O PUNHAL DO ZUZA
Clerisvaldo
B. Chagas, 15 de novembro de 2018
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 2007
PARCIAL DA RUA ANTÔNIO TAVARES. (FOTO: LIVRO 230). |
Voltando do geral
para a terrinha, lembramo-nos da fábrica de colchões do senhor Júlio Pizunha. O
nome pode ser pezunho ou de outro modo qualquer, mas o povo o chamava Pizunha e
pronto (aquele que tem o dedinho pendurado ao Mindinho). O casarão da Rua
Antônio Tavares ocupava a metade do quarteirão e, o quintal chegava à Rua
Professor Enéas. Bem dez janelões ao longo do oitão. Quem teria morado naquela
casa enorme, antes da fábrica? Ali trabalhava um preto alto e distinto e um
baixinho troncudo chamado Zuza. Ambos, gente boa. Nunca nos incomodaram em nada
em nossas brincadeiras de crianças por dentro do quintal e na sala de fabrico,
de capim e junco.
Zuza era calmo e de
voz macia. Entretanto, quando se embriagava era como se quisesse imitar o
beberrão tão conhecido chamado “Coleta”. Coleta fazia de conta que procurava
esfaquear alguém, sacando punhal inexistente e dizendo: “Olha o punhal véi
enferrujado!”. Tinha medo do, então, delegado civil, Isaías Rego e falava ao
avistá-lo: “Ave Maria, Seu Isaías!”. Zuza quando estava bêbado não pronunciava
quase palavra alguma. Aquele homem doce se desfigurava e partia em direção a
qualquer transeunte fazendo gesto semelhante ao de Coleta. Puxava de sob a
camisa um punhal invisível e atacava o espaço. Assustava apenas quem não o
conhecia, pois, fora esse patim, não ofendia ninguém.
Demolido o saudoso
casarão, o espaço foi preenchido por novas residências, fazendo vizinhança à
bodega do Carlos Gabriel, o seu Carrito. O proprietário da fábrica era pessoa
bastante conhecida em Santana do Ipanema, mas em nossa infância já possuía
idade bem avançada. Assim vem à tona, vez em quando, personagens da nossa rua
que muito contribuíram com o desenvolvimento da cidade.
Mas quem nunca passou
momentos de aperreios diante de certas circunstâncias e vontade de fazer? Fazer
de verdade o que o Zuza – pacato cidadão – desejava fazer nas frustrações da
vida...
Ah, Zuza! Valeu a
psicologia!
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