terça-feira, 19 de março de 2019

A PEDRA ESQUECIDA DO RIO IPANEMA

A PEDRA ESQUECIDA DO RIO IPANEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de março de 2019
Escritor Símbolo de Santana do Ipanema
Crônica: 2.076

RIO  IPANEMA. (FOTO: B.  CHAGAS).
Não é somente o saudosismo, mas parte da história da cidade que vai formando um todo nas narrações do mundo. E os segredos, pequenos episódios, as peculiaridades encantam a alma de poetas, artesãos... Escritores. O simples se agiganta aos olhos do escolhido que avalia a grandeza na pequenez das coisas. Desse modo revolve-se jardim adormecido, invisível, machucado, onde os soberbos não enxergam. Apenas os simples, mesmo dentro da grandeza, são os escolhidos para divulgação das coisas do Criador. E se Deus “enxerga a formiga preta, na pedra negra, na noite escura”, os seus artistas do povo, não enxergam a formiga, mas aprenderam a enxergar a pedra negra na noite preta. Só eles, só os convidados pelo mestre maior podem.
No trecho urbano de Santana do Ipanema, uma pedra em forma de cururu, marcava a intensidade das cheias do rio. À margem direita da corrente, a rocha denominada por nós de “pedra do sapo”, anunciava cheia grande quando ficava totalmente coberta pela água. A graduação distribuía-se com o líquido chegando perto, lambendo a base, subindo até a metade, perto do cocuruto ou distante da pedra. Claro que torcíamos pela cheia total que nos causava espanto, medo e êxtase. Ah... Nunca mais o rio Ipanema botou cheia de respeito. Mas a pedra do sapo saiu de cena duas vezes para ser apenas um marco esquecido, um monumento ao rio sem espectador. E se as grandes cheias são apenas lembranças, a pedra não encontra motivo para ser admirada.
Mas naquele cimo, entre três e quatro metros de altura, foi construído pequeno oratório com escadaria de concreto. Imaginação do “manganheiro” Zé Preto, promessa cristã baseada na fé. Não demorou muito o oratório a ser profanado e destruído pelos vândalos. E o homem que vendia “mangaio” (bugingangas) no chão das feiras, nada pode fazer em defesa do seu pequeno monte santo. O rio Ipanema com raiva não botou mais cheias. Finalmente, passando por ali com alguns companheiros, subimos a rocha, registramos a cena e tivemos trabalho para não tocar à pedra com lágrimas santanenses.
É duro vê...
Vê a pedra esquecida do rio Ipanema.



Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/03/a-pedra-esquecida-do-rio-ipanema.html

segunda-feira, 18 de março de 2019

ALMOÇANDO NA BARRIGUDA

ALMOÇANDO NA BARRIGUDA
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de março de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.075

GALINHA DE CAPOEIRA. (FOTO: B. CHAGAS).
É, o título acima talvez confunda o leitor amigo. Será que o autor não se perdeu? Não seria: “Almoçando com a Barriguda?”, isto é, almoçando com a mulher grávida? Não, a abertura acima está correta e acontece muito com a nossa língua portuguesa. Em Santana do Ipanema, a seis quilômetros do centro em direção a Olho d’Água das Flores, encontra-se o sítio Barriguda. Fica à margem direita da rodovia AL-130 o citado lugar, cuja denominação vem da árvore conhecida popularmente por barriguda (Ceiba glaziovii). Naquela região, proliferaram três ou quatro restaurantes muito pocurados pelos santanenses. Corria a fama da galinha de capoeira e outros pratos típicos à sombra dos alpendres ou das árvores frondosas dos terreiros, movimentavam-se as pessoas nas manhãs domingueiras.
Não sei se a árvore barriguda ainda existe no famigerado sítio. Mas é uma árvore que ocorre também em outros estados nas caatingas do Ceará, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Sergipe e Bahia. Também na Mata Atlântica dos brejos de serras nordestinas e Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Até mesmo em algumas cidades do Centro-Oeste. “Barriguda refere-se ao intumescimento da parte central do caule, à meia altura da árvore, tendo a mesma um diâmetro maior no meio do que na base, e que serve para armazenar água extraída através da seiva xilemática”. Também é chamada paineira-branca, devido às suas folhas brancas quando a árvore começa a perder a folhagem.
Essa árvore que pode chegar aos 18 metros de altura pode dispersar sementes pelo vento. Serve para caixotaria, para encher travesseiro, selas, almofadas, colchões e estofamentos de móveis com sua chamada lã de barriguda (pelos que envolvem suas sementes). Na medicina caseira sua casca serve contra inflamação do fígado e para tratamento de hérnia. Pode ser usada para recompor área degradada. É a árvore símbolo do distrito de Roda Velha, município de São Desidério, Bahia.
Logo estaremos indo atrás de galinha de capoeira nas imediações do sítio Barriguda. É logo ali na entrada de Carneiros.
    “Quer ir mais eu, vamo, quer ir mais eu vambora”.




Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/03/almocando-na-barriguda.html