VISITANDO O MIAÍ Clerisvaldo B, Chagas, 14 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.672   Não estamos tão d...

 

VISITANDO O MIAÍ

Clerisvaldo B, Chagas, 14 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.672


 

Não estamos tão distantes da Semana Santa, tempo em que nos dá bastante vontade para mudar de ares nas belas praias do Miaí de Baixo, litoral de Coruripe. Era uma viagem longa que passava em Arapiraca, São Sebastião, Penedo, Piaçabuçu e Feliz Deserto. Não compensava sair de Santana do Ipanema para Miaí, para ficar na praia por apenas um dia. Segundo boas informações, o governo estadual encurtou a distância quando asfaltou o trecho Colônia Pindorama – Coruripe. Após Arapiraca entra-se por atalho via Usina Pindorama, uma das cooperativas mais pujantes do Brasil. Já andamos outra vez ali por aquele atalho, porém sem asfalto e por dentro de desertos canaviais. Falam que agora é apenas um pulo de Arapiraca para Miaí, fora o direito de visitar a Colônia Pindorama já em terras de Coruripe, com seus fabricos de deliciosos sucos tendo como carro-chefe o de maracujá.

O pequeno povoado litorâneo ainda é um bom refúgio para quem quer descansar, mas no Carnaval descanso no lugar é perdido, tanto no Miaí de Baixo quanto no Miaí de Cima até a Lagoa do Pau. O que sempre nos chamou atenção por ali foi a praia que faz recuar suas águas fazendo o banhista andar muito ao encontro das ondas. Vezes que não se vê viva alma nas extensas praias desertas. Os mercadinhos se encarregam de abastecer a dispensa e, a feira do peixe na sede municipal é uma delícia para quem aprecia o pescado. Ainda é possível comprar camarão em barcos pesqueiros se o turista assim o preferir. Caso a preguiça não chegue dá para conhecer a cidade de Feliz Deserto e a própria Coruripe. Muito coqueirais e comidas típicas: paraíso alagoano.

Mesmo com esse atalho pela Colônia Pindorama, era muito bom rever os casarões e a orla de Penedo, cidade extremamente limpa e turística. A movimentação da cidade ensolarada de Piaçabuçu com seus barcos pesqueiros ancorados. Os infinitos coqueirais que levam até o Miaí de Baixo. O esforço de Feliz Deserto para progredir... Dunas, vegetação de beira de rio, vegetais praianos, atrações para uma boa câmera fotográfica. Geografia profunda na Foz do São Francisco, na Praia do Peba, nos desenhos dos encantadores cenários.

Alagoas, onde a felicidade mora.

“A gente faz uma latada

Cobre com paia de coco

De noite vê-se o pipoco

Da rapaziada...”

Obrigado, saudoso Jacinto Silva, forrozeiro do litoral.

  ÁGUA DO POTE Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.67   “Puxa! Seus cabelos co...

 

ÁGUA DO POTE

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.67



 

“Puxa! Seus cabelos como estão bonitos, mulher! O que você usou?”.  “Água do pote, comadre”. Quantas e quantas vezes ouvimos esses fraseados no Sertão! Será que as águas de cacimbas do rio Ipanema, tinha mesmo esse poder mágico de embelezar os cabelos? Que as caboclas sertanejas tinham lá seus truques, tinham. Óleo disso, óleo daquilo, deixavam os cabelos brilhantes para a estreia da festa de Senhora Santana. Mutamba, babosa... Mas como a água salobra das cacimbas poderiam realizar esse desejo? Seria a cacimba de lugares específicos? O enigma estaria na armazenagem da água? É até bom que a gente não saiba tudo sobre as mulheres e seus segredos. Quanto mais misteriosas, mais atraentes elas ficam.

Mas como falamos em armazenagem d’água, ainda hoje quebramos a cabeça com cisterna, tonel de plástico rígido, caixa de banheiro e outros babados. Sem água encanada em Santana do Ipanema e em todas as cidades sertanejas, usávamos a armazenagem em recipiente de barro. Para o uso do cotidiano, era o pote, a jarra e o purrão. O pote, mais leve, arredondado, tanto servia para o transporte da água, quanto para a armazenagem. As mulheres mais humildes usavam uma rodilha e pote à cabeça em procura do rio. A jarra era comprida e pesada. Ficava em local da cozinha, escorada à parede com pedras ou tijolos soltos ajudando o equilíbrio. Depois vinha o “purrão”, uma jarra muito maior que complementava na cozinha das residências mais abastadas, o trio famoso de barro que fazia feliz a dona de casa.

Todas as três peças de argila, tinham obrigatoriamente um pano na boca para servir de coador. Depois, outro pano definitivo para cobrir jarra, pote, purrão, contra poeira, insetos e rãs. Depois de algum tempo a água ficava fria e gostosa. Pessoas que gostavam de beber, na falta de geladeira colocava a cerveja no pé do pote ou dentro do recipiente. “Quem não tem cão, caça com gato”, diz o povo. É só lembrar a música de Luiz Gonzaga, onde ele pede cerveja fria do pé do pote, no forró. O Sertão não tem condições de pagar tantos favores prestado pelos seus exímios artesãos, do barro, da palha, do couro e de um sem fim de material que serviu e encantou gerações. Ainda hoje o filtro de barro brasileiro é considerado o melhor do mundo. Não falta um filtro de barro de marca São João em nossa casa.

Zero água de geladeira. E seus cabelos como estão?