terça-feira, 22 de março de 2022

 

COMENDO MOCÓ

Clerisvaldo b. Chagas, 23 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.677



Temos constantes informações na Internet sobre gente na fila do osso ou assaltando carro do lixo em busca de comida. Vemos também previsões para saques nos mercados ainda para este ano de 2022. Isso faz lembrar a seca de 1970, em Alagoas, quando a salvação dos humildes foi carne de preá e de mocó. Não se falava em meio ambiente, falava-se de fome braba que assolava o sertanejo nordestino. Assim como Deus mandou chuvas de maná para o deserto, aqui em Alagoas, surgiu uma praga de preás no campo, atacando principalmente a palma forrageira, alimento do gado. Começou, então, a chegar às feiras, ao mercado de carne, preás em balaios e sacos cheios.  Foi a salvação do sertanejo alagoano em busca de proteína. A praga de roedores matou a fome dos humildes. Aconteceu também em Pernambuco, porém, lá a praga foi combatida com veneno.

O preá e o mocó são roedores da família Cavidae. A diferença aparente é que o preá é cinza. O mocó tem a pelagem com manchas coloridas e é maior. Quem nunca viu um mocó, veja uma cobaia. O primeiro é muito comum em nosso Sertão. Está nos aceiros, na macambira, nos lajeiros, na estrada, nas roças de palma. O mocó não se encontra em todos os lugares. Gosta de terrenos abertos e habitar em pedregulhos. Ambos se alimentam de capim verde, raízes, brotos, frutos, casca de pau, gravetos... Não temos coelhos, lebres... Somente preá e mocó. Deve ser por causa da fiscalização que não encontramos mais na feira, esses animais. Mas nos sítios, para a própria refeição ninguém consegue impedir. Caso encomende, não é difícil conseguir às escondidas.

O preá e o mocó estão na parte de baixo da cadeia alimentar. O que mais possuem são predadores como cobras, gaviões carcarás e o próprio homem. Já encontramos aguardente de marca Mocó e   tipo de algodão nordestino da mesma marca. Muita gente tem aversão a esses cavídeos por eles se parecem com uma ratazana sem rabo. O sabor vai depender do modo de preparo. De qualquer maneira ambos estão protegidos por lei.

Sem preá, sem mocó, o Sertão fica sem graça.

Proteja a Natureza.

MOCÓS EM CIMA DE PEDRA (FOTO: JORGE SANTANA)

 


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segunda-feira, 21 de março de 2022

 

REVENDO O CAMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.676


 

Os barreiros representam a forma mais comum de se armazenar água nas propriedades rurais, sertanejas. É certo que existe o açude, também chamado barragem, porém, os custos particulares com um barreiro são muito menores. Ai da pequena propriedade que não possui um barreiro! Eles são formados em lugares onde existem uma excelente bacia que possa facilitar a captação d’água da chuva, até às condições financeiras do ruralista.  Pode ser feito com pequenas escavações usando-se ferramentas simples e manuais, até respeitáveis tamanhos com uso de máquinas como tratores. Nos intervalos das chuvaradas, são limpos e desassoreado para renovar as águas. Seu uso vai para matar a sede dos humanos, do criatório, do gasto da casa e para lavar roupa. Geralmente as mulheres conservam uma ou mais pedras chatas e cuias de cabaças na beira do barreiro para a lavagem de roupa.

O barreiro não aguenta uma estiagem longa. Mesmo assim, terá cumprido o seu papel depois de cheio. Hoje em dia, os governos municipais ajudam na limpeza periódica, contribuindo na tradição da armazenagem. Ilustramos abaixo com um barreiro seco na Reserva Tocaia, em Santana do Ipanema. Suas águas e a das imediações formam o riacho Salgadinho de pequeno percurso até despejar no rio Ipanema. Parece insignificante, mas já deu muito trabalho e interditou a estrada. É o riacho Salgadinho que divide os bairros da Floresta e Domingos Acácio. Aperreou tanto que ganhou uma ponte em uma das administrações do prefeito Adeildo Nepomuceno e que foi alargada pelo gestor Isnaldo Bulhões. Sua foz encontra-se no famoso Poço do Juá, a maior largura do Ipanema em trecho urbano.

Não confundir o bravo riacho Salgadinho, também chamado Joel Marques, com o riacho Salobinho. Ambas as denominações indicam água salgada, porém, o Salobinho nasce nas imediações do povoado Alto do Tamanduá, cruza a BR-316, banha o sítio rural Salobinho e despeja ao lado do antigo matadouro municipal, um tranquilo afluente do rio Ipanema. O barreiro tanto pode formar nascente de riacho quanto pode ser abastecido por ele. Algumas residências já dispõem de filtro de barro no uso da água do barreiro. É esse o Sertão que eu conheço.

BARREIRO SECO AGUARDANDO LIMPEZA E ÁGUA CORRENTE. RESERVA TOCAIA. (FOTO: B. CHAGAS).

 


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