quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 

SEU CARRITO E O OVO DA JUMENTA

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.409

 

Já falei aqui sobre o personagem da minha terra, Carlos Gabriel, o Seu Carrito. Bodegueiro na Rua Antônio Tavares, muito prosperou no seu negócio com bodega bem sortida, bastante elegância e educação. Magro, aprumado, chapéu de massa, fala mansa e compassada, bigode sem exagero e muito querido ali naquelas redondezas. Gostava da fazer folclore em tempo de Semana Santa, quando promovia o pau-de-sebo e a casa-de-urtiga, no terreno baldio defronte a bodega onde hoje é a casa do, então, prefeito Paulo Ferreira. No salão do seu estabelecimento de esquina, sempre tinha pessoas palestrando. Carrito alimentava essas palestras, quando havia pausas entre as compras da sua clientela.

O comerciante gostava de contar histórias das administrações passadas, de Santana do Ipanema, dos bairros, da cidade... Era uma espécie de historiador local, para uma plateia, infelizmente, analfabeta em maioria. Foi através dessas palestras que escutei ali quando rapazinho, sem saber que no futuro estaria reproduzindo em livro os ensinamentos do querido bodegueiro. Posso exemplificar sobre o histórico da igrejinha de São Pedro, nossa vizinha da Rua e Bairro São Pedro. Caso soubesse do meu futuro como escritor e historiador da terra, teria obtido livro completo sobre nossa cidade, mas é proibido prever o dia de amanhã.

Nas imediações da bodega, já na rua de baixo, chamada Rua de Zé Quirino (construída por ele, o Quirino), morava uma cliente da bodega, fofoqueira de ofício. O que via, o que quase via, o que nada via, “espalhava aos quatro ventos”, como reza o ditado popular. Por isso ou por aquilo andou boatando coisas. Nunca procurei saber o quê. Carrito, não querendo ser direto e grosso com a cliente, aproveitou uma daquelas palestras em que a cuja estava presente e disse para todos com muita seriedade: “Tinha uma jumenta lá no sítio Sementeira (estação experimental do governo) que botava ovos semelhante às galinhas...”  Ninguém entendeu nada, nem indagou, inclusive eu que estava presente.

Só muito depois fui raciocinar e compreender que Seu Carrito dava uma lição na mulher presente, tiraria à prova da sua língua ferina quando ela espalhasse a conversa da jumenta da Sementeira.

Carrito, além de historiador, aplicava assim seus dotes da psicologia.

Obs. Somente depois das bodegas, vieram as mercearias, maiores e mais sortidas.

PAU DE SEBO. (FOTO: DIVULGAÇÃO/SEJAL)

 

 

 


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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 

SANTANA – CULTURA E MUSEUS

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.408


Para preservar a nossa história, usos e costumes, foram criado os museus que contarão aos nossos filhos, netos e bisnetos como vivemos hoje e como as nossas bisavós, avós e pais viveram. Em algumas regiões é preciso usar os serviços de arqueologia, sendo muito mais fácil bem equipar, melhorar, evoluir e conservar os nossos museus para o aprendizado dos nossos alunos, povo em geral, pesquisadores diversos e turismo.  Assim, podemos dizer que após altos e baixos no museu único da nossa cidade, hoje ele se encontra nos melhores níveis de grandes cidades brasileiras, graças a dedicação da, então, prefeita Renilde Bulhões. Antes, muita gente recusava entregar suas peças aos cuidados públicos com medo dos constantes desaparecimentos de peças importantes, quando não roubadas, desviadas para museus de outras cidades.

Entre tantas peças importantes naquele casarão, destacamos o primeiro arado do sertão de Alagoas, que tem uma história belíssima e desconhecida até para quem cuida do museu. Uma pedra mó, (15 mil anos antes de Cristo) que nossos antepassados usavam para triturar o milho, fazer xerém e consumir com leite. Consiste em duas pedras grandes, esféricas e polidas uma sobe a outra, ligadas por um veio de madeira e orifício por onde se colocava o milho e acionava o veio manual para rodar a pedra da superfície e triturar o produto. É por isso que estamos (Clerisvaldo e Jorge Santana) querendo entregar ao Museu Darras Noya, duas peças históricas da nossa agricultura. A primeira, descoberta pelo Secretário, Jorge. Trata-se de uma grande peça de um engenho rapadureiro que existiu no sítio Serra dos Bois, município de Santana do Ipanema. Incrível! Um engenho de rapadura em plena caatinga sertaneja. A outra peça será doada pelo nosso amigo ex-bancário, fazendeiro Paulo Décio, do sítio Olho d’Água do Amaro: um vaso de zinco de guardar feijão.

Temos ainda uma peça que almejamos entregar à prefeita Christiane Bulhões, como sendo a PRIMEIRA doação ao futuro museu: MEMORIAL RIO IPANEMA, assegurado por ela. É o livro documentário CANOEIROS DO IPANEMA, episódio santanense resgatado por nós: 40 páginas ilustradas e com prefácio do escritor contista Fábio Campos. Muitas e muitas outras peças já estão em nossas ideias de auxílio ao MEMORIAL como uma canoa de Pão de Açúcar, semelhante às adquiridas ali pelos nossos heróis santanenses do remo. Deus no comando.

PEDRA MÓ E ARADO NO MUSEU (FOTO: B. CHAGAS).

 

 


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