quarta-feira, 14 de agosto de 2019

DEUS E OS CASSACOS



DEUS E OS CASSACOS
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.163

BAIRRO BARRAGEM VISTO DE LONGE. (FOTO: B. CHAGAS).
          Você já ouviu falar no DNOCS? É o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Trata-se de uma autarquia federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional e com sede da administração central em Fortaleza. Foi fundado em 21 de outubro de 1909. Suas finalidades estão no seu título.
          O DENOCS construiu mais de 300 açudes no Nordeste e muitos em Alagoas. Entre o final dos anos 40 e início dos 50, construiu em Santana do Ipanema três obras de grande magnitude. Uma delas foi a ponte sobre o rio Ipanema, dando continuidade a estrada de rodagem BR-316. Aproveitando, foi construído ali – tendo a base da ponte como uma espécie de comporta – um açude no leito do rio com mais de 1km de extensão. Passamos a chamar o açude de barragem. 
          O seu acampamento deu origem ao atual Bairro Barragem que por sua vez originou o Bairro Clima Bom (por trás), ampliou e modernizou sua parte frontal e que faz gosto se vê.
      Após a chegada de água encanada em Santana, a barragem foi desprezada e assoreou. A ponte continua como se tivesse sido construída hoje, pois nesse tempo os homens tinham vergonha.
         O outro empreendimento foi a construção de um açude a cerca de 3 km do Centro, para abastecer Santana. Impressionante como descobriram um riacho tão pequeno e do mesmo fizeram um pujante paredão que nunca vazou. A mesma conversa: Tão grandiosa obra chamada “Açude do Bode” (do riacho Bode) só serviu para o gado da vizinhança. Água encanada, açude esquecido.
         Era uma época muito dura. Os que trabalhavam construindo ou dando manutenção nas estradas de rodagem tinham o apelido de cassacos. Cassaco é o animal silvestre também chamado de gambá, timbu, mucura e sariguê. Quando o trabalhador estava nos campos, geralmente a boia era uma lástima. Para melhorar um pouco a alimentação, o funcionário pegava qualquer galinha que passeasse pela área. Como cassaco de verdade gosta dos galináceos, seu nome passou a ser apelido dos trabalhadores braçais das estradas de rodagens.
       Ganhando pouco, esses trabalhadores zombavam da própria sigla da repartição, DNOCS, afirmando entre risos: DEUS NÃO OLHA CASSACO SOFRER.




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terça-feira, 13 de agosto de 2019

O MUSEU DE DONA ANTÉA



O MUSEU DE DONA ANTÉA
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.162

ESQUINA, MUSEU DARRAS NOYA (FOTO: B. CHAGAS).
          Bibliotecas e museus guardam grandes tesouros da história. Santana do Ipanema, Alagoas, possui apenas um museu. Cidades outras possuem dois, três, cinco... Ou nenhum. O de Santana do Ipanema continua no casarão de esquina, vizinho à Matriz com o salão paroquial. Primeiro funcionou no prédio pequeno multiuso da municipalidade, à Rua Nossa Senhora de Fátima. Na época, entre outras peças, guardava uma das rodas do primeiro automóvel das Alagoas, pertencente ao coronel Delmiro da Cruz Gouveia. Não foi fácil sustentar um museu no tempo da ignorância. A marcha continuava entre vexatórias situações, mas conseguiu chegar vivo ao ano de 2019 com significativas vitórias. Sua organização atual tem atraído alunos e professores de várias escolas bem como pesquisadores e curiosos.
          No quadro comercial sua presença também é destaque no local em que divide as feiras semanais.
          Residir em casarões era sinal de prestígio. Ali morou o maestro Manoel de Queirós (Seu Queirós) também fundador da primeira banda de música, ainda no tempo de vila. Chamava-se Santa Cecília e durou alguns anos após a emancipação. Seu Queirós ainda foi fundador do primeiro teatro na década de 20.
          Alcançamos ainda sua filha Antéa, já em idade avançada, morando e depois tomando conta do museu em que virou a sua residência. Pessoa culta, educada, comunicava-se bem com a pouca clientela da casa. Ficavam mais fáceis para ela às explicações sobre as peças expostas, algumas do seu próprio tempo. Foi relevante para a cultura santanense tanto o pai quanto a filha. Lembramo-nos levemente das suas narrativas sobre as pontes de madeira sobre o riacho Camoxinga, sempre levadas por ele, especialmente a de 1915.
          O museu de Dona Antéa, digo, o Museu Darras Noya, em organização atualmente, nada deixa a desejar em relação a nenhum outro do país. É a cultura tão massacrada antigamente, ganhando terreno e atraindo as novas gerações.
         Foi uma honra ministrar uma palestra no Espaço Cônego Bulhões, sobre prédios públicos históricos e o museu da cidade.



                                              

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