quarta-feira, 16 de junho de 2021

 

OS BOIS E OS CARROS

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.556

 

No início da segunda metade do século XX, já havia bastante caminhões, camionetas e automóveis no Sertão das Alagoas. Inclusive o automóvel táxi, chamado na época de “carro de praça” ou “carro de aluguel”. O condutor tinha o nome de “motorista de praça” ou chofer de praça. Gostava de usar boné. E o povo, que nada deixa passar, dizia: “cabra de boné ou é corno ou chofer!”. Os mais antigos motoristas de praça que conhecemos foi o senhor Mestre Abel Mecânico e seus filhos, além dos senhores conhecidos como Zé V8 e Dota (Leopoldo). Mesmo assim, os carreiros do Sertão continuavam ainda muito fortes na atividade com os carros de boi. A convivência entre o motor e o animal, nunca foi obstáculo. Em Santana do Ipanema, os carros de boi vindos da zona rural, tinham como final de linha o poço do Juá, no rio Ipanema quando seco ou com pouca água.

O carro de boi trazia a produção do campo como o milho, feijão, algodão, queijos, suínos, galináceos e muito mais, descarregava no Juá, alimentava os bovinos com ração de palma forrageira conduzida no próprio carro, enquanto despachava a mercadoria e aguardava os produtos da feira e dos armazéns para levá-los ao campo. Alguns carreiros, arriscavam a entrada na feira aos sábados para apanhar mercadorias pesadas como tonéis e latas de querosene, arame farpado, ferramentas, móveis, tecidos, pequenos animais e produção das fabriquetas da cidade. Em tempos de cheias, a espera acontecia na margem direita do rio e os canoeiros do Juá se encarregavam do vai e vem do comércio sobre as águas.

Na gestão municipal 1961-1964, o prefeito Ulisses Silva arrancou o calçamento bruto do tempo de vila e o substituiu por paralelepípedos, pedras quadriculadas e pequenas. Isso no quadro comercial da cidade. Os carreiros foram proibidos de circularem com seus carros de rodas com aros de ferro, no centro de Santana. Logo alguns carreiros passaram a usar rodas de pneus à semelhança das carroças que assim já procediam.  O golpe foi tão grande que a maioria dos carros de boi, desapareceram da cidade e Santana deixou de ser a “Terra dos carros de boi”. Nem aos sábados se encontra esse veículo de madeira em Santana, nem mesmo para uma simples foto. Entretanto, eles continuam  vivos na zona rural e surgem às centenas e milhares na procissão da padroeira e em vários desfiles em cidades circunvizinhas como Inhapi, Olivença, Poço das Trincheiras e São José da Tapera, inclusive com carros de carneiros, bodes e jumentos.

Sertão é Sertão!

ESTACIONAMENTO DE CARRO DE BOI NO POÇO DO JUÁ, RIO IPANEMA. (FOTO: LIVRO SANTANA DO IPANEMA CONTA SUA HISTÓRIA).

 


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terça-feira, 15 de junho de 2021

 

CADÊ O FEIJÃO?

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.555

 

Para homenagear o homem do campo, o produtor rural, foi criada a Festa do Feijão, em Santana do Ipanema. Tinha a participação de todos os municípios sertanejos produtores daquela leguminosa. A ideia partiu do saudoso Dr. Adelson isaac de Miranda rotariano, clube ao qual a festa passou a pertencer. A I Festa do Feijão, aconteceu em 1971, com a iniciativa do Rotary Clube em convênio com a prefeitura local e apoio do grupo Gazeta de Alagoas. Pode-se dizer que a festa foi um sucesso retumbante que abalou o Brasil inteiro. É de se notar que o ano de 1970, representou um dos mais seco da história santanense. Na época produzíamos muito feijão, Santana do Ipanema e Senador Rui Palmeira, notadamente. Contamos com 18 municípios participantes no evento.

Carros alegóricos saiam em desfile mostrando cenas diárias do campo, muitos discursos no palanque oficial sobre a Sorveteria Pinguim, no Bairro Monumento, políticos do estado todo, governador, autoridades diversas no miolo da agitação festiva. Houve bailes, concursos de misses e uma euforia nunca vista na cidade. Atraídas pela propaganda no país inteiro, quase todos os estados estavam aqui representados. A Festa do Feijão chegou a ser comparada com a Festa da Uva, no Rio Grande do Sul, sendo considerada a segunda festa do gênero.

Contudo, ninguém pensaria que a Festa do Feijão pudesse chegar ao pedestal em que chegou. Salvo engano, apenas três edições foram realizadas, pois devido a grandeza atingida, não havia condições de suportar tanta gente. Parecia até que o Brasil inteiro estava em nossa cidade. Isso em um tempo em que não havia tantos hotéis assim! As casas de morada enchiam-se de hóspedes e até se falava em organizar acampamentos. Temos a impressão de que ninguém foi culpado pela extinção da festa. Mas fica a lição de que é possível a realização de um sonho. Ninguém esperava tanto êxito apenas em três edições da festa. Foi assim que o anúncio do seu final foi um baque surdo que fez emudecer o Sertão.

Ainda bem que nunca faltou no prato o feijão nosso de cada dia.

UM DOS ASPECTOS DA FESTA DO FEIJÃO (FOTOS: SANTANA CONTA A SUA HISTÓRIA, LIVRO).

 


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