segunda-feira, 3 de maio de 2021

 

 

LENDA NO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de maio de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.525


 

Enquanto a polícia faz a Operação Curupira, lembramos da Caipora sertaneja. É isso mesmo, Caipora e não Caapora, cantada e recantada por roceiros de todo o nosso país, principalmente pelos caçadores. A lenda da Caipora é sempre ligada à do Curupira, ambas com vasta literatura no Brasil. Os mais velhos sempre afirmaram que a caipora existe, sendo um ser encantado que tem como missão proteger os animais selvagens que habitam as matas. Sua aparência aos olhos humanos, depende da imaginação regional, mas a essência é sempre a mesma em todos os lugares: Caipora é um espírito protetor dos animais da floresta. No Sertão, suas ações são contadas em rodas de pessoas que ficam de queixo caído, quando narradas por caçadores que viveram a experiência inusitada.

Ao entrar na mata sem permissão, o caçador vê seus cães latindo, correndo e gritando apavorados pelo mato: caim, caim, caim... Estão sendo surrados impiedosamente pela Caipora. O caçador trata logo de se retirar. Outras vezes o invasor não consegue localizar uma caça sequer, parecendo que todos os animais estão rigorosamente escondidos. Acontece também de o caçador presenciar coisas estranhas e não conseguir matar nenhum animal além de uma cota mínima. Nunca ouvimos relatos que alguém tenha visto de frente a Caipora para descrever a sua aparência, todavia, sua presença é muita sentida na pele.

Mas, como qualquer mortal, os encantados também gostam de um agrado, segundo fala a tradição sertaneja. O caçador experiente adentra à mata levando fumo de rolo no bornal. Chega a uma árvore boa de entrega, daquelas que se bifurcam no tronco, faz a sua oferenda a Caipora e pede licença para caçar. Às vezes também leva sal. Mas, mesmo assim ainda existe a dúvida se a Caipora aceita ou não a oferenda e se consente sua caçada. O caçador sabe se ela aceitou ou não.

Histórias de Caiporas sempre estiveram presentes no vale do Rio Ipanema e nas caatingas de relevo plano da nossa terra.

Como não sentir orgulho em ser nordestino!

  CAIPORAS E CÃES (Crédito: pt.wikipédia.org)


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domingo, 2 de maio de 2021

 

RUA DA PRAIA, SUA TRAJETÓRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de maio de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.524


 

Parece estranho uma rua do Sertão com nome Rua da Praia. Mas ela existe sim, na cidade de Santana do Ipanema. Vamos aos primórdios. Com a grande cheia do rio Ipanema, em 1941, e outras menores, formou-se à sua margem direita, defronte a famosa Pedra do Sapo, um banco de areia grossa com as dimensões de um campo de futebol. Era ali ao lado da passagem molhada, cuja estrada leva a Olho d’Água das Flores. Anos e anos a fio, não nascia sequer um pé de mato, devido a salinidade.  Com o tempo algum esperto resolveu cercar o areal com fios de arame farpado. Muito tempo depois esse terreno pertencente ao leito do rio Ipanema, teve como dono o, então, senhor conhecido como Otávio Marchante, considerado torcedor número 1 do Ipanema futebol Clube.

O cidadão apontado como Seu Euclides, morava numa casinha entre o areal do rio e um longo túnel de aveloz que se iniciava no prédio da antiga Perfuratriz (já falamos sobre ela) e seguia até o primeiro beco que descia da Rua São Pedro, chamado Beco de Seu Ermírio. Pois bem, Seu Euclides comprou o areal, plantou algumas fruteiras que vingaram e cresceram. Seu Euclides, então, resolveu construir várias casinhas ao longo do antigo túnel ou para doar ou para alugar à pobreza, procedeu como o Senhor José Quirino na rua que passou a se chamar Prof. Enéas, mas ainda hoje conhecida como Rua de Zé Quirino. Pois bem, a ruazinha foi sendo povoada e crescendo com suas casas infinitamente pequenas. O próprio Seu Euclides batizou sua obra como Rua da Praia. A denominação continua até o presente momento.

Com o tempo, formou-se ali uma associação com sede de primeiro andar, igreja dedicada a N.S. de Fátima e até um campinho de futebol sofisticado, construído por um dos filhos do Seu Euclides, Luiz Euclides. O campo, vizinho ao antigo areal, ficou em lugar baixo também no leito do rio. As cheias normais o atingem.  O certo é que as últimas cheias do rio Ipanema, inundou a Rua da Praia, assim como outras que estavam no leito do rio ou no seu limiar. Grande foi o estrago. Dizem que grande parte da rua já não é mais habitada. Porém, o objetivo hoje, foi esclarecer o histórico da denominação acima.

Praia: borda marinha.

Rua da Praia (Santana): rua margem do rio Ipanema. Praia fluvial.

Ipanema enraivecido é bicho bruto.

RUA DA PRAIA E IMEDIAÇÕES APÓS A CHEIA DE MARÇO (CRÉDITO: MALTANET)

 

 

 


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