quarta-feira, 26 de junho de 2019

CACIMBINHAS: MERCULHO NO SERTÃO


CACIMBINHAS: MERGULHO NO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.133

(FOTO: ASCOM/SEINFRA)
Em toda a região sertaneja nordestina é incessante a luta pela sobrevivência.  Cada fonte d’água descoberta ou construída, alivia, renova e aumenta a esperança que recusa morrer. Lá em Cacimbinhas, sertão alagoano, registra-se uma dessas batalhas em busca do precioso líquido. Trata-se da barragem Gravatá que está sendo construída e projetada para atender a 4.700 moradores. Segundo o site TribunaHoje, a obra foi iniciada no mês de abril, está com 35% concluída e em breve chegará ao final. Os recursos vêm do Fundo Estadual de Combate a Erradicação da Pobreza – Fecoe. Cacimbinhas estar localizada na zona sertaneja da Bacia Leiteira e faz vizinhança com Dois Riachos, Major Izidoro e Minador do Negrão.
A barragem Gravatá será alimentada pelo riacho Gravatá e quando pronta deverá ser a solução hídrica para centenas de pessoas, para o criatório e para a agricultura familiar. 
Em nosso romance (inédito) “Fazenda Lajeado”, descrevemos em várias páginas, uma construção de açude por multidão de retirantes. Tudo feito sem máquina alguma. Hoje são ao contrário, duas ou três pessoas na obra, manejando alguns tipos de tratores fortes e modernos. Esses reservatórios – de extrema necessidade para o sertanejo – não custam barato. A barragem de Gravatá, mesmo, tem investimento de mais de um milhão e ocupará uma área de 99 mil metros quadrados. Quando concluída deverá acumular 280 mil metros cúbicos de água.
  Com uma barragem, os habitantes se livram do caminhão-pipa, o governo também se livra das despesas daquela forma de abastecimento. Em Santana do Ipanema, perto de Cacimbinhas, foi anunciada a construção de uma barragem no sítio Barra do João Gomes, que será alimentada pelo riacho João Gomes. Temos a impressão de que o projeto ainda não foi realizado. Barra no Sertão, geograficamente falando, significa foz, desaguadouro, lugar onde um riacho, um rio, despeja em outro. Podemos até chamar Sertão das Barragens, pela quantidade e importâncias que elas exercem sobre seus moradores.
Sem água não tem doce.
Doce só com água.
               

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terça-feira, 25 de junho de 2019

O POETA E O GUARDA DE PESTE


O POETA E O GUARDA DE PESTE
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.132

(FOTO: MAICON MARCOS LITHIRE)
No século passado houve um período de intensa campanha organizada pelo governo, contra a peste. No combate a doença, transmitida por roedores e suas pulgas, estava inserido o “guarda de peste” ou “mata-rato” que visitava as casas investigando e tentando evitar a doença. Cheguei ainda a conhecer cerca de três desses bravos heróis da saúde, em minha terra. Muitas vezes o guarda saía pela zona rural onde passava até uma semana fora de casa, nas suas visitas diárias aos sítios. Examinava, anotava, e sempre colocava um produto nos depósitos d’água de beber, notadamente no pote de barro, largamente usado na época. Era uma vida dura.
Mas o povo não gostava muito do guarda de peste, porque o produto defensivo – chamado pelos habitantes do sertão de veneno – deixava a água do pote com gosto esquisito. Nem sempre, porém, a recepção era má. Havia pessoas que recebia o guarda de forma cordial, convidava-o para o almoço ou lhe dava pequenos presentes, originários dos sítios.
Ao entrar na residência, o funcionário do governo deixava uma bandeira na porta ou na janela. Foi em uma dessas ocasiões em que o festejado poeta Joaquim Vitorino estava no alpendre de uma fazenda, quando um guarda de peste se aproximou e fez o cumprimento. O vate não perdeu tempo e, com muita ironia e talvez com um pouco de inveja, vomitou a estrofe, em décima:
Aqui nesse meu Nordeste
Vem gente igual ao senhor
Goza mais do que doutor
Nesse negócio da Peste
Andando pelo Agreste
Não lhe falta o que comer
É vinho e pinga a valer                 
Grande é o seu regalo
Comendo galinha e galo
Botando o pote a perder.






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