segunda-feira, 19 de novembro de 2018

COMO SE FAZ UM ROMANCISTA


COMO SE FAZ UM ROMANCISTA (II)
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de novembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2010
PILÃO: LUÍS GALDINO.

Parte Interna

Pela manhã, ia contemplar o enorme terreiro de trás, repleto de galinhas, pintos e perus. Participava do tititi, chamando as aves e semeando grãos de milho. Jogava também os grãos pelo gradeado de três chiqueiros onde viviam confinados os capões – animais castrados para engorda – servidos em ocasiões especiais. Pareciam perus de tão cevados. Mais tarde ia visitar o pilão de pedra em formato de rachadura onde mulheres lavavam roupa. Ficava a uns duzentos metros dos fundos da casa. Lá para as dez horas, começava a coletar os ovos das aves do terreiro, espalhados em ninhos por vários lugares, inclusive, dentro de casa. Essa atividade me dava muito prazer.
Passeava pelo oitão direito da casa, onde havia algumas bananeiras, e um coqueiro. Pelo oitão esquerdo, perambulava no amplo jardim aguado todas as manhãs pela minha tia. Entrava no vizinho prédio, em preto, que funcionara como vapor e fora queimado pela investida de Lampião. Pelo grande quintal, chegava até os fundos da casa/escolinha – única do povoado – de dona Expedita e seu esposo Barrinho. Às vezes encontrava ali o primo Paulo Chagas, que como eu, passava alguns dias na casa de Expedita. Era filho da minha tia Araci e José Pinto Oliveira, em Santana. Bom quando chegavam à preta Quitéria e sua genitora lá do sítio Gameleira. Passavam o dia. Ambas com pano amarrado à cabeça. Quitéria falava que só uma matraca! Ali castravam os pintos crescidos, lavavam roupa, engomavam e faziam o café com rapadura, batido num pilão de aroeira. O aroma ia longe, longe...
Quando chegava gente ilustre, igual aos padres, docinho para lá, docinho para cá... E o capão gigante no prato das figuras.
Andar pelos quartos arrumados e frequentar a dispensa estavam sempre na minha pauta.
Durante a noite, dormia assombrado com os morcegos que frequentavam o casarão.
Essa era a parte interna e o aprendizado para o futuro.
(CONTINUA).






                                                         

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