domingo, 16 de junho de 2019

A AGONIA DOS BAIRROS


A AGONIA DOS BAIRROS
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.126
 
JARAGUÁ. (FOTO: SEMPTUR/WESLEY MENEGARI).
Visitando alguns bairros da capital e interior, notamos a presença de uma tristeza comprida naqueles que já tiveram suas glórias. Qualquer motivo, muitas vezes inesperado, desvia o progresso de uma região, deixando-a sem futuro. Algumas se transformam mesmo em lugares abandonados. Outras jamais superam o trauma e vão vivendo na vagareza do tempo. São inúmeros os motivos que desviam a história dos bairros. Um bom exemplo são os subúrbios emendados de Bebedouro/Maniçoba em Santana do Ipanema. Antes, lugares de festas e passagem obrigatória para agreste e capital, hoje o subúrbio ajardinado – à margem esquerda do rio – parece nem vê a marcha do tempo. Fora de rota viária, amarga sua pobreza e desdenha expectativa.
Na capital, o Bairro Jaraguá exibe o passado endinheirado dos grandes trapiches e dinamicidade das exportações. Mesmo com o esforço público para revitalizá-lo, o aspecto desértico de suas principais vias, causa receio de se andar a pé. Mesmo durante o dia às vezes não se avista outro pedestre na rua além de você. Ao deixar o bairro em qualquer direção, encontra-se a dinâmica do moderno, principalmente nas praias, tantas vezes beneficiadas. Mas esse registro não acontece somente em Maceió ou Santana do Ipanema, guardando-se as devidas proporções. O fenômeno estar espalhado pelo Brasil e pelo mundo, até mesmo pela civilizada Europa. É triste uma aldeia, uma cidade, uma região clamar por moradores imigrantes e até pagar para isso.
Ainda em Maceió, o Bairro Bebedouro, era a entrada principal de quem chegava do interior para a capital. Bairro de casarões tradicionais, onde a elite edificava suas mansões para fugir da agitação do centro. Atualmente também vive um marasmo e tanto. Andar a pé aos domingos pela avenida principal, é vagar no deserto. E quanto à nova ameaça de desabamentos, periferia do Pinheiro, ninguém sabe ainda como ficará.
Enchentes, vulcanismo, terremotos, esgotamento de minas preciosas, desvios de rodovias... São alguns dos motivos que levam ao isolamento de um lugar, antes próspero e feliz.
É a Natureza e o Homem.


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quinta-feira, 13 de junho de 2019

ROSÁRIO DE COCO


ROSÁRIO DE COCO
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.125
 
PALMEIRA OURICURI


Nos terrenos arenosos do Sertão, surge a palmeira ouricuri. Sua existência é respeitada pelos fazendeiros, mas, às vezes é atingida pelo fogo das coivaras. A palmeira ouricuri (Syagrus coronata) pode chegar a ter 12 metros de altura. Dependendo da região é chamada ouricuri, dicuri, adicuri, alicuri, licuri, aricuí, aricuri, butiá, butiazeiro, coco-cabeçudo, coqueiro-cabeçudo, iricuri, licurizeiro, nicuri, uricuri, urucuriiba, nicuri-de-caboclo e urucuri. Do tupi (ariku’ri); (mbuti’á). Seu fruto nasce em cachos a que nós sertanejos, chamamos de coquinhos. Quando caem de maduro fazem a festa da meninada e da culinária. Coloca-se o coquinho numa pedra e bate-se com outra. O coco sai em forma de bolinha. Uma delícia!
Rosário. (Foto: Blog o último dos Monhicanos).
Mais deliciosos são os coquinhos ruminados e regurgitados pelos bovinos. Abelhas e raposas visitam a palmeira. A safra coincide com a Semana Santa, quando os coquinhos são apresentados nas feiras, das mais diferentes formas. Entre elas a de Rosário de Coco. Os coquinhos são furados e enfileirados por uma longa e delgada folha da palmeira e se agrupam em forma de rosário, daí a denominação. Onde tiver menino, rosário não esquenta canto. As crianças, primeiro colocam o rosário no pescoço para exibi-lo. Depois vai devorando um a um. Não só as crianças apreciam o coquinho, mas todas as pessoas. O fruto também é usado nos pratos da época Santa como qualquer outro tipo de coco. Quem nunca provou... Ah, que inveja!
É claro que a mudança rápida no comportamento do mundo faz com que joias como o rosário de coco vá desaparecendo. A tradição também é afetada quando a estiagem se prolonga, prejudicando a safra das palmeiras. Mesmo assim, o rosário de coco ainda aparece na feira de Santana do Ipanema e região durante o período já citado. A partir de Santana do Ipanema e puxando em direção ao rio São Francisco, pode-se contemplar das rodovias, as imponentes palmeiras, como símbolos da resistência sertaneja. O balançar das suas palhas parece um cumprimento de boas-vindas e também um adeus ao viajor.
Eita nordeste arretado!
Orgulho em ser nordestino.

                                                       



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