terça-feira, 30 de março de 2021

 

NAS TRILHAS DO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.501





Saí a pé disposto a enfrentar o desconhecido. Segui pela estrada que leva até a Fazenda Baixio, na época pertencente ao senhor Firmino Falcão (Seu Nozinho). Segui em frente e passei direto pelo acesso que leva até o sítio Camoxinga dos Teodósio. É bom dizer que a estrada era boa, mas não encontrava um só indivíduo humano, somente cantos de pássaros.  Avistei um pequeno poço no pé de uma pedra tipo matacão, muito branca e uma craibeira de porte médio fazendo sombra na pedra. Um local bucólico que pedia banho e rede. Provavelmente aquele seria o riacho Camoxinga seco, mas a quem perguntar?  Aos pássaros? Às cercas de arame? À paisagem perfumada? Fui avistar uma casa adiante, fumaça saindo na chaminé, mas nada de cara de gente na janela. Desviei-me para a nossa Fazenda Timbaúba, deixando a estrada que leva até o sítio Barra do Tigre.

Ao sair da parte baixa da Timbaúba, voltei pela Timbaúba alta, onde havia muitas pinheiras, entrei por uma trilha ladeada de caatinga e saí acompanhando paralelamente o lombo da serra da Camonga em direção à cabeça. Quilômetros e quilômetros pela trilha, tão silenciosa que nem canto de ave surgia nos vegetais. Estava sozinho num deserto que nem calango cruzava a vereda. Depois de muito caminhar fui sair na estrada larga que leva ao povoado São Félix, um pouco antes da ladeira que passa pelas imediações da cabeça da Camonga. Bastava atravessar a estrada de terra e estaria diante do sítio Imburana do Bicho. Por que Imburana do Bicho? Pensei: a imburana pode ser de cambão ou de cheiro.  Bicho deveria se referir a algum tipo de praga que havia deformado a arvoreta ponto de referência do lugar.

Retornei à cidade, passando pela fazenda conhecida como “Fazenda Baixio de Abílio Pereira”. Um pouco antes, dei uma espiada em um caminho antigo que saía no Açude do Bode. Eu já o   percorrera com certa dificuldade, pois estava abandonado, solo irregular devidos às enxurradas e mato obstruindo a passagem. Difícil até para burros e cavalos. Nem sei como a ambição humana não avançara as cercas sobre ele e o englobara. Na estrada ainda estava de pé a grande craibeira, marco da estrada para São Félix, quase na frente da casa-grande da fazenda Baixio de Abílio Pereira. Cheguei em casa cansado, mas satisfeito em ter navegado pelas trilhas do Se

Nunca mais revisei meus cafundós

Com essa tal pandemia, só posso respirar nos vegetais do Sertão agora, pelas fotos que o tempo não deixa de mostrar.

 

1.   SERRA DA CAMONGA, AO FUNDO, VISTA DA RUA PEDRO BRANDÃO. (FOTO B. CHAGAS).

2.   SERRA DA CAMONGA VISTA DA RUA PEDRO BRANDÃO. (FOTO: GUILHERME CHAGAS).

 


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segunda-feira, 29 de março de 2021

 

AINDA O MUSEU E OS CIGARROS DE AUDÁLIO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.500

 



Explanando para os futuros pesquisadores sobre o Casarão/Museu de Santana. Além do que foi descrito em crônica anterior com o nome de PERGUNTA NO AR, o prédio ainda possuía (e possui), um pequeno quintal. Continuando o quintal, lateralmente havia (e ainda há) um compartimento com frente para a Rua Ministro José Américo, via também da feira livre. Em determinado tempo, aquele compartimento foi cedido ou alugado e passou a funcionar como bodega de cachaça para os viciados da feira. Nessa época o museu para algumas autoridades, era apenas um lixo que a ignorância não sabia como se livrar do entulho. Bem que o compartimento poderia ter servido para ser instalada a parte administrativa da permanente exposição. A cachaça e o cuspe no pé da mesa venciam a Cultura.

No oitão do edifício, voltado para o Largo da Feira, ainda hoje existe uma pequena porta no sótão. Alguns feirantes guardavam ali suas mercadorias após a feira. Um deles chagou até a negociar suas bugingangas, parte dentro do sótão e parte fora. Era um homem amigo de meu pai, dente de ouro e pronúncia aberta para feijão a que ele chamava de féjão.  Vizinho à entrada do sótão (nós chamávamos de porão) o senhor Audálio colocou ali uma barraca vertical para vender cigarros e que funcionou por muito tempo. Houve ocasiões em que os viciados procuravam os tubos de fumo na cidade e não encontravam, mas na barraca do Audálio sempre havia cigarros, servidos, alíás, com muita rapidez e agilidade no troco, quando precisava. Seu Audálio tornou-se uma pessoa muita conhecida em Santana, com sua barraca de cigarros ao lado do museu. No porão, atendeu por muito tempo o sapateiro Genésio, onde formou sua tenda.

Muitas e muitas histórias foram contadas na barraca do fumo por ele mesmo, o dono. Sentado em banquinho de madeira, bem como seus assíduos frequentadores das palestras, principalmente as noturnas, como a presença marcante do saudoso professor José Maria Amorim, a noite era consumida. Como o tempo é o senhor de tudo, Audálio, nem sei o motivo, fechou o ponto e foi para casa. “Vão comprar cigarros agora na casa da peste!” – disse um gaiato da rua como desabafo.

O que você acha? Essa é a história do museu que não é do museu. Entretanto, acho que daria um livro completo de tantos e tantos casos do “Seu Audálio da Barraca de Cigarros” e seus compromissados com os ouvidos.

Quer saber?! Acho que o homem não fumava e se fumava era com a boca alheia. Ô vida de gado!...

 

ANOITECER DE DOMINGO NO LARGO DA FEIRA, VENDO-SE A LATERAL DO MUSEU DARRAS NOYA E A MATRIZ DA CIDADE. (FOTO: ACERVO/ B. CHAGAS).

 


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