COMO SE FAZ UM
ROMANCISTA (IV)
Clerisvaldo
B. Chagas, 22 de novembro de 2018
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Contemplei em uma
imensa plantação de algodão, a colheita do produto, comandada pelo meu tio.
Cerca de 100 pessoas, entre homens e mulheres a quem eles chamavam de batalhão.
Todos protegidos por chapéu de palha de aba grande ou pano à cabeça, bizaco a
tiracolo. Uma senhora puxava cantiga em quadras improvisadas. Cada estrofe era ouvida por todos os que vinham
atrás colhendo o algodão, embizacando e respondendo:
Mineiro pau...
Mineiro pau...
Hora do almoço,
feijoada com charque para o batalhão, debaixo dos laranjais.
O algodão era pesado
e ensacado nos armazéns. Os sacos/estopas eram pendurados ao teto com uma roda
de pneu fino na boca. Um homem dentro do saco pilava o algodão com os pés.
Outro cozia a boca da estopa com agulha de saco e novamente o colocava na
balança de armazém. Dali o produto seguia em carros de boi para a vila de Olho
d’Água das Flores onde era vendido às algodoeiras.
Também contemplei em
outro roçado, a colheita da mandioca, raiz que gosta de terras especiais. Em
lombo de jegue e em carros de boi, o produto chegava a casa-de-farinha. Formava-se a deliciosa festa da farinhada.
Mulheres sentadas no piso de barro tagarelavam e rapavam mandioca em redor do
monte, sempre abastecido. Aqui, acolá aparecia uma macaxeira (macaxeira não é
mandioca) que logo era comida crua pelas participantes.
No caititu, a
cevadeira triturava o produto colocado no cocho. Dois homens fortes rodavam a
roda de veio ligada por barbante, ao caititu. A massa triturada ia para a
prensa manobrada por um sujeito forte. Depois era peneirada, colocada ao forno
de barro, onde um habilidoso cidadão mexia a massa, com um rodo de madeira
produzindo a farinha. O forno era alimentado por lenha bruta. O cheiro gostoso
invadia toda a casa-de-farinha. Eu ficava no pé do forno catando “grolado” para
comer. Lá fora, no oitão, um cabra gritava em referência ao caldo da prensa
jogado fora: “Deixe a vaca longe, Ciço, manipueira mata!”.
(CONTINUA).
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