome pode ser pezunho ou de outro modo qualquer, mas o povo o chamava Pizunha e pronto (aquele que tem o dedinho pendurado ao Mindinho). O casarão da Rua Antônio Tavares ocupava a metade do quarteirão e, o quintal chegava à Rua Professor Enéas. Bem dez janelões ao longo do oitão. Quem teria morado naquela casa enorme, antes da fábrica? Ali trabalhava um preto alto e distinto e um baixinho troncudo chamado Zuza. Ambos, gente boa. Nunca nos incomodaram em nada em nossas brincadeiras de crianças por dentro do quintal e na sala de fabrico, de capim e junco.
Zuza era calmo e de voz macia. Entretanto, quando se embriagava era como se quisesse imitar o beberrão tão conhecido chamado “Coleta”. Coleta fazia de conta que procurava esfaquear alguém, sacando punhal inexistente e dizendo: “Olha o punhal véi enferrujado!”. Tinha medo do, então, delegado civil, Isaías Rego e falava ao avistá-lo: “Ave Maria, Seu Isaías!”. Zuza quando estava bêbado não pronunciava quase palavra alguma. Aquele homem doce se desfigurava e partia em direção a qualquer transeunte fazendo gesto semelhante ao de Coleta. Puxava de sob a camisa um punhal invisível e atacava o espaço. Assustava apenas quem não o conhecia, pois, fora esse patim, não ofendia ninguém.
Demolido o saudoso casarão, o espaço foi preenchido por novas residências, fazendo vizinhança à bodega do Carlos Gabriel, o seu Carrito. O proprietário da fábrica era pessoa bastante conhecida em Santana do Ipanema, mas em nossa infância já possuía idade bem avançada. Assim vem à tona, vez em quando, personagens da nossa rua que muito contribuíram com o desenvolvimento da cidade.
Mas quem nunca passou momentos de aperreios diante de certas circunstâncias e vontade de fazer? Fazer de verdade o que o Zuza – pacato cidadão – desejava fazer nas frustrações da vida...
Ah, Zuza! Valeu a psicologia!

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