segunda-feira, 10 de junho de 2019

PROCURANDO GAMELA


PROCURANDO GAMELA
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.123

GAMELA. (FOTO: MOZART MELO).
Foi a danada da gamela que me veio à cabeça para certa ornamentação.  Mas aí a gente esbarra e pergunta aos mais novos e aos mais velhos: você sabe o que é gamela? Será que ainda existe? Onde encontrar? Dizem que sim, gamela ainda existe e pode ser encontrada na feira livre de Santana e de todo o sertão. Mas, será que o leitor conhece a gamela original. Gamela, vasilha de madeira de vários tamanhos, em forma de alguidar ou quadrilonga para dar de comer aos porcos, para banhos, lavagens e outros fins, diz o velho dicionário. A gamela também pode ser de barro, mas estamos no referindo a de madeira. É feita artesanalmente da gameleira, árvore da família das moráceas, do gênero Ficus muito usada para confecção de objetos domésticos.
A gamela é leve igual ao mulungu, amarelada e bastante versátil. Antes do advento do plástico, era muito usada para lavar os pés ou para conduzir comida aos porcos. Para outras várias tarefas domésticas era indispensável, notadamente na cozinha. A rapidez com que surgiram inúmeros objetos industrializados, fez com que a gamela quase desaparecesse, como a bucha de lavar pratos, encontradas nas cercas de arame farpado. Ê comadre, para não passar vergonha é melhor indagar.  E por falar em gamela, gameleira, versos de estrofes do saudoso cantador Jacinto Silva:

“O gameleira
Se tu fulorou
Manda teu perfume
Para o nosso amor...”.

Resolvi o caso da ornamentação de outra maneira e nem procurei a gamela no aglomerado do lugar. Pergunta-se também ainda se fabrica chapéu, abano e esteira de palha? E colher de pau, pilão de tempero, grelha de arame? Assim, para o homem moderno e a mulher atual, pesquisar nas feiras do sertão não deixa de ser uma aventura de arqueologia. Em havendo procura haverá artesãos para todos os gostos, porque a criatividade é coisa da natureza. Muitos objetos interessantes estão espalhados pelas feiras de Pão de Açúcar, São José da Tapera, Palestina, Santana do Ipanema e outras do sertão de Alagoas.
É prazeroso, pesquisar nas feiras livres.

                                                                                                                







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domingo, 9 de junho de 2019

NOSSAS TRADIÇÕES


NOSSAS TRADIÇÕES
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.122
PARCIAL DE SANTANA DO IPANEMA. (FOTO: B, CHAGAS).

Os nossos primeiros escritores santanenses, não se preocuparam em descrever as atividades lúdicas da época. Alguns foram embora cedo e poucos sabemos sobre seus escritos. Outros como Floro de Araújo Melo, Breno Accioli, Tadeu Rocha e Oscar Silva, de maior acessibilidade, também não. Cada qual pendeu para o se compartimento, tornando mais universal o que se conta da terra da Senhora Santana. As brincadeiras das meninas: Pular corda, anel, frutas, adivinhações e outras, não são achadas. Os meninos que se divertiam com o pinhão, a ximbra, o carrinho puxado por cordão, a gangorra, o pega, o carro de ladeira, já eram brincadeiras modernas para a época 50 60, e antes?
Na rua cantávamos: “Dona Mariquinha/cadê Pompeu?/ Pompeu foi à rua/os arubu comeu”. Quem diabo fora Pompeu? E dona Mariquinha? Outros dizeres também se aprendiam nas ruas. “sete e sete são catorze, três vez sete, vinte e um; seu pai ladrão de bode, sua mãe de jerimum”. Quando havia redemoinho se gritava: “Rapadura! Rapadura!”. E outras dessas que nem se pode dizer por aqui.
Tadeu Rocha era da elite e sobre a elite escreveu. Oscar Silva, extremamente pobre e criado pela avó, frandreleira, tornou-se popular. Cantou os anônimos, os tipos populares valorizados pelo seu olhar e sua convivência, os movimentos das ruas, as amarguras sertanejas e mesmo o relevo do sertão em contraponto à Geografia de Tadeu, também seu amigo.
Foi Oscar quem nos lembrou da tradição do doce. Quando havia casamento nos sítios, os noivos vinham casar na cidade acompanhados de inúmeros cavaleiros. Um cabra numa besta, trazia roupas da noiva e era apelidado “calango”. O calango era bastante vaiado na cidade. De volta ao sítio, alguns cavaleiros disparavam à frente para chegar primeiro à casa da noiva e trazer um pires de doce para os noivos ainda na estrada. O doce era comido ali mesmo com uso dos dedos, no meio da poeira. A comitiva bradava: “Viva os noivos, Senhor!”.
Transferimos a crônica de Oscar para o nosso livro: “O boi, a bota, e a batina; história completa de Santana do Ipanema”, porque a balíssima narrativa do homem, não podia se perder. Nesta versão tem detalhes sobre o calango, complementados pelo saudoso professor Alberto Nepomuceno Agra, exclusivo.

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