quarta-feira, 28 de abril de 2021

 

SANTANA – ÁGUAS BELAS

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.522


 

Quando o interventor Pedro Gaia, vindo de Palmeira dos Índios, assumiu a prefeitura de Santana do Ipanema, aconteceu no mesmo dia a morte de Lampião e Maria Bonita. A gestão de Pedro Gaia foi curta, mas profícua. Entre outras coisas reformou a prédio da prefeitura e que só foi reformada novamente no governo Isnaldo Bulhões, década de 80. Porém, importante mesmo foi a abertura de uma estrada que ligou Santana à cidade pernambucana e fronteiriça de Águas Belas. Um verdadeiro marco econômico, turístico e fraterno entre esses dois núcleos que sempre se respeitaram e se confraternizaram desde os primórdios. Normalmente para se chegar a Águas Belas, o santanense vai pela BR-316, até o entroncamento Carié, município de Canapi e dali continuará seguindo direto a Pernambuco. Arrodeio enorme.

Santana – Água Belas pelo atalho de Pedro Gaia – ainda estrada de terra – é apenas um pulo. A pavimentação asfáltica teria duas opções em Alagoas, uma diretamente pelo povoado São Félix e sítios com Baixio, Imburana do Bicho, Camonga, Gravatá, Poço d’’Anta e vários outros antes e depois de São Félix. A segunda opção teria no roteiro, os sítios Barroso, Água Fria, Salgado, Camoxinga dos Teodósio, Pinhãozeiro e Malembá, puxando um ramal para o povoado São Félix. Esta opção pega boa parte da região serrana de Santana do Ipanema.

O integração em asfalto, já foi cogitada antes, ficou, porém, no campo das ideias. Naturalmente precisaria interesse dos dois prefeitos em questão, além do apoio dos governadores dos estados envolvidos. Um novo leque de progresso se estenderia na região beneficiando os dois municípios em todas as áreas: Economia, turismos, saúde, educação, Comércio e prestação de serviços em geral. O movimento de Águas Belas é para a distante Garanhuns e que poderia reparti-lo com a praça de Santana do Ipanema. O futebol entre os dois núcleos, deixou as portas escancaradas para mais esse futuro intercâmbio que se não acontecer hoje será amanhã.  A propósito, ambas às cidades são banhadas pelo rio Ipanema e sempre se ouviu dizer no passado: “Águas Belas e Santana são irmãs”.

Talvez esteja faltando apenas um cacique do lado de cá e um pajé do lado de lá com a boa-vontade no meio.

PREFEITURA DE SANTANA, REFORMADA EM 1986 (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 

 

 

 


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terça-feira, 27 de abril de 2021

 

MULUNGU

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.521


 

Cheguei bem perto do jogo, mas nada entendia de lances do tabuleiro. Apenas ficava de boca aberta contemplando aquelas sementes grandes, vermelhas vivas, envernizadas pela Natureza. Os jogos da tarde aconteciam na calçada, defronte a entrada do Hotel Central, bem no centro do Comércio. Dizia o ditado sertanejo que “jogo de velho ´é gamão”. E estavam sempre ali o dono de farmácia Cariolando Amaral, o Seu Carola (ô) e seus parceiros diante do tabuleiro de madeira, copinhos de sola, sementes de mulungu, aproveitando a sombra do “sobrado da esquina”. Carola, o único homem de Santana que usava cotidianamente gravata borboleta, comercializava no “prédio do meio da rua”, parecia um galego alemão muito sisudo. Era atração na sua farmácia, o busto de um negro lustroso e fortão, envergando uma barra de aço. Representava o efeito do remédio da propaganda. Quando foi demolido o “prédio do meio da rua”, Cariolando passou a negociar em um dos compartimentos do térreo do “casarão da esquina”, mas Seu Carola continuou desafiando concorrentes do gamão.

Aquele homem tão sério se esbaldava nos carnavais de Santana, trocando incrivelmente o tabuleiro pelo reino de Momo.

Catávamos aquelas sementes maravilhosas no mato, quando as árvores mulungus despejavam-nas no solo colorindo a poeira cinza das capoeiras. Para que servia a semente além do jogo de gamão? Não sabíamos, apenas brincávamos com elas aproveitando o capricho da flora sertaneja.

A árvore mulungu (Erythrina mulungu) pode atingir até vinte metros de altura, é medicinal, usada como calmante. Sua madeira é muito leve e boia na água. Seus pedaços trazidos pelas cheias, serviam para o aprendizado da natação no rio Ipanema. A madeira ficava enganchada nas pedras, sendo aproveitada pelos banhistas.

Infelizmente muitas dessas árvores tão simpáticas, ainda são vítimas dos machados clandestinos, com punições zero.

As sementes de mulungu, pela beleza continuam encantando meninos e adultos.

Após Cariolando Amaral, desapareceram definitivamente os jogos de gamão em nosso município.

A diversão dos idosos agora é um celular que une os estranhos de longe e separa a família de perto.

TÍPICO MULUNGU SERTANEJO (CRÉDITO: PINTEREST).

 

 


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